Abrir as janelas

Escrito por Diogo Cabrita

«No calor fecharam-se as janelas e agora, “que está ameno”, abrem-se. Pressuponho que seja a técnica árvore de Natal. A estrela que nos alumia decide e executa, sem perguntar, sem duvidar, sem temor do ridículo»

– Que levas para a escola, meu filho? – O rapaz de mala de viagem.
– Vou para as aulas, paizinho. Mas são só dez minutos a pé.
– Vais de mala?
– São cobertores, levo botija de água quente e alguns livros.
– Mas…
– As janelas estão abertas, paizinho.
– E tu Ana Rosa? Vais de mala? Que se passa?
– Eu vou para o hospital.
– Mas mudaste de hospital?
– Não. Fecharam o ar-condicionado. Agora nos salões temos uns radiadores de óleo, mas com janelas abertas, claro.
– Então?
– É por causa do sars-Cov2.
Boca aberta, imagino a cabeça de gambiarra que brilhou com esta ideia. Só pode ser a mesma que mandou fechar as janelas no Verão levando à necessidade de obras de limpeza e restauro nas enfermarias dos Covões após a primeira onda. No calor fecharam-se as janelas e agora, “que está ameno”, abrem-se.
Pressuponho que seja a técnica árvore de Natal. A estrela que nos alumia decide e executa, sem perguntar, sem duvidar, sem temor do ridículo. A gambiarra das ideias, que muda de modo a cada escolha do botão.
Um hospital Natal, cheio de gente com casacos polares, com pessoas a aquecer as mãos nos radiadores, com radiadores debaixo das mesas afinando entre as pernas.
– A Noruega vai comprar esta estratégia, meu querido. Ontem, já abriram as janelas do Hospital Universitário e acabou a Covid-19. Agora só fecham quando morrer a variante 21.
– Mas…
– Não há doentes! Não há Covid! Morreram de frio, com testes negativos! Congelamos o problema! Já se chama a via portuguesa para o sucesso. Os dinamarqueses e holandeses estão a visitar os Covões para conhecer a estratégia. Claro que com o frio que lá está quiseram mudar os fatos por EPI’s completos. Ontem havia uma delegação de escafandros em passeio nos corredores. No fim fizeram um “flash mob” para as instituições e televisões.
– Mas os doentes?
– Esses estão nos seus lençóis de pano, com aqueles pijamas de hospital e alguns cobertores. Fechados em quartos, arreando calhau na cama, usando fralda, evitando que se movam para não dispersar o sars-Cov2. Agora que as medicações não provaram suas qualidades temos de lhes dar com a frescura. O frio leva o vírus ou leva o doente. Como o frio aumenta a chegada ao hospital de idosos e doentes, vamos ficar sem vagas. Com este frio deve haver altas a pedido.
– Então e a vacina?
– Isso é espetacular – estamos com muitos jovens vacinados e os doentes que são de alto risco não. Já não pegam a doença aos jovens.
– Mas esses não morriam da doença, pois não?
– De facto jovens saudáveis nunca morreram da Covid-19.
– Ahhhh! – boca aberta, luxação da mandíbula, quase.
– Então porque vacinam jovens de uma doença que não os mata e não os idosos nos lares? Porque gastaram milhares de lotes de vacina em jovens?

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Diogo Cabrita

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