A Guarda militar 2ª parte

Escrito por Francisco Manso

Batalhão de Caçadores da Guarda

De entre as várias unidades militares que ao longo dos anos tiveram aquartelamento na Guarda sobressaem o Regimento de Infantaria 12 e o Batalhão de Caçadores nº 7. Embora o RI 12 seja a unidade militar de referência da cidade, a primeira que aqui se instalou foi o Batalhão de Caçadores nº 7. A sua permanência foi intermitente, como era normal, mas quando foi extinta era nesta cidade que erguia as suas armas. Hoje, essa importante unidade militar está quase esquecida e a história do Batalhão de Caçadores da Guarda ignorada por quase todos.

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Capitão e Soldado de Caçadores 7 (1811) / Carlos Ribeiro. – [Lisboa] : Rev. Defesa Nacional, [ca 1937?] (Lisboa : Lit. de Portugal)

Os “caçadores” portugueses
As primeiras companhias de caçadores dos regimentos de infantaria do Exército Português foram criadas em 1797. Foram extintas em 1808, no decorrer da Guerra Peninsular, dando origem a batalhões independentes de caçadores, que se destacavam pela sua habilidade em executar tiro de precisão a grandes distâncias, antecedendo o conceito de “sniper” ou atirador especial. Eram os “Galos de Combate”, do Duque de Wellington.
Em 14 de outubro de 1808, D. Miguel Pereira Forjaz, considerado o “pai” dos Caçadores Portugueses, que procurava restabelecer e reorganizar o Exército, decretava: «Que se criem de novo seis Batalhoes de Cassadores de seiscentos vinte e oito praças cada hum […]».
Em 1811 foram criados mais seis batalhões de caçadores, atingindo o total de doze. Desses batalhões, o nº 4 tinha aquartelamento em Penamacor, o nº 7 na Guarda e o nº 8 em Trancoso.
Em 1829, os batalhões de caçadores foram transformados em regimentos de caçadores, sendo extintos em 1911. Ainda durante o século XX a designação de “caçadores” será recuperada e atribuída a várias unidades, como unidades de alta prontidão, em defesa avançada de fronteira.

Leal Legião Portuguesa – Batalhão de Caçadores da Guarda

A Leal Legião Portuguesa era um corpo militar criado em Inglaterra, enquadrado por oficiais britânicos, mas constituído, essencialmente, por refugiados ali reunidos e de desertores da Legião Portuguesa, que tinha sido formada por ordem de Junot durante a primeira invasão francesa para lutar ao lado das tropas napoleónicas e afastar os oficiais portugueses mais prestigiados.
Em 24 de junho de 1809 a Leal Legião Portuguesa foi integrada no Exército Português, como regimento de infantaria ligeira, a dois batalhões.

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Quartel na Guarda. Grupo de oficiais. Foto Eduardo Cruz Mello

Ora, o primeiro desses batalhões passou a ter, desde 1811, a designação de Batalhão de Caçadores da Guarda, marcando, dessa forma, o nascimento da nova unidade militar. Começou por ser comandada pelo tenente-coronel Edward Hawkshaw, a que seguiu o tenente-coronel Bryan O`Toole.
Em 1815 era comandada pelo major António Pereira Quintano, que, na altura, salientava ao Real Corpo de Engenheiros as condições do quartel no convento de S. Francisco, na cidade. Estaria ou pretenderia instalar-se no velho convento, o que é um pouco surpreendente visto que até 1834 estava ocupado pelos frades franciscanos e ainda não existia o corpo ocupado atualmente pela Direção de Finanças.
Talvez seja pela falta de instalações condignas de alojamento que, a partir de 1816, passou a ter quartel no Fundão.
Em 1819, talvez pelas mesmas razões, passou a estar aquartelado em Gouveia, onde terá ficado até 1829, sendo comandado pelo tenente-coronel Tiago Pedro Martins. Tinha uma escola de ler, escrever e contar. Foi de relevo a sua participação nas operações contra os rebeldes e que, depois de terem emigrado para Espanha, regressaram a Portugal, sobretudo pela fronteira de Penamacor e Sabugal.
No dia 20 de julho de 1928, o batalhão de Caçadores 7, então aquartelado no Castelo de S. Jorge, iniciou um levantamento militar e civil contra a Ditadura Militar, mas sem sucesso.
Em 1939, depois de ter passado por Coimbra, Porto, Lisboa e chegar a ser extinto, o BC7 regressa à Guarda, com quartel no antigo convento de S. Francisco.
Em 1943, o Ministério da Guerra designa as unidades que na altura são legítimas herdeiras das tradições e da história militar dos corpos de tropas das organizações anteriores, onde se integram o BC 7 e o RI 12.
Em 1957, na sequência da invasão indiana de Goa, Damão e Diu, é criado o Batalhão de Caçadores das Beiras. Era constituído por uma unidade de Comando, uma Companhia de Comando e Serviços, Companhia de Armas Pesadas e três Companhias de Caçadores. O Comando e a Companhia de Comando e Serviços foram instruídos no Batalhão de Caçadores nº 7, na Guarda.
Tendo embarcado no navio Niassa a 3 de abril de 1957, em Alcântara, desembarcou no cais de Velha Goa a 7 de maio de 1957.
O major Arnaldo Nunes Vitória tinha comandado o BC 7, mas passou, em finais de 1957, já como coronel, a dirigir o Distrito de Recrutamento e Mobilização nº 10, em Aveiro, pelo que não fez parte da expedição. Natural da Guarda, onde nasceu em 1906, pertencia a uma família muito conhecida na cidade.

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Coronel António Teles Jordão, natural da Guarda, 1805- 1884

O fim

Em 1960, por despacho ministerial de 20 de abril, o Batalhão de Caçadores nº 7 foi extinto, com grande mágoa das gentes da Guarda.
Em 1966 foi confirmada a extinção do Batalhão de Caçadores nº 7, aquartelado na Guarda, determinada por despacho ministerial de 20 de abril de 1960. Na mesma altura, o Regimento de Infantaria nº 12 regressa à Guarda.
Em 1975 a designação “Caçadores” foi abolida do Exército Português.

* Investigador da história local e regional

Sobre o autor

Francisco Manso

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