Noventa e sete por cento dos cientistas que estudam as alterações climáticas acreditam que o aquecimento global é causado pelos gases com efeito de estufa emitidos por atividades humanas. Acreditam por isso em dois pontos essenciais: no aquecimento global e que este é causado pela nossa espécie. Outros três por cento acham que não, ou que não há aquecimento, ou que este parou em 1998, ou que há, mas a causa não é antropogénica.
Os argumentos que os negacionistas apresentam são de variada ordem e dependem do particular lado em que se encontram: se negam o aquecimento, dizem, por exemplo, que foram encontrados sensores de temperatura junto a locais especialmente quentes, como motores, superfícies asfaltadas, que, em geral, uma grande percentagem dos termómetros usados para medir as temperaturas não são fiáveis; se reconhecem o aquecimento mas negam a origem antropogénica, dizem, por exemplo, que o culpado é o sol e que houve aumento da sua atividade nos últimos anos, suficiente para o aquecimento verificado, ou então que são os raios gama cósmicos que têm sido bloqueados pelo sol.
Estes argumentos, e outros, têm sido rebatidos sucessivamente pelas mais importantes e credíveis entidades, como a NASA, a NOAA (agência americana do clima) ou o IPCC (painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas), ou por milhares de artigos científicos validados por “pier review”. Noventa e sete por cento dos cientistas, repito-o, acreditam que o aquecimento global foi provocado por atividades humanas e constatam que os anos mais quentes de que há registo são os do nosso tempo. Constatam também que há uma relação direta entre o aumento da temperatura e o aumento do dióxido de carbono na atmosfera – valores medidos e verificáveis. E não, dizem a NASA e a NOAA, e muitos outros, a culpa não é do sol nem dos raios gama e o aumento da temperatura é verificável de muitas outras formas para além dos termómetros meteorológicos colocados em locais especialmente quentes.
Mesmo que os argumentos negacionistas tenham sido refutados, sejam amplamente rejeitados por quem sabe do assunto, e em termos que não deveriam deixar dúvidas, a verdade é que na opinião pública tem vingado a ideia de que há “controvérsia” sobre o assunto, de que “talvez não seja bem assim”. Pior: “se há assim tantas dúvidas, talvez não seja necessário fazer nada para alterar este estado de coisas”.
Aqui, como em muitas outras coisas, é dada mais publicidade ao mito, à teoria da conspiração, do que à verdade e à ciência. Por isso se nega a chegada à Lua, a origem terrorista do 11 de Setembro, o efeito preventivo das vacinas, se acredita que a Terra, afinal, não é redonda – e tudo isto tem ampla cobertura noticiosa e circula com mais rapidez e notoriedade do que as verdades facilmente verificáveis que refutam estes mitos.
Tudo isto seria irrelevante se os poderes instituídos decidissem e agissem com base na verdade científica e no bom-senso. Mas, perdoem-me os palavrões, há Trump, há Bolsonaro, e só entre eles os dois temos comprometidos todos os esforços feitos nas últimas décadas.
Há que ter cada vez mais cuidado naqueles em que se vota, já que a destruição que eles podem causar em quatro anos pode ser impossível de reverter no tempo das nossas vidas.