Alan Turing – parte II

Escrito por António Costa

Durante a Segunda Guerra Mundial, Turing foi reclamado em Inglaterra para trabalhar como criptógrafo em Bletchely Park, o centro nevrálgico onde as mentes mais dotadas dos serviços secretos britânicos procuravam decifrar os códigos secretos da Alemanha. O trabalho de Turing centrou-se no sistema “Enigma”, que era utilizado para as comunicações entre os submarinos alemães e as bases em terra firme.

Depois dos analistas polacos terem conseguido compreender o funcionamento do “Enigma” antes da guerra, os alemães acrescentaram um nível de complexidade ao seu sistema, com o qual o tornaram praticamente indecifrável. Graças ao trabalho de Turing, o código “Enigma” foi decifrado e esse resultado teve uma importância decisiva no curso geral do conflito.

Uma vez finalizada a guerra, Turing foi condecorado com a Ordem do Império, embora o seu efetivo papel na descodificação dos códigos alemães só tenha sido revelado muito mais tarde, pois estava classificada como segredo de Estado. Na segunda metade dos anos 40, Turing transferiu-se para a Universidade de Manchester para trabalhar na elaboração de computadores reais; também começou a dedicar-se ao estudo da inteligência artificial, estabelecendo o denominado Teste de Turing como critério para a definição de uma máquina inteligente artificial. Em suma, uma máquina deve ser considerada inteligente quando o seu comportamento num teste de perguntas e respostas for indistinguível do comportamento do ser humano.

Nos anos 50 o talento de Turing foi manchado por assuntos que nada tinham que ver com o cientista. Em 1951, a polícia descobriu que o matemático tinha um romance com um rapaz de 19 anos, Arnold Murray. Naquele tempo, a homossexualidade era, segundo a lei inglesa, um delito. Foi o próprio Turing que confessou de uma forma muito ingénua a sua preferência sexual à polícia, depois de um amigo de Murray lhe ter assaltado a casa.

O juiz não decidiu pela prisão de Turing, mas condenou-o a um tratamento hormonal para reprimir os seus impulsos sexuais (naquela época, acreditava-se que a homossexualidade se curava com hormonas femininas). Ao tratamento hormonal somou-se a pressão das autoridades, receosas que Turing pudesse tentar procurar os seus pares sexuais no estrangeiro, colocando assim em perigo a segurança dos segredos de Estado dos quais tinha estado ao corrente durante a guerra.

Apesar de tudo isto, a produção científica de Turing nunca foi interrompida e nos primeiros anos da década de 1950 dedicou-se a uma nova área de investigação: a biologia matemática e, concretamente, a morfogénese, que estuda os processos que fazem com que os organismos biológicos desenvolvam determinadas formas e estruturas. Lamentavelmente, tudo isto não impediu que Turing caísse numa grave depressão e que a, 7 de junho de 1954, cometesse suicídio ingerindo uma maçã envenenada, tal como vira anos antes numa cena do filme de animação “Branca de Neve que o impressionara fortemente.

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António Costa

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