De acordo com os mais recentes dados do serviço netAudience da Marktest (relativo ao conjunto de endereços web auditados por aquela empresa), os sites de informação mantiveram-se como os que receberam mais visitas, com quase 17 milhões. A informação divulgada deu a conhecer que houve uma subida (3,5%) face à semana anteriormente analisada, tendo o acréscimo mais acentuado (7,4%) ocorrido nos sites de rádios. Esta nota introdutória, e na sequência do que aqui escrevemos por diversas vezes, pretende sublinhar a importância da rádio e as vantagens da sua presença na internet, com as mais valias daí decorrentes, em vários planos.
O atual panorama radiofónico, sobretudo no que concerne às emissoras locais, é – não esqueçamos – muito diferente daquele que se registava há três décadas. Em muitos concelhos a rádio local, com conteúdos produzidos no espaço geográfico para onde emitia, perdeu o seu protagonismo com a passagem para operadores/grupos de comunicação que a utilizam como mero retransmissor de programação uniforme, destinada a várias estações de radiodifusão.
Embora, na generalidade dos casos, as rádios tenham assumido um estatuto mais profissional – o que nem sempre significou melhor cobertura informativa das regiões de onde emitem – houve um decréscimo das estações nascidas sob o alvor da regulamentação do espectro radioelétrico em Portugal; isto face a condicionalismos de vária ordem, mormente da necessidade de serem afirmados projetos aferidos pelo profissionalismo e por esclarecido entendimento da função social da rádio (que em muitas situações continua a não existir). O suporte económico-financeiro foi um fator importante, sobretudo em zonas onde o tecido comercial era já tradicionalmente fraco, com reflexos na insuficiência do mercado publicitário, atualmente ainda mais reduzido.
Os projetos a nível radiofónico, como noutras áreas, não evoluem se não forem garantidas a sustentabilidade e as dinâmicas capazes de conquistarem audiências, reforçarem a qualidade dos conteúdos programáticos, aproximarem o meio rádio dos seus destinatários/interlocutores mais válidos. Os recursos humanos não são os únicos custos fixos de uma emissora, pois esta tem de contemplar outras despesas como taxas de regulação, direitos de autor, manutenção e renovação de equipamentos, energia e outros distintos serviços e encargos. Custos que acabam cor conduzir à desistência dos projetos iniciais, aligeirando programas, reduzindo o número de profissionais e colaboradores, privilegiando a automação, diminuindo os espaços informativos.
A informação, numa estação de rádio, reforça a sua presença na zona onde se insere e atribui-lhe identidade. Como têm defendido vários investigadores da área dos media, «a força do jornalismo numa emissora de rádio local é o instrumento que lhe dá a sensação de plenitude local e regional». Deste modo, a informação a que a rádio local deverá destacar é a relacionada aos acontecimentos de proximidade. Como escrevia Cebrián Herreros, «o mais importante é cobrir as notícias que os demais não dão», mesmo que menos sensacionais. Aliás será também a visibilidade informativa dada a ações, esforços e exemplo individuais ou a realidades socias, culturais e económicas dos territórios o elemento catalisador de uma relação mais profunda com o ouvinte. Este não tem a atitude e os hábitos de outrora, até pelas condicionantes técnicas e tecnológicas, e por isso a rádio tem de funcionar como interlocutor constante, oferecendo-lhe propostas sedutoras a uma fidelização regular. A rádio é um sonho e um desafio diário, magia que sobrevive ao tempo efémero do acontecimento.
Hoje, o debate em torno do perfil da rádio, na atualidade e no futuro, tem suscitado posturas diferenciadas, mas convergentes quanto à continuidade deste meio de comunicação. Para alguns investigadores deste meio, «a rádio tem de resistir à tentação de perder a sua credibilidade na concorrência diária que vive com as redes sociais». Ao mesmo tempo, sustentam, tem de ter presente a sua função informativa e o seu papel de entretenimento, que, em nossa opinião deve ter em conta as especificidades do seu auditório e setores sociais (dentro ou fora de fronteiras) de algum modo relacionados afetivamente com o concelho/região. Claro que, na atual conjuntaram económica e social se levantam múltiplas questões em torno do presente e futuro das rádios locais. Recentemente, num estudo da Entidade Reguladora Para a Comunicação Social (ERC) intitulado “A Rádio Local na Sociedade Portuguesa” era abordada a questão do financiamento público para as emissoras locais, da qual “emergiram várias linhas de intervenção possível”, nomeadamente o financiamento autárquico (alertando, também, para necessidade de regulação, transparência e salvaguarda da independência das rádios).
Do referido estudo resultou «um conjunto de recomendações no sentido de reforçar o caráter de proximidade da rádio local” cujo papel na sociedade “é tanto mais relevante quanto mais a sua oferta se diferencie, no panorama mediático, pelo localismo de conteúdos». Estudo que contempla ainda outros aspetos já por nós defendidos nestas colunas, como seja o «reforço da presença das rádios locais no ambiente digital, tanto na vertente da digitalização de arquivos sonoros (…) quanto na vertente da oferta não-linear de conteúdos, com um fim de diversificação de formas de consumo». A ligação da rádio à Escola e a aposta na inovação são ainda acrescentadas às recomendações resultantes do estudo da ERC.
Os desafios da Rádio são imensos; hoje não é apenas no plano das ondas hertzianas que tem de ser posicionada a proposta radiofónica; a rádio tem de assegurar uma estratégia rigorosa e clara no vasto horizonte da emissão online, como já dissemos. O fortalecimento da sua presença será sustentado, em larga medida, pela atenção à realidade social, económica, cultural e política da região onde a Rádio está sediada. rádio que questione, esclareça, atue pedagogicamente, aponte erros, noticie triunfos, sinta e transmita o pulsar da região, chame a si novos públicos; porque a rádio não vai de férias.
A Rádio não vai de férias…
“A rádio é um sonho e um desafio diário, magia que sobrevive ao tempo efémero do acontecimento. “