A novela rosa do senhor Nacib e da Dona Maria Machadão

Escrito por Albino Bárbara

“O Governo deve governar para garantir a felicidade de um povo. O Presidente deve ser o garante das instituições. O Parlamento deve legislar. É assim que deve ser. É assim que tem de ser num regime que se diz semiparlamentar e semipresidencial. O “fait-divers”, o desvio de atenções, é apenas garantia de incompetência ou algo mais e bem mais perigoso do processo democrático.”

Longe vai o tempo em que não podíamos perder um único episódio da “Gabriela”, sob pena de não entendermos as investidas do senhor Nacib ou as últimas ofertas da Maria Machadão, nesse enredo de inúmeras personagens, onde ganha destaque o bataclã tão bem frequentado pelo Fungágá da bicharada, que, com todo o desplante e desfaçatez, faz uma coisa e diz outra, generalizando as mentiras e, nem mesmo depois de terem sido chamados à Comissão de Inquérito foram capazes de desTAPar os olhos e ter vergonha na cara.
Todas as conversas iniciam-se com uma valente dose de mentira, misturam a seguir uma percentagem de verdade, dão-lhe um corpo da mais pura mentira terminando orquestradamente com uma percentagenzita de verdade, assumindo assim o conceito de Aleister Crowley, quando este afirma que todas as mentiras até podem ser verdades.
Aliás, a mentira na nossa sociedade generalizou-se, ganha forma e dimensão e é, curiosamente, muito bem tolerada, com culpas para o mágico Carlo Collodi, que não soube, ou não foi capaz, de fazer aumentar significativamente o nariz da corja que infesta a ilha franca da Barataria lusa. No fim de contas, ocultando as evidências, ficamos na dúvida se é crime ou não, se vão ser demitidos, se vão ou não a julgamento e se forem se haverá castigo e se o houver se será cumprido.
Neste albergue da candura rosa ninguém quer assumir o papel de Roger Rabbit, pois na zanga das comadres entra sempre a pluralidade dramática onde é citada, pela dócil de Dostoievski, a grande mentira para depois entrarem na kafkiana metamorfose do bicho-da-seda, entoando a canção do Fófó “havia uma vez um circo”. E que circo… senhoras e senhores…
O Governo deve governar para garantir a felicidade de um povo. O Presidente deve ser o garante das instituições. O Parlamento deve legislar. É assim que deve ser. É assim que tem de ser num regime que se diz semiparlamentar e semipresidencial. O “fait-divers”, o desvio de atenções, é apenas garantia de incompetência ou algo mais e bem mais perigoso do processo democrático.
Os media têm também dose de culpa quando alimentam esta estúpida e incompreensível situação apostando, tantas vezes, no inconsciente da comunicação de onde resulta, única e exclusivamente, notícias de faca e alguidar, apoiadas por um batalhão de comentadores (curiosamente, nunca nenhum deles pediu a cabeça do maior responsável de tudo isto, indiscutivelmente o desestabilizador mor do reino, politiqueiro, comentador de tudo e mais alguma coisa, com manifesta postura de Estado, o habitante do palácio pink).
A que se soma aquele que mais mamou e mama a cabra, o pai do défice, cínico e hipócritas q.b., que pensa poder dar uma ajudinha ao laranjal e ao limitado Montenegro, tal qual fez Soares ao roseiral (tempos diferentes – histórias diferentes) e uma cambada de jacobinos do sistema e alguns maçónicos, que pouco se importam com a virtude, sendo incapazes de perceber que a moral encontra sempre o seu fundamento na razão e, desta forma Demócrito continua a rir, Heráclito continua a chorar, um porque acha que todas as falhas humanas têm a sua causa na ignorância, enquanto outro entende que todas as falhas são misérias. E nem Demócrito nem Heráclito têm razão. Todos sabemos ao que andam e o que os motiva.
E assim vai o nosso pequeno mundinho.
Grande Pátria Mátria de nove séculos de existência. Bendita Terra Patrum que tais filhos tens.

Sobre o autor

Albino Bárbara

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