Quem se der ao trabalho de ler a notícia do jornal “O Observador” de 14-09-2021, saída em plena campanha eleitoral autárquica e da qual, em rodapé, se reproduz o respectivo link1, facilmente nos apercebemos que o atual senhor presidente da Câmara, à data apenas candidato, afirmava que o programa eleitoral do movimento por si liderado, era uma bandeira estratégica para a Guarda, sendo, nas suas palavras, fruto «da dedicação e do trabalho de uma equipa que ouviu os guardenses das mais variadas áreas e que pensou o futuro da Guarda para o horizonte 2040».
Curiosamente e como se de um facto completamente novo se tratasse, em 24 de fevereiro do corrente ano, arrancou na freguesia do Adão uma iniciativa que tem por designação “Agenda Estratégica Guarda 2040” cujo objectivo se traduz na construção da estratégia da Guarda para esse horizonte temporal.
Daqui resulta à evidência que o autarca da Guarda em funções tem uma relação complicada com a verdade, ou melhor dizendo, a verdade anda atrás dele, mas ele corre mais do que ela!
Das duas uma: Ou abusou da boa fé e credulidade dos guardenses quando disse em plena campanha eleitoral que tinha uma estratégia para a Guarda, ou então, quer fazer dos seus eleitores tolos ou lorpas no momento actual, ao propor algo que supostamente já tinha sido equacionado no passado recente. No entanto, a verdade talvez seja mais tenebrosa, pois muito provavelmente essa estratégia nunca existiu e jamais existirá, pois aquilo que se afigura são 43 dias de campanha eleitoral activa nas freguesias do concelho, patrocinada pelo erário público, ou melhor dizendo, com o dinheiro dos nossos impostos.
Segundo um órgão de comunicação social do concelho, acessível no link em rodapé2, «esta agenda 2040 poderia ser elaborada por uma qualquer empresa externa contratada para o efeito pelos próprios serviços municipais mas este executivo optou por uma metodologia de convidar todos os munícipes e todas as instituições, todas as empresas do concelho a participarem com as suas opiniões com as suas sugestões, com as suas críticas», citando palavras do senhor presidente.
Facilmente se pode depreender que em algo tão importante como é a estratégia da Guarda para o futuro, numa altura em que a geo-política sofre mutações que alterarão de forma profunda o actual “status quo” mundial, em que a inteligência artificial começa a ser usada como ferramenta diária e em que até bancos suíços começam a falir, este presidente prescinde do conhecimento de quem sabe, em detrimento de uns bitaites, que todos nós, cidadãos da Guarda podemos e devemos dizer.
Quero lembrar que em 1994, encontrando-se Portugal num momento decisivo da sua história, o governo do PSD pela pessoa de Luís Mira Amaral, à data ministro da Indústria e Energia, resolveu contratar Michael Porter, professor em Harvard e um dos maiores vultos da área da estratégia, para fazer um estudo prospectivo sobre a competitividade da economia portuguesa. Muitas das ideias e sugestões dadas nessa altura foram os alicerces para que, hoje, grandes “clusters” como o do calçado ou dos vinhos, entre outros, tenham uma enorme expressão e contribuam fortemente para as exportações portuguesas.
Como tal, deveria ser o IPG o parceiro privilegiado para fazer este estudo, pois para além de conhecer o território em pormenor e profundidade, possui um conjunto significativo de investigadores que poderiam aportar ideias e sugestões muito válidas, assentes na verdade científica e não no conhecimento empírico do eleitor anónimo.
Triste sorte a da Guarda com visões tão reduzidas!
* O autor escreve ao abrigo dos antigos critériosortográficos.
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1 Independente Sérgio Costa tem programa para futuro da Guarda com oito grandes eixos – Observador
2 Agenda Estratégica 2040 teve início na freguesia de Adão – Jornal A Guarda