Por razões que não interessam ao leitor – pesquisar para uma disciplina que ensino – vi-me forçado a conhecer o mundo das redes sociais e das influenciadoras de gosto. No fundo, e ao contrário do que aconteceu com a pornografia, o meu primeiro contacto com redes sociais não foi por gosto, mas apenas por necessidade.
Para iniciar esse processo (o das redes sociais), decidi criar uma conta no Instagram. Obviamente, usei uma identidade falsa – felizmente, ninguém repara que haja mais um Corto Maltese na Internet.
Depois de adicionar umas oito dezenas de perfis sugeridos por alunos, tentei perceber o que é ser influenciador – à primeira vista é terem todos o mesmo corpo, o mesmo cabelo, os mesmos lugares de repouso, as mesmas roupas, as mesmas casas, as mesmas hashtags, as mesmas opiniões, e muitas vezes, até os mesmos noivos.
Segundo consegui apurar de uma comparação superficial das redes sociais e da pornografia, os pares românticos do Instagram estão todos em regime de noivado, enquanto os pares lúbricos do Pornhub são muitas vezes casados, mas de preferência não entre si.
Antes de visitar este ecossistema pós-moderno do Instagram, a minha dúvida era: quem é que os influenciadores influenciam? Agora entendo, depois de várias horas a olhar para fotografias de biquínis em praias desertas, de poses lânguidas em paredes beges (no Instagram, não no Pornhub): os influenciadores influenciam-se com as influências dos influenciadores.
Para os influenciadores, o importante é estar na moda. Ser cool e trend. Se soubessem o que foi a Renascença, em vez de cool, diriam sprezzatura. E trend não é só uma palavra inglesa, é abreviatura de “trem de aterragem”. São as rodinhas que usam para pousar em terra firme.
Este ano, o SARS-CoV-2 mostrou ser muito mais contagioso do que a influenza, mas com toda a certeza nunca conseguirá a mesma taxa de contágio de um influencer.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia