Ada Yonath é uma cientista israelita que veio a ser a quarta mulher a obter o Prémio Nobel da Química por perseguir aquilo que muito consideraram uma quimera: cristalizar um ribossoma. Tal cristalização era um passo indispensável, o ponto crucial que necessariamente tinha de ser ultrapassado para se determinar a estrutura tridimensional de um ribossoma, permitindo assim compreender os pormenores íntimos do funcionamento da biossíntese de proteínas. Talvez seja importante salientar que os ribossomas de procariotas e eucariotas são muito semelhantes, como é normal numa partícula vital, mas suficientemente diferentes para que a maioria dos antibióticos que consumimos afetem o funcionamento dos ribossomas das bactérias e não dos seres humanos. Compreender, até ao mínimo pormenor, a interpretação de proteínas expandiria o nosso catálogo de terapias anti-infeciosas, por exemplo.
O percurso de Yonath começou na década de 1970, no Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), sob a tutela o também Prémio Nobel William N. Lipscomb, e culminaria trinta anos depois com a revolução da referida estrutura. O passo decisivo foi a invenção, na década de 1980, da criocristalização, que permitiu que os cristais obtidos, ao serem congelados a baixa temperatura, não se desintegrassem por ação do intenso feixe de raios X que é necessário para obter mapas de difração com resolução suficiente.
A difração é um fenómeno de interferência que se produz quando uma onda de qualquer tipo se depara com um obstáculo ou atravessa uma fresta. As interferências produzidas fazem com que certas zonas do feixe de luz difratado se reforcem e que outras se anulem. Simplificando um pouco, poderia equiparar-se ao fenómeno que observamos quando atiramos duas pedras para um reservatório com água. Quando as ondas produzidas pelas duas pedras confluem, interferem e gera-se um padrão de novas ondas que depende do tamanho das pedras atiradas e da distância entre elas, ao caírem na água. Analisando este padrão, será possível averiguar de onde foram lançadas as pedras. Um princípio muito semelhante é utilizado quando se recorre à difração de raios X para analisar uma estrutura regular, normalmente cristalina. Nesse caso, os objetos que produzem a difração são os próprios átomos das moléculas, que se encontram bem ordenados e, portanto, geram um padrão de difração característicos de cada estrutura.
Recorrer à pesquisa de ribossomas mais resistentes em organismos que vivem em condições extremas, como certas bactérias do Mar Morto, foi uma estratégia que conduziu ao sucesso do projeto. Saliente-se que em todas as suas intervenções, Yonath apelava ao idealismo necessário para seguir uma carreira científica e ao papel imprescindível das mulheres, em todas as áreas.
A mulher que permitiu saber como era um ribossoma
“Compreender, até ao mínimo pormenor, a interpretação de proteínas expandiria o nosso catálogo de terapias anti-infeciosas”