A Guarda que eu (não) imagino

“Uma Guarda com um portentoso património histórico, cultural, gastronómico, paisagístico, mas sem capacidade de gizar uma estratégia de turismo, que consiga “casar” de forma integrada e harmoniosa todas as qualidades atrás elencadas.”

Falta ambição na Guarda. Contenta-se com o mediano e o poucochinho já é o suficiente. Se calhar, querer mais e melhor dá muito trabalho ou então é algo inatingível, só ao alcance de outros. A pacatez dos dias, sucedendo-se previsivelmente uns aos outros, é cómoda e transmite segurança e, como tal, é preferível manter-se assim.
Uma Guarda com excelentes vias de comunicação, mas a perder cada vez mais população e paulatinamente a regredir, quer económica quer culturalmente. Uma Guarda com excelentes quadros e recursos humanos, mas a deixar que estes, por falta de oportunidades, procurem outros lugares para se instalar e começar ou recomeçar a vida.
Uma Guarda com um portentoso património histórico, cultural, gastronómico, paisagístico, mas sem capacidade de gizar uma estratégia de turismo, que consiga “casar” de forma integrada e harmoniosa todas as qualidades atrás elencadas.
Uma Guarda com pouca habitação disponível e reduzido interesse em aumentar significativamente o parque habitacional, onde muitas vezes, o gosto arquitectónico (duvidoso) não acompanha de forma alguma o valor dos imóveis.
Uma Guarda parada no tempo, mais amiga do “Rouxinol Faduncho” do que dos “Coldplay”, a preferir “Uma Frigideira de Ouro” em detrimento de uma “Web Summit” e mais empenhada no tremoço do que na FIT.
Uma Guarda ruralizada, não obstante a sua génese rural, mas incapaz de equilibrar a sua ancestralidade rústica, que muito prezo e respeito, com o génio inovador da modernidade.
Uma Guarda que não se importa de vir a encerrar escolas, que prescinde de subsídios para a cultura, incapaz de definir uma rede de transportes urbanos que atenda às necessidades da maioria dos seus utentes e que anda há cinco ou seis anos a tentar arranjar um local para a instalação da Unidade Especial de Protecção e Socorro, é de certeza uma terra que não se quer afirmar no futuro.
Não, meus amigos, não é esta a Guarda que eu imagino e muito menos a Guarda que eu quero.
Gostaria de ter uma Guarda que definisse como objectivo estratégico atingir os 50.000 habitantes em 2035 e que para a concretização desse intento tudo fizesse para ajudar a criar, pelo menos, 750 empregos por ano.
Gostaria de ter uma Guarda que preferisse ter um museu emblemático, à semelhança do Guggenheim de Bilbau, em vez de um parque de estacionamento, quando cada vez mais cidades europeias apostam nas pessoas em detrimento dos carros, Dusseldorf que o diga…
Gostaria de ter uma Guarda na qual um grande festival de música tivesse lugar, à semelhança do “Super Bock, Super Rock”, aproveitando para isso o campo de futebol, que muito pouco uso tem tido.
Gostaria de ter uma Guarda, que fosse capaz de atrair empresas do sector tecnológico com as quais o IPG estabeleceria parcerias ao nível dos recursos qualificados, um pouco à semelhança do que vem acontecendo no Fundão.
Gostaria de ter uma Guarda onde a “Zara” convivesse harmoniosamente com a “Mercearia da Esquina”, nunca esquecendo a sua ancestralidade, mas orientada para um cosmopolitismo europeu.
É possível ter estas duas Guardas. Cabe-nos a nós, guardenses que estoicamente aqui resistimos, decidir qual delas queremos ter.

* O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios ortográficos

Sobre o autor

Ricardo Neves de Sousa

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1 comentário

  • Completamente de acordo, a pensar pequeno não há forma de a Guarda deixar de ser uma cidade provinciana, precisamos urgentemente de mais e melhor.