No domingo dia 10 de Julho, o jornal O Interior (numa rubrica chamada “Fio da Navalha”) publicou o seguinte texto: “Sem surpresa, Jorge Barreto Xavier não chegou a estrear-se como deputado municipal. Liderou a lista à Assembleia Municipal da Guarda pelo PSD (a segunda mais votada) e, agora, renunciou ao cargo, alegadamente por «razões pessoais». A escolha do então comissário da candidatura de Oeiras a Capital Europeia de Cultura para liderar a lista social-democrata não foi pacifica, uma vez que a Guarda também estava nessa corrida. Ao fim de 9 meses e três assembleias municipais realizadas, Jorge Barreto Xavier renunciou ao mandato, sem nunca ter assistido a uma Assembleia.”
O texto que refiro, infelizmente, passa informações erradas e faz insinuações que merecem esclarecimento.
Começo por referir a informação errada: “Ao fim de 9 meses e três assembleias municipais realizadas, Jorge Barreto Xavier renunciou ao mandato, sem nunca ter assistido a uma Assembleia.” Ao contrário do que é dito, tomei posse, presencialmente, enquanto deputado municipal, o que muito me honrou. Participei na votação para eleição do Presidente da Assembleia Municipal. Reuni com deputados municipais da minha bancada – o PSD. Ocorreram, entretanto, mais duas assembleias municipais: a 20.12.2022 e a 21.04.2022. Informei o Senhor Presidente da Assembleia Municipal da minha indisponibilidade de presença nas mesmas.
Entretanto, considerei, pelas dinâmicas que presenciei e que acompanhei, antes, durante e depois da primeira sessão da Assembleia Municipal deste mandato, tanto do meu grupo parlamentar como da Assembleia no seu todo, que a minha presença não seria útil nem ao PSD nem ao município no desempenho de funções como deputado municipal.
No que me respeita, a vontade de prestar serviço público, ser útil, aos meus concidadãos, tem orientado a minha vida pública. Foi essa motivação que me levou a aceitar o convite do então Presidente da Câmara Municipal da Guarda para encabeçar a lista do PSD à Assembleia Municipal como candidato às eleições autárquicas de 2021 e me levou a participar ativamente na elaboração do programa eleitoral e, presencialmente, nos atos da campanha eleitoral, na cidade da Guarda e nas localidades que integram o município, durante todo o período da campanha. Afinal, na Guarda está parte importante da minha história de vida, de que partilho alguns episódios.
Com os meus pais, aqui cheguei em 1971, com cinco anos. Aqui cresci e criei amigos para a vida; concluí o ensino primário e o liceu; sendo, na escola e no liceu, chefe de turma; no liceu, fui ainda representante eleito dos alunos no Conselho Pedagógico, no Conselho Diretivo e na Direção da Associação de Estudantes; escrevi, semanalmente, no jornal “A Guarda”: co-fundei o jornal “Notícias da Guarda”; tive um programa semanal, com o meu querido amigo Carlos Gomes, na Rádio Altitude; colaborei com o Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis (FAOJ); colaborei com a Pastoral Diocesana e participei das atividades de diversos movimentos católicos; entrei para a JSD e participei nas suas atividades, colaborando com o partido que o meu pai e os meus tios ajudaram, em 1974, a fundar no distrito da Guarda. Aqui regressei regularmente, quando, concluído o liceu, fui estudar Direito para Lisboa, para estar com a família e os amigos; recebi a medalha do município, atribuída no momento em que a Dra. Maria do Carmo Borges era Presidente da Câmara; vim ao longo dos anos a convite de diversas entidades para participar em atividades e fazer conferências; estive como governante, para entregar o Museu da Guarda ao Município e o retábulo que estava à guarda do Estado à Sé Catedral. Aqui atribuí classificações de património cultural. E aqui voltei, em 2021, quando fui desafiado a participar na vida política do município.
É por isso que me custa ver o meu encontro com a Guarda reduzido à secura das palavras deste “Fio da Navalha”. Como se fosse um passageiro acidental que parou na paragem do comboio, comprou uma sandes e seguiu viagem. Não é essa a minha atitude com a Guarda como não é em geral.
Referi as considerações que me levaram a pedir a renúncia ao mandato enquanto deputado municipal. Repare-se que era fácil não o ter feito. E simplesmente, ao longo do mesmo, justificar as ausências e, de vez em quando, ir a uma reunião marcar presença. Não considerei que tal atitude fosse respeitosa.
Candidatei-me à Assembleia Municipal porque acreditei que podia ser útil à Guarda e que, apesar de viver em Lisboa, podia cumprir as minhas obrigações enquanto eleito. Renunciei ao mandato por razões pessoais e profissionais supervenientes à minha aceitação, e por considerar que, no desempenho do meu mandato como deputado municipal não podia ser útil à Guarda. Sim, tudo isso se resume da expressão que invoquei na minha renúncia ao mandato: “razões pessoais”. O conjunto de razões que referi são pessoais, não são de mais ninguém. A expressão que diz ter renunciado ao mandato “alegadamente por razões pessoais” diminui o sentido das coisas. A expressão “alegadamente” insinua – todos o sabemos – que as razões invocadas não são sérias ou verdadeiras. O advérbio alegadamente significa “carece de comprovação”. Pois bem, aqui deixo as minhas explicações.
Finalmente, refiro a frase que diz “Sem surpresa, Jorge Barreto Xavier não chegou a estrear-se como deputado municipal”. Na mesma frase, uma inverdade e uma insinuação. Primeiro, porque me estreei como deputado municipal. Segundo porque, a partir daí, a expressão “sem surpresa” (que é, por si, um juízo de valor negativo) deixa de fazer qualquer sentido.
O jornal O Interior cumpre uma missão importante de serviço público. Acredito que o texto ao qual contraponho o meu seja um mero acidente de percurso, desejando ao jornal e aos seus colaboradores o maior sucesso.
E espero poder, ainda, ser útil à Guarda que guardo, preciosamente.
A Guarda que guardo
“Entretanto, considerei, pelas dinâmicas que presenciei e que acompanhei, antes, durante e depois da primeira sessão da Assembleia Municipal deste mandato, tanto do meu grupo parlamentar como da Assembleia no seu todo, que a minha presença não seria útil nem ao PSD nem ao município no desempenho de funções como deputado municipal. “