Já quase tudo foi dito e escrito sobre as eleições autárquicas da semana passada. Há vencedores e vencidos para todos os gostos, consoante a cor do fato dos analistas. Eu também visto o meu e não hesito em evidenciar o que nem sempre é lembrado. O PS perdeu Câmaras, perdeu mandatos e perdeu votos relativamente a 2017. Ainda ficou à frente dos demais nos resultados finais, mas estatelou-se ao comprido nas perceções.
O murro no estômago em Lisboa foi tão violento que nenhuma outra conquista foi capaz de disfarçar. Desde logo porque é o mais emblemático município do país. Depois porque o beneficiário direto foi o maior rival, o PSD, o que doeu ainda mais. Depois ainda porque se tratou de uma “débacle” inesperada e traumática, com todas as sondagens a dar um avanço confortável ao derrotado. Finalmente, porque com as reviravoltas de Coimbra, Funchal, Portalegre e Barcelos, entre outras, ficou a sensação de que o ciclo político pode estar a mudar, numa tendência de perda de eleitorado – especialmente nas zonas urbanas – para a esquerda e de recuperação para a direita. E nestes dois polos, a mensagem de quem votou foi a de uma reforçada lição de equilíbrio e moderação, com uma enorme aposta no centro esquerda e no centro direita e com a marginalização dos partidos extremistas (Chega e Bloco de Esquerda).
Se as legislativas de 2023 vão ou não ser a concretização final desta tendência, isso já é outra conversa, mas que o cansaço do povo relativamente a este Governo e às suas patranhas está a ganhar tração, lá isso está. Uma coisa é certa, se o PSD não ganhasse Lisboa, ninguém acreditava numa eventual curva descendente do PS e de António Costa. Agora, já muitos falam nela e onde há fumo pode haver fogo… Saber se o PSD é alternativa de Governo, não dependerá tanto de sondagens, mesmo das isentas, se é que existem, pois já sabemos que acertam tanto como a maioria dos apostadores no Euromilhões. Dependerá, sobretudo, dos erros e das inabilidades deste Governo amarrado a um PCP anacrónico e a um BE radical, porque o poder perde-se mais do que se conquista. E dependerá, sem dúvida, da clarificação interna do partido e da sua próxima liderança, que terá de vincar ainda mais o que o distingue dos atuais estrategas de empobrecimento das empresas, da classe média e da iniciativa privada, aqueles motores da economia que esta solução governativa espezinhou e gripou.
Se no país, o PS ganhou perdendo, no distrito da Guarda, o PSD ganhou com um amargo de boca. A capital de distrito escapou-lhe e foi entregue ao PSD 2, isto é, a Sérgio Costa, que liderou o PSD local até há poucos meses. Ainda assim, e isso conta, o PSD detém a maioria absoluta de autarquias no distrito, liderando oito Câmaras contra três do PS, que quase se evaporou e que deixou de comandar a CIM das Beiras e Serra da Estrela, agora nas mãos exclusivas dos sociais-democratas, o que aumenta a sua responsabilidade em projetar com mais pujança este território. A derrota do PS em Manteigas para uma candidatura independente liderada por um ex-presidente da JSD local (outra espécie de PSD 2) e a perda da Mêda para a coligação PSD-CDS, encabeçada pelo “dinossauro” João Mourato, ajudaram à razia socialista.
Em Figueira de Castelo Rodrigo cumpriu-se a tradição. Não há presidente da Câmara em funções que consiga fazer mais que dois mandatos seguidos e desta vez a arte e o engenho da mudança foi magistralmente protagonizado por Carlos Condesso, o presidente da Distrital do PSD, que, com muito saber, subtraiu ao PS mais uma autarquia onde tudo valeu e só faltou arrancar olhos para quem estava no poder nele se perpetuasse. Felizmente, o “crime não compensou”!!! Em Foz Côa e no Sabugal, onde estavam em funções presidentes impossibilitados de se recandidatarem por limitação de mandatos, o PS não soube aproveitar e o PSD assegurou competentemente a transição tranquila com as eleições de João Paulo Sousa e Vítor Proença. Em Almeida, Gouveia, Celorico da Beira e Pinhel, o eleitorado sufragou o bom trabalho desempenhado por António José Machado, Luís Tadeu, Carlos Ascensão e Rui Ventura, que deixaram os seus adversários socialistas longe de qualquer veleidade. O mesmo aconteceu, mas ao contrário, em Fornos de Algodres, Trancoso e em Seia, concelhos em que o PS venceu, capitalizando, no caso de Seia, com a fratura do eleitorado não socialista, que se dividiu entre um PSD combativo e uma candidatura independente repetente, mas incapaz de se apresentar como alternativa.
Dada a sentença popular, sempre sábia, honra aos vencidos e parabéns aos vencedores. Para começo de mandato, talvez não fosse desajustado os vencedores começarem por cobrar ao primeiro-ministro o cumprimento integral das promessas que andou por aí a “bolsar” na campanha eleitoral. Em vez dos autarcas socialistas, agora sim, ganhariam todos os portugueses.
* Deputado do PSD na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda