Ai temor, se outros falam, batemos nós

“Noutras paragens, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia continua a não reconhecer uma invasão da Ucrânia, mas exige que as forças ucranianas parem de combater. “

Escrevo este texto sem saber o que nos reserva o futuro, mas sem grande esperança de um resultado satisfatório. Temos todos a sensação de estar dependentes das decisões de um homem que não gosta de ser contrariado, que se irrita quando a realidade não coincide com a sua retórica, e que mantém os seus concidadãos de boca tapada, ameaçando com repressão policial quem desafie a sua autoridade – e mesmo assim, mantém uma enorme popularidade junto do povo, que aceita todas as justificações do líder sobre a guerra que encetou. Falo, como o leitor evidentemente já percebeu, do nosso primeiro-ministro, da apresentação do novo Governo e da obsessão em manter os portugueses de mascarilha nas ventas nessa batalha infinita contra o vírus.
Noutras paragens, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia continua a não reconhecer uma invasão da Ucrânia, mas exige que as forças ucranianas parem de combater. Como não há invasão, também não há guerra. Quer dizer, há, mas não é na Ucrânia. Guerra, dizem os russos, são as sanções económicas. Destruir maternidades e escolas são actos defensivos contra nazis ucranianos, porque de pequenino se torce o bigodinho. Mas, segundo os russos, quem as bombardeia são os nazis ucranianos. E acrescentam que se há guerra, ela está a acontecer para que não haja uma guerra. Até porque o filho da Putina já ameaçou várias vezes que, se alguém mexe uma palha para acabar com esta guerra, a Rússia começa uma guerra. Entretanto, e apesar de não estar a invadir, o exército russo exigiu que a cidade ucraniana de Mariupol lhe fosse entregue, depois de os pacifistas do Z a terem totalmente destruído a golpes de artilharia. Se eu fosse o presidente da Câmara, ia ter com o chefe da tropa russa oferecia-lhe uma vassoura e dizia: “Toma, podes começar a limpar”.
Horrendo tem sido o comportamento desumano de todos aqueles que têm participado em actos inomináveis de destruição sem dó nem piedade – nomeadamente, os comentários no Instagram e no Facebook sobre o presidente da Rússia e os seus acólitos. Felizmente, a diplomacia russa queixou-se e as atrocidades pararam. Porque uma coisa é deitar abaixo um teatro com mulheres e crianças. Pior, muito pior é deitar abaixo uma pessoa com palavras feias nas redes sociais.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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