A política do interesse ou o interesse na política

Escrito por Albino Bárbara

“A desculpa para os povos do sul da Europa terem comportamentos diferentes e distintos é explicada por “estar-nos na massa do sangue”, o que levou Eça a comparar a claque dirigente às fraldas dos bebés, teoria essa, muito bem confirmada nas “Farpas” de Ortigão. 150 anos volvidos e a pérfida desta doentia mentalidade continua…”

Heródoto foi um tipo interessante. Alberto Pimenta ainda o é. Um criador de mentiras aliado ao autor do verdadeiro filho da dita cuja, onde ambos, com o genuíno sentido de oportunidade, olham para o coelho Roger, que completamente tramado, desconfia da sensual Jéssica e, percebendo o momento, com uma voraz vontade de comer, abocanha o melhor osso saído desse matadouro de ruinas em que se transformou o sistema.
Num olhar repentino pela história e, sem qualquer lágrima de arrependimento do choro argentino, verifica-se facilmente que a revolução bolchevique foi traída e, nem mesmo Pompeia Sula, com todos os seus predicados, continuará a dizer a César que é fiel, bonita, atraente e honesta.
Com o sentido prático da ocasião (há quem afirme que a ocasião faz o ladrão), com a permissividade consentida, com a promiscuidade político-partidária conhecida, estes chico-espertos utilizam o mercantilismo de conveniência, usando e abusando dos bons costumes, da moral, da ética e sobretudo do direito para chegar ao cais do porto desejado, num supremo interesse na política que como é obvio se transforme facilmente na política do seu próprio interesse.
A ideologia adjacente deixou há muito de ser a de D. Quixote ou mesmo a de Topol, na comédia mitzvah judaica “Se Eu fosse Rico”, transformando-se, apenas e tão só, no apelo terráqueo, estritamente materialista, de tudo ter um preço, no “venha a nós o vosso reino”, definido pelo previsível patego Sancho Pança… Eh pá!, diria o saudoso Jô Soares, «estão mexendo no meu bolso».
Pobre pátria mia… não há maneira de conseguir adoptar o simples conceito “hygge”, que se traduz como sendo a chave de felicidade de um povo onde a maioria encontra o equilíbrio, a tolerância, a amabilidade, a prática responsável, o aconchego necessário, a atmosfera simpática, criando um estado de espírito que defenda a identidade do povo e uma justiça social onde é possível alcançar o sonho de Lennon. Utopia? Nada disso… Se os nórdicos conseguiram porque não mudar o paradigma? Sim porque não?
A desculpa para os povos do sul da Europa terem comportamentos diferentes e distintos é explicada por “estar-nos na massa do sangue”, o que levou Eça a comparar a claque dirigente às fraldas dos bebés, teoria essa, muito bem confirmada nas “Farpas” de Ortigão. 150 anos volvidos e a pérfida desta doentia mentalidade continua…
Numa destas crónicas escrevia que com este clima de suspeita, com questionários ou sem questionários, com corruptores e corrompidos, o melhor mesmo é despachar estes tipos, pedir emprestada à Guiné (com um PIB superior ao nosso) a ilha dos (pilha) Galinhas, levar para lá todo estes cenáculos de ”apparatchiks” da conveniência, deixá-los definitivamente no quentinho das areias africanas a discutirem os seus prestimosos interesses, nas negociatas, nos terrenos, nas urbanizações, nas indeminizações, nas acumulações, nas pseudo legalidades, nas quintarolas, na elegância da engorda… pode ser que os possamos ver, em directo pela CMTV, todos à batatada, enquanto lutam para conseguirem o melhor caranguejo-violinista, o maior peixe-lápis-de-três-faixas, o mais bonito salteador de iodo ou o mais gordo peixe-porco.

Sobre o autor

Albino Bárbara

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