O papel da alimentação na prevenção da doença e na promoção da saúde, através do suprimento de energia e nutrientes que, estando ajustados às necessidades individuais, não só previnem doenças como também promovem bem-estar e um envelhecimento mais saudável e com menor grau de declínio físico e cognitivo, já está bem documentado e não deixa para lugar para dúvidas. Então, porque é que uma visita ao nutricionista leva imediatamente à ideia de “problemas de peso”?
Embora já seja frequente a procura de um nutricionista por outros motivos de saúde que não o ganho ou a perda de peso, a realidade é que a maioria só procura ajuda quando o peso excessivo se torna um problema. Mas, como se pode constatar no atual panorama das redes sociais e comunicação social, o tema da alimentação com fins de prevenção da doença e promoção da saúde é amplamente abordado e discutido por pessoas que raramente têm formação académica específica na área, fruto do crescente interesse manifestado pela população em geral.
Talvez porque a alimentação faça parte da identidade cultural e pertença social, talvez porque se reconhece o papel que desempenha na saúde que ambicionamos manter, e que está ao nosso alcance alterar, são muitos os modelos alimentares amplamente divulgados que defendem a prevenção de doenças e promoção da saúde e longevidade, mas muitos deles baseados em pressupostos dificilmente comprováveis e nem sempre com base científica sólida.
A desvalorização do conhecimento acumulado dos nossos antepassados, a comercialização de alimentos em larga escala e globalização de práticas alimentares – que promoveram o conhecimento sobre outros hábitos alimentares – e a enorme quantidade de informação facilmente acessível, têm contribuído para o “ruído” e confusões que se têm criado sobre algo tão básico como a alimentação saudável. A mistura de alimentos de diferentes proveniências do mundo, mesmo que lhe sejam reconhecidas propriedades de excelência nutricional, não resulta necessariamente num modelo alimentar superior na promoção da saúde.
A Roda dos Alimentos portuguesa teve por base os conhecimentos científicos mais recentes sobre alimentação promotora de saúde, que de uma forma fisiologicamente mais eficiente fornece a quantidade adequada de todos os nutrientes ao organismo. Sim… é possível a omissão de alimentos específicos, como o leite, carnes vermelhas, cereais ricos em glúten, etc, sem qualquer prejuízo nutricional, desde que se consumam alimentos equivalentes do mesmo grupo; já a omissão de um grupo em particular pode trazer desequilíbrio nutricional, que nem mesmo o recurso a “alimentos alternativos” pode totalmente colmatar as deficiências nutricionais resultantes dessa omissão.
O aconselhamento isento, imparcial e cientificamente validado só é conseguido através de profissionais devidamente habilitados, devendo o nutricionista ser o ponto de partida de quem pretende melhorar os seus hábitos alimentares com vista à obtenção de mais saúde.
* Nutricionista no Hospital CUF Viseu
N.R.: Esta secção é uma colaboração mensal do Hospital CUF Viseu, na qual os seus profissionais partilham conselhos e dão dicas sobre saúde.