O turismo não é a panaceia para todos os males. Os investimentos em hotelaria e turismo são por norma menos rentáveis porque geram menos valor acrescentado do que as aplicações na indústria. E os empregados de mesa, os rececionistas ou os guias ganham, em regra, menos do que operários espacializados, já para não falar em engenheiros ou gestores.
Sendo as coisas o que são, isso não retira ao turismo as muitas virtudes que ele possui. Há 80 anos, quer a Madeira, quer o Algarve, eram duas das regiões mais pobres de Portugal; hoje são as duas regiões do país com maior rendimento “per capita” a seguir a Lisboa, devendo ao turismo boa parte desse salto.
Serve isto para dizer que – sem prejuízo da prioridade a dar a uma estratégia de industrialização! – a região da Guarda tem de ter uma estratégia para o turismo! Ter uma estratégia é, em todos os capítulos da vida, indispensável para o sucesso. Para quem não sabe onde quer chegar todos os caminhos são maus. E o profissionalismo ganha sempre ao amadorismo.
Construir uma estratégia implica fazer escolhas, tomar decisões. As decisões devem ser tomadas com base em evidências, ou seja: com base em estudos, em análises de mercado, em contactos com investidores e operadores no terreno que percebam do negócio. É depois de recolher e digerir esta informação que os decisores políticos devem chamar os investidores privados e tomar decisões. Quando estas são sustentadas em informação credível, e tomadas de forma profissional, até opções menos óbvias se podem transformar em extraordinários sucessos: criar uma unidade de luxo como o H2otel em Unhais da Serra, ou apostar em hostels baratos na Baixa de Lisboa, são dois exemplos de opções nada óbvias que, no entanto, surtiram bons efeitos.
Serve isto para dizer que a liderança política local – neste caso o presidente da Câmara da Guarda, seja quem for o titular – tem de envolver os agentes económicos e a própria população do concelho na construção de uma proposta turística que seja coerente com a alma da cidade e, ao mesmo tempo, que tenha condições objetivas de viabilidade e sucesso.
Em tese, é indiferente que a estratégia aponte mais ao mercado internacional, ou mais ao mercado interno; que seja mais dirigida às camadas populares, ou a turistas mais endinheirados: à partida, qualquer das opções é viável. O que se deve exigir é que esta questão seja estudada e discutida de forma alargada. E que – de forma informada, consciente e profissional – uma opção
seja tomada!
Voltarei ao assunto.