Alexandre del Valle

Escrito por Diogo Cabrita

“Estas abusivas interpretações e leituras da história estão para mais carregadas da descontextualização do acontecimento.”

O escritor e jornalista francês escreveu, em 2020, um livro contundente, em contraciclo da informação veiculada pela moda, pela conceptualização de uma sociedade deprimida como se fosse herdeira dos crimes do seu passado. Analisa o importante pensamento de István Bibó (1911-1979), que tinha documentado as sociedades «histéricas», carregadas da desmoralização, cheias do ódio do Outro, e muitas com ódio de si próprias. Recentemente, um bacoco dirigente do PS era o arauto destas subtilezas depressivas da portugalidade, como se devêssemos ter vergonha do passado, ou carregar os pecados dos antepassados que nem poderíamos nomear. Estas abusivas interpretações e leituras da história estão para mais carregadas da descontextualização do acontecimento. Muitas vezes estão eivadas de imprecisão, de viés de leitura, de condenações ideológicas fora de toda a realidade e estudo profundo dos números. Alexandre del Valle documenta no seu livro “O complexo ocidental”, da Casa das Letras, muitos destes mitos fundadores do politicamente correto explicando a transversalidade da escravatura, a transversalidade da barbárie humana, a democratização dos factos maus e bons por todos os povos dependentes do seu grau de hegemonia em determinado momento sobre os outros. Os escravos eslavos dos otomanos duraram centenas de anos, a violência sobre os cristãos e judeus na Al-Andaluz foi uma perseguição de séculos. Alexandre del Valle transporta-nos aos textos dos estudiosos que explicam como a Inquisição não foi toda igual e não causou a barbárie que se pinta em modo semelhante na Europa toda. O aterrorizador Torquemada não pode ser a janela de observação única de uma época. Estas construções de raciocínio são hoje do agrado de uns construtores de pensamento único que reduzem a opinião contrária à menoridade e ao círculo do insulto. Não poderemos estar de acordo com todo o livro, mas ele é um contributo para a perceção do nacionalismo e do valor identitário das nações «desculpabilizadas». Reparem que, dos anos 50 aos anos 80, o ensino na Alemanha era de apoucamento constante da importância histórica do país em prol da hiperbolização do holocausto. Os crimes existiram! A barbárie existiu! Penalizar a sua existência futura e impedir o seu aparecimento é um dever das instituições que garantem a liberdade. O refúgio último dos filhos é a casa dos seus pais e há distopia se se envergonham deles ou se os menosprezaram toda a vida. Este discurso vale o mesmo para o conceito de portugalidade.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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