A letra da canção conta!

Escrito por Diogo Cabrita

“A bizarria de uma letra demonstra o quão somos desinteressados do texto, da importância da palavra. “

A bizarria de uma letra demonstra o quão somos desinteressados do texto, da importância da palavra. Para mim é o mesmo que uma flauta quebrada, um telemóvel durante uma sonata, um apito de comboio quando se escuta Olivier Messiaen.

“Já esqueceram o cantar e o sorriso
Já não são homens de boa vontade
A loucura está a vencer o juízo
O ódio, a amizade
Estão-se a despir de toda a humanidade

Vou protestar
Denunciar, vou alertar
Querem fazer a guerra nuclear
Vou protestar
Denunciar, estou-me a alarmar
Que culpa tenho eu se eles se querem
Suicidar”

Esta verborreia no infinitivo, este jorrar de mediocridade poética desconforta o mais pacato e leva-me à dor de uma Marisa Liz que podia ter feito uma canção na hora certa, com a intenção correta, mas não fez mais que um atentado público à genialidade dos poetas portugueses. Ouvir isto na rádio incomoda-me, provoca-me pena pela voz incrível, mas desaponta saber que a cantora é tão ego centrada que não observa o ambiente em que caminha. Não há grandes canções sem grandes letras e por isso tivemos o Ary, temos o Sérgio Godinho, temos o Tiago Torres da Silva, o Carlos Tê, João Monge, o Pedro da Silva Martins. Temos inúmeros poetas e autores de letras disponíveis.
Escrevedores de palavras deste quilate, desta abencerragem… perdoem-me, mas lancem a música outra vez.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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