A vida de uma freguesia do interior em tempos de bazuca

A maior fragilidade de uma freguesia do interior é a desertificação que consequentemente reflete a perda acentuada de população. Os que estão alheados desta premissa ficam condenados a nunca saírem do “Portugalinho dos Pequenos”.
Existirá alguma estratégia nacional que possa combater a desertificação do interior do país? Existirá alguma bazuca apontada às zonas com maior densidade populacional que assuste as pessoas e que as faça deslocalizar para o interior? Como e onde queremos estar daqui a 5 e 10 anos? Quantas escolas ainda se manterão abertas?
O último debate eleitoral foi clarificador na descentralização ou no combate à desertificação? A verdade é que há uma bazuca que aponta há muitos anos para o interior e tem deixado as suas mazelas…
Poderá uma freguesia do nosso interior rasgar o dogma de coitadinha e libertar-se das amarras de província? Urge desbravar um caminho de identidade e autonomia que dote as freguesias pequenas do interior de características unas e próprias potenciadoras, com capacidade de atrair pessoas e empresas.
Quem é capaz de organizar festas e romarias que atraem milhares de pessoas será capaz de fazer alguma coisa para potenciar a atratividade e fixação dessas mesmas pessoas? Porque não as convidamos a ficar um pouco mais de tempo… Porque não lhes mostramos um pouco mais da freguesia… Porque não lhe dizemos que gostaríamos de as ter por cá mais vezes durante o ano… Quiçá convidá-las a ficar!
Claro que temos de ter espaço! Claro que temos que ter terrenos que possibilitem a construção, claro que temos que ter casas disponíveis para venda, estejam elas habitadas ou devolutas. É precisamente aí que terá que haver um trabalho estreito das Junta de Freguesias e dos seus habitantes de forma a identificar onde estão os bens imóveis com potencial de alienação.
Há um trabalho profícuo direcionado para a desburocratização da venda de imóveis devolutos ou habitáveis porque simplesmente há dois ou mais herdeiros que não se entendem.
Negoceie-se caso a caso, ceda-se aqui ou ali, mas explique-se à população o porquê da isenção da taxa ou o porquê do arranjo daquele muro, ou mesmo a necessidade de mais um poste de eletricidade.
Não podemos continuar à espera daquela prometida alteração do Plano Diretor Municipal, cujas dependências estão praticamente centralizadas nas Câmaras e Assembleias Municipais.
É imperativo as Juntas de Freguesias do interior serem “players” ativos e mais autónomos. Que sejam cicerones dos visitantes com potencial para aquisição de terrenos e habitações. Negoceie-se, desburocratize-se, agilize-se e explique-se às populações o que fizerem e porque o fizeram. Olhe-se para as freguesias vizinhas e identifiquem-se pontos comuns, objetivos comuns e unam-se, falem e agreguem valor.
Esta maldita desertificação não tem vacina, não tem medicamento, nem lá vai usando máscara.

Nuno Simões Almeida, Guarda

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Nuno Simões Almeida

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