A próstata

Escrito por Diogo Cabrita

As ideias não correm como seria ideal. É um fluxo lento, pingado, quase caído nos pés. A bexiga volumosa torna mais difícil a contração muscular que permite a micção, e desse modo, com a próstata também a aborrecer, a urina conversa com ele antes de se mostrar. Saio ou não? A urina da hipertrofia benigna da próstata (HBP) é como as ideias de alguns(umas) tipos (as). Acumulam pensamentos não criativos, avolumam-se referências, crescem elaboradas estruturas gramaticais, mas ideias? Criatividade? Solução para os problemas? Isso, não há. A urina grita da bexiga dolorosa que se abra caminho, aparece uma dor abdominal baixa, ele desaperta a calça, encosta-se, abre a torneira, faz força, a dor aumenta, a ansiedade cresce e a bica não pinga. A próstata, por vezes, é como a máquina de cerveja que entupiu. Está lá a cerveja, mas não sai. A hipertrofia benigna da próstata é uma doença comum que hoje tem alguns medicamentos importantes: a serenoa repens é derivada de uma palmeira pequena e é o primeiro degrau nesta luta. Para muitos é suficiente. Para outros há a alfuzosina, depois a tanzulozina, a dutasterida e por aí fora. O manancial não cirúrgico da HBP é significativo. O problema é que para a ausência de criatividade nem cocaína, nem maconha, nem heroína. Uns alucinogénios talvez sugiram uns sonhos raros, mas se não tem magia, a fantasia não vem. A doença prostática e as suas noites difíceis, fazendo levantar para urinar, dificultando viagens longas sem paragens, tem semelhanças com algumas pessoas. Os “próstatas errantes” são obstipados de ideias, pingam frases para os pés, esforçam-se, mas ficam sempre aquém, o seu crescimento não transporta benefício.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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