A primeira controvérsia geológica

Escrito por António Costa

“…posturas extremas e superadas, já que os geólogos definem três processos genéticos das rochas e classificam-se segundo a sua origem como ígneas, sedimentares e metamórficas.”

Na tentativa de dar uma explicação científica à origem das rochas na Terra, a primeira controvérsia geológica ocorreu em finais do século XVIII entre os partidários de duas teorias opostas: os neptunistas e os plutonistas.
O neptunismo foi proposto por Abraham Werner (1750-1817) em finais do séc. XVIII. Werner atribuía a origem das rochas à cristalização dos minerais a partir dos sedimentos depositados nos oceanos. Por esse motivo, esta teoria deve o seu nome a Neptuno, o nome latino do deus grego dos mares, Poseidon. Esta teoria coincidia com a visão bíblica do dilúvio universal e tentava explicar fenómenos geológicos como o produto de catástrofes naturais em períodos de tempo relativamente breves. Mas, já em meados do séc. XVIII, o estudo da paleontologia e dos fósseis fez com que tanto os naturalistas em geral, como os geólogos em particular, questionassem a validade científica do relato do “Génesis”.
Por outro lado, a teoria plutonista (ou vulcânica, nome que vem de Vulcano, o deus do fogo) sustentava que as rochas da Terra se formavam principalmente por processos que ocorriam a elevadas temperaturas e ao longo de extensos períodos de tempo. Anton Moro (1687-1750), estudioso das ilhas vulcânicas, foi o primeiro a sugerir esta ideia, retomada por James Hutton na sua teoria uniformista, que atribui a formação das rochas ao efeito da pressão e da temperatura. Saliente-se ainda que o uniformismo sugeria que os mesmos factos geológicos observáveis na atualidade eram os que haviam gerado as rochas nos tempos passados.
Este debate não se limitou ao âmbito científico, já que o próprio Johann von Goethe, ilustre escritor alemão, tomou o partido dos neptunistas ao incluir no último ato do seu “Fausto” um diálogo entre um neptunista e um plutonista encarnado por Mefistófeles.
Esta controvérsia prolongou-se até princípios do século XIX com as observações e as obras de Charles Lyell, que foram voltando a opinião dos cientistas para o lado dos plutonistas. E, quando Arthur Holmes aplicou a datação radiométrica das rochas, as idades das formações rochosas alcançaram não milhares, mas sim milhões de anos. Hoje em dia, ambas as teorias são consideradas posturas extremas e superadas, já que os geólogos definem três processos genéticos das rochas e classificam-se segundo a sua origem como ígneas, sedimentares e metamórficas.anton

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António Costa

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