A “beauty fair”, em pleno agosto, acontece um pouco por todo lado. Desde a aldeia mais recôndita do país até ao maior aglomerado populacional dos reinos da Dinamarca, tudo é calor, festa e alegria.
1 – 8 de agosto. Palco montado no Arco de Triunfo, em Barcelona, onde tive oportunidade de ver a maior encenação política dos últimos tempos. O líder do Junts pela Catalunha, o fugitivo Carles Puigdemont, depois de lhe terem sido retiradas as acusações de rebelião e sedição, fruto das alterações introduzidas no Código Penal e na malfadada lei da amnistia (apenas está acusado de peculato por uso de dinheiros públicos na organização do referendo ilegal), entrou em Espanha como quis e bem lhe apeteceu, discursou, pisgou-se novamente (muito provavelmente com a conivência das autoridades civis, policiais e a passividade dos serviços secretos), onde está inerente o chico-espertismo do poder politico espanhol. Deu jeito a Pedro Sanchez que assim fosse, pois coloca o seu companheiro Salvador Illa, divide os independentistas no Parlamento Catalão, terminando desta forma com catorze anos consecutivos de independentistas na Generalitat, mas isso não o livra de dar aquela imagem ridícula da justiça, que mais parece refém do poder político, numa leitura próxima à ugandesa no tempo de Idi Amin Dada.
2 – Na primeira pessoa vou contar o susto que apanhei na madrugada de segunda-feira, 26 de agosto. Estava em casa em Lisboa, acordei completamente assarapantado e meio ensonado. Tive inicialmente a perceção que estava a passar o elétrico, mas… não era o 28. Nesta pequenina fração de segundo percebi que a casa estava a tremer. Balouçou como se fosse um barco e, perdoem-me a inconfidência, apoderou-se de mim um medo terrível. Tive a sensação que o teto iria desabar e os meus dias estavam mesmo contados. Foram cinco segundos que pareceram minutos e, depois disto, com toda a calma e serenidade, caí na realidade do dia-a-dia e a reflexão impõe-se:
estamos numa zona sísmica. Tivemos o terramoto de 1755 que dizimou Lisboa, mudando por completo a história do nosso país e da Europa. Felizmente que desde 1980 existe legislação que obriga à construção de edifícios com a componente isolamento base contra sismos. A certificação de segurança só pode existir responsabilizando quem constrói e na fase de construção tem de haver fiscalização de acordo com a legislação vigente e, as perguntas colocam-se: Está ser cumprida?
Quantos municípios têm planos especiais de emergência sísmica, permitindo aos cidadãos saber quais e onde são as zonas de concentração ou para onde se devem dirigir em caso de terramoto?
Os comportamentos e os simulacros devem fazer parte do programa escolar e da sociedade em geral. Se o prevenir vale mais que o remediar, melhor será não nos lembrarmos apenas da bendita Santa Bárbara quando ouvimos os trovões.
3 – Setembro vai ser recheado de factos políticos que apontam para um final de 2024 e um 2025 repleto de fortes apostas (autárquicas, nomes para as Presidenciais e, quiçá, eleições legislativas).
Comecemos então pelo escarro que a democracia deixou parir. Aqui mesmo ao lado, em Viseu, de 13 a 15 deste mês vamos ouvir uma série de baboseiras no encontro designado por “Academia da Política”. Vamos perceber que querem fazer um referendo acerca da emigração pois os 50 deputados não conseguem fazer passar as estapafúrdias e estupidas propostas na casa da democracia.
A Iniciativa Liberal iniciou o ciclo na Quarteira e o líder, Rocha, ao que parece, tem, em janeiro, o Mayan à perna e a pergunta é inevitável: se não é uma questão de protagonismo, então é o quê? Afinal, o princípio liberal não é precisamente o mesmo, esteja lá um ou outro: o que é privado é bom. O que é público é mau.
O CDS vai realizar um fórum para mobilizar militantes e simpatizantes. Só isso. Depois de regressarem ao Parlamento, querem mostrar que ainda estão vivos. Para tanto lá vão estar as estrelas Portas, Cristas, Monteiros e Cª Ldª.
O laranjal, logo após a festa do Pontal e da Universidade de Verão, sem ouvirem nada nem ninguém, tiraram da cartola o nome de Maria Luís Albuquerque (tecnicamente, dizem-me que sabe o que faz), politicamente, quer se goste quer não, a senhora fez todos os favores políticos aos proxenetas da “troika”. Habituada como está a colocar-nos a passar fome, pode muito bem ser que aplique a mesma receita aos europeus e nos obrigue a fazer mais um furo no cinto. Ao mesmo tempo, o PSD, extemporaneamente, lança o debate das Presidenciais, atira para o ar uma série de nomes com destaque para Leonor. Camões avisa: «Descalça vai Leonor pela verdura, vai formosa e não segura» e a pergunta fica no ar: por acaso não anda tudo por lá em reboliço? Vejam lá se o Marques Mendes não se antecipa, como fez em tempos Jorge Sampaio.
O PS terminou a Academia Socialista com um aviso «não contem com o PS para o retrocesso económico, social e cultural» e sem sabermos qual a posição rosa na votação do Orçamento. Já o PC trará novidades no próximo fim-de-semana na Festa do Avante, enquanto o Bloco, em Braga, no seu Fórum Socialista dirá que vai votar contra tudo o que venha da direita. Resta falar no PAN que, em Gaia, apresentará a proposta de um referendo sobre a abolição das touradas tendo em conta o bem-estar animal a que soma temas como o ambiente e direitos humanos. Por último, o Livre, em Ílhavo, no encontro dos “Setembristas” irá defender propostas de uma esquerda considerada diferente, inteligente e com ideias.
A cozinha está pronta, os ingredientes estão nos tachos e o fogão pronto a funcionar. Esperamos para ver como vai ser o novo ano político. De uma coisa tenho a certeza: que a partir de agora muita água vai correr debaixo das várias pontes e muitos nomes de pretensos atores, uns mais conhecidos que outros, uns já certos, outros incertos, outros assim-assim e ainda outros que irão ser queimados em lume brando. Todos eles aparecerão à tona da água. Pois é… Vai ser bonito de se ver… Coisas da vida… Coisas da política.
Assim vai o mundo. Assim vai a nossa santa terrinha.
Agosto em Beleza, setembro em festa de cosmética
“Os comportamentos e os simulacros devem fazer parte do programa escolar e da sociedade em geral. Se o prevenir vale mais que o remediar, melhor será não nos lembrarmos apenas da bendita Santa Bárbara quando ouvimos os trovões.”