Aeroporto da Guarda

Há 20 anos a ideia de construir um aeroporto na Beira Interior fazia parte do imaginário coletivo e estava entre as promessas partidárias – mais do que os aeroportos, só mesmo a criação de universidades (Álvaro Amaro prometeu uma universidade para a Guarda no temAeroporto da Guardapo de Cavaco Silva e depois prometeu outra para Gouveia quando se candidatou à autarquia local e mesmo depois de eleito. Nunca se criou nenhuma). Houve um aeródromo na Covilhã, que chegou a ter linhas aéreas regionais com ligações para Lisboa, Bragança ou Portimão – a Câmara cedeu os terrenos à PT para lá instalar um data center. Carlos Pinto tinha então a ideia faraónica de construir um aeroporto internacional em Terlamonte para servir todo o interior. Como é evidente, a Europa por vezes anda sem norte, mas em Bruxelas não são doidinhos. A Covilhã ficou sem aeroporto, mas não perdeu tudo: a Altice tem no centro de dados umas dezenas de trabalhadores.

Ana Manso, que foi deputada do PSD e candidata à Câmara da Guarda em 2001 e 2005, defendia então um aeroporto para a Guarda. Qual Don Quixote contra moinhos de vento, a antiga deputada lutou abnegadamente (e quase sempre sozinha) pelos projetos mais esdrúxulos, mas neste caso contou com a colaboração do então presidente da Câmara de Almeida, que contratou estudos e projetos para a construção de um aeroporto regional no Alto de Leomil (onde houve uma pista de terra batida em tempos de guerra). O assunto mereceu grande discussão, mas morreu por absurdo.

Antes houve outros projetos. Desde a construção do aeroporto para servir o hotel termal das Águas Radium (entre Sortelha e Caria) ao aeródromo em Gaia/Gonçalo para transportar turistas para o campo de golfe do hotel projetado por Frank Ghery, o Cegonha Negra Golf Resort & SPA e o Museu da Draga (sim! e a Câmara da Guarda, então presidida por Joaquim Valente, fazia parte do consórcio e o então autarca até esteve em 2011 em Los Angeles para patrocinar a assinatura do contrato. E foi um projeto “PIN” que José Sócrates promoveu a projeto estratégico de grande interesse nacional). Estes, como outros, morreram na cruz da idiotice e, sem deixar rasto, desapareceram (depois de muito dinheiro público gasto em estudos, projetos e consultorias) e sem que ninguém pedisse responsabilidades.

Há cinco anos, já com as comunidades intermunicipais artificialmente a promoverem uma união regional que tarda em agregar, os autarcas da Covilhã e Fundão despertaram para este “velho” desiderato e, em 2016, convenceram os demais autarcas da CIMBSE a recuperarem o projeto e candidatarem ao Portugal2020 a construção do novo aeroporto da Covilhã. Mas se na CIM não conseguem perceber que as casas da região não têm qualidade habitacional e não conseguem promover o isolamento térmico das habitações mais frias da Europa, como poderiam aventurar-se na utopia de um aeroporto? Se nesta região não se consegue limpar e pavimentar o aeródromo para avionetas de socorro ou meios aéreos de combate a incêndios em Seia, como podemos ter o ensejo e ousar querer ter uma aeroestrutura de média dimensão?

Perante a nacionalização da TAP (o senhor Pedrosa continua a ser sócio sem lá meter um tostão; o senhor Neelman, que era o único que sabia do negócio, saiu ganhando 50 milhões de euros vendendo uma parte de uma empresa falida; a TAP continuou a dar milhões de prejuízo quando choviam turistas e aviões em Portugal; durante os próximos anos a TAP vai custar milhões aos portugueses), e perante as explicações sobre a dimensão de negócios à volta da TAP é hora de reivindicar um aeroporto para a Guarda – com 1,2 mil milhões de euros, o concelho e a região já teriam o seu “Plano Marshall” para sair da pobreza! Com 1,2 mil milhões por ano, também a Guarda teria futuro! Com 1,2 mil milhões de euros não seria só a TAP que se poderia salvar, seria toda a região das Beiras que poderia desenvolver-se! Se a TAP precisará nos próximos anos de biliões para sobreviver e dar emprego direto e indireto a 100 mil pessoas, talvez um aeroporto na Guarda, com investimento público de 1,2 mil milhões por ano, durantes os próximos anos, também criaria milhares de empregos na região. Com 1,2 mil milhões de euros ao ano, a coesão territorial chegaria a todo o país!

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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