Começa esta semana a vida de um dos governos da democracia portuguesa que mais condições tem, à partida, para fazer uma governação estratégica. Maioria absoluta, um primeiro-ministro com a popularidade em alta (sem que se perceba o desgaste de seis anos a negociar o dia seguinte com o PCP e o Bloco de Esquerda), recursos sem paralelo vindos de Bruxelas, nomeadamente o PRR, a chamada “bazuca”. E as contas públicas estão equilibradas como poucas vezes desde o 25 de Abril.
Pela primeira vez em muitos anos, há condições objetivas para fazer reformas estruturais que não sejam fazer cortes severos nem proceder a despedimentos, nem gastar dinheiro em investimentos cujo retorno é baixo (e, em muitos casos, inexistente). Dentro das reformas estruturais há uma que, por razões profissionais, associativas e cívicas, me diz diretamente respeito: a do Sistema de Segurança Interna.
O novo ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, é um homem com evidente peso político no Partido Socialista e com sinais dados de equilíbrio e de sensatez. Espera-se que use essas virtudes quando decidir o futuro do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Espera-se que ponha fim à vertigem destrutiva do seu antecessor, Eduardo Cabrita, e que considere os pareceres técnicos recolhidos pela Assembleia da República, os quais, em todos (TODOS) os casos, se pronunciaram contra a extinção do SEF.
A nível regional, há a registar a manutenção de Ana Mendes Godinho e de Ana Abrunhosa como ministras de áreas essenciais no Executivo. Dois anos na pasta do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social bastaram para que Ana Mendes Godinho se revelasse incontornável no período que agora se inicia. Sublinhe-se que o mérito é da ministra e não do PS da Guarda, uma vez que este agravou nos últimos anos a sua falta de sintonia com a sociedade – bem visível, aliás, nas últimas eleições para a Câmara da Guarda.
É por isso que, apesar de o PS estar em alta a nível nacional, o PS da Guarda deve considerar o seu relançamento a nível local e regional como uma prioridade. Para além de sarar feridas e de criar um ambiente de união, o PS no concelho e no distrito terá de atrair novos atores locais que tenham uma ideia estratégica para a região.
Só capacitando o partido com massa crítica, pessoas com vivência e com peso nos seus setores de atividade e visibilidade política em Lisboa, os socialistas da Guarda poderão aspirar a algo mais do que são: uma estrutura sem sucesso próprio que vive à sombra, e à boleia, de uma ministra em ascensão.
* Dirigente sindical