Tudo começou em 1800, com a reunião de seis astrónomos no observatório privado do astrónomo alemão Johann Schroter, em Lilenthal, no norte da Alemanha, onde foi fundada a primeira sociedade astronómica. Anteriormente, o cientista alemão Johann Titius, de Wittenberg, estabelecera uma lei que talvez nunca tivesse vindo a ser conhecida se não fosse o diretor do Observatório de Berlim, o também alemão Johannes Bode, que a divulgou em 1771, e que hoje tem o seu nome aliado ao de Titius. Trata-se de uma relação matemática simples, com a qual se podiam determinar as distâncias entre planetas em relação ao Sol, hoje considerada uma mera coincidência matemática com alguns êxitos empíricos, mas sem explicação definitiva.
A lei partia da sequência de números 0, 3, 6, 12, 24, 49, 96, 192, 384, onde a cada número se soma 4, de modo que a sequência numérica resultante é 4, 7, 10, 16, 28, 52, 100, 196, 388. Se a distância do Sol à Terra for fixada em 10 (o que equivale a uma unidade astronómica, a distância média entre o Sol e a Terra, cerca de 150.000.000 km), na mesma escala observa-se que esta sucessão de números coincide com as distâncias médias reais entre o Sol e os planetas: a Mercúrio, 3,9; a Vénus, 7,2; a Marte, 15,2; a Júpiter, 52 e a Saturno, 95,4.
Os três últimos planetas (Úrano, Neptuno e Plutão, então ainda considerados como tal) ainda não tinham sido descobertos quando Bode formulou a sua regra. E a sua tabela sugeria que poderiam existir um ou mais planetas, aproximadamente a estas distâncias, para além de Saturno. Quando se descobriu Úrano, a sua distância média nesta escala mostrou ser de 192. Em contrapartida, a lei não parece ser aplicável aos casos de Neptuno, descoberto em 1846, e de Plutão, descoberto em 1930, com distâncias inferiores aos valores previstos teoricamente: 300,7 em vez de 388, que, segundo a série, seria o resultado de somar 4 ao dobro de 192; e 394,6 em vez de 772, pela mesma regra. Todavia, a lei parece verificar-se no caso dos satélites de Júpiter, Saturno e Úrano ou mesmo sistemas exoplanetários.
Porém, o que realmente chamava a atenção nesta correlação de sequências, e que intrigava os astrónomos reunidos em Lilienthal, era o que haveria entre o 16 e o 52, entre Marte e Júpiter, e porque não se encontrava qualquer planeta correspondente à posição 28.
Schroter e o seu grupo criaram então uma organização para procurar o planeta perdido. Intitularam-se “Polícia Celeste”, um nome que hoje parece mais próprio da ficção científica ou de banda rock. No entanto, foi Giuseppi Piazi, um astrónomo siciliano que não pertencia à equipa (embora depois se juntasse à “Polícia”), que descobriu por acaso, em 1801, enquanto compilava um catálogo de estrelas, o suposto planeta perdido, já intuído por Kepler no século XVI, entre as órbitas de Marte e Júpiter.
Na realidade, Piazzi não descobriu um planeta novo, embora assim fosse inicialmente considerado, mas uma pequena «espécie» semelhante a um planeta, o primeiro dos planetas menores ou asteroides (termo proposto por William Herschel pelo seu aspeto estelar), que se descobririam mais tarde. Piazzi chamou-lhe Ceres, como a deusa romana das plantas. Mais tarde, foram identificados outros asteroides, a princípio a um ritmo lento: só se tinham descoberto quatro (Palas, Juno e Vesta, além de Ceres) quando a “Polícia Celeste” se dissolveu, em 1815, sendo que o quinto (Astreia) foi localizado apenas em 1845. Duas décadas depois, eram já uma centena de asteroides que compunham a Cintura de Asteroides entre Marte e Júpiter. Hoje conhecemos mais de 600.000 com órbitas determinadas, mas estima-se que haja aproximadamente um milhão com diâmetros superiores a 1 km, e o seu número eleva-se às dezenas de milhões se considerarmos asteroides com mais de 100 metros de diâmetro. Com os seus 950 km, Ceres é o maior, considerado hoje não já um «planeta perdido», mas um «planeta anão».