Amanhãs que piam

No próximo fim-de-semana celebra-se em Portugal o 47º aniversário da revolução que derrubou o regime autoritário do Estado Novo. Celebra-se a democracia e a liberdade, sem esquecer que depois desse dia, muitos desejaram para Portugal um futuro que o assemelhasse à Polónia, à Hungria, ou à Albânia dessa época. Curiosamente, tantos anos volvidos, e volta a haver gente que gostaria de ver o país governado da mesma forma que a Polónia, a Hungria ou a Albânia contemporâneas.

É curioso olhar para o panorama político e mediático português, que saúda o centenário do PCP com a nostalgia de um futuro radiante que nunca chegou, ou que olha para o regime cubano com uma benevolência que muitas vezes as democracias liberais não lhe merecem. Ao mesmo tempo, é muito educativo sentir ao vivo a memória lituana sobre o socialismo real e a ocupação soviética, que não deixou nenhumas saudades, mas apenas memórias de pobreza, perseguições e deportações.

A propósito das consequências do 25 de Abril, é interessante olhar para a Europa central e de leste, onde a palavra descolonização tem um entendimento diferente do que se teve em Portugal em 1974 e 1975. No sul da Lituânia, por exemplo, 50% da população residente no município que circunda a cidade de Vilnius usa polaco como língua materna, e no município da cidade, os russos são 12% da população. Talvez não seja difícil imaginar o que se teria dito se, depois da ocupação polaca do sul do país (Vilnius incluída) entre as duas guerras e com o fim da sovietização, a Lituânia independente tivesse decidido expulsar as vastas minorias polacas e russas que restaram no Sul do seu território.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

** Nuno Amaral Jerónimo está em Vilnius a convite da Vilnius Tech University

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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