Com o falso pretexto da discussão da proposta do Orçamento de Estado para 2022, os parceiros da geringonça, todos eles, decidiram virar as costas uns aos outros e provocaram o rompimento de um namoro de seis anos numa altura em que era imperativo nacional que continuassem juntos. Marimbando-se para a pátria e para o interesse coletivo, o PS, pela voz do primeiro-ministro, já há muito que tinha anunciado com soberba e irresponsabilidade que se precisasse do PSD para aprovar um OE preferiria que o «Governo caísse». Ficou, por isso, deliberadamente refém de uma solução à esquerda e do prolongamento de uma união com pés de barro por ter sido construída e pensada com desígnios egoístas e oportunistas, e não sob uma visão estratégica ou programática comum.
O que uniu PS, PCP e BE foi apenas a ambição de ocuparem o poder e de impedirem a governação PSD/CDS que havia preparado o país para as imprescindíveis reformas e transformações económicas e sociais que o afastassem da cauda da Europa. Mas logo que as reversões de algumas conquistas passadas se consumaram e logo que os dois partidos mais à esquerda se aperceberam que já estavam a fazer figura de “idiotas úteis”, porque o que lhes era dado com uma mão nos Orçamentos anteriores lhes era logo a seguir cativado com as duas, num exercício de deslealdade, de traição e de gozo manifestas, a extrema unção tinha mesmo de chegar. Como esta interesseira relação se desmoronou com estrondo e não tem futuro que a salve, não resta ao Presidente da República outra opção melhor que não seja dissolver a Assembleia e marcar eleições antecipadas.
Até lá, há um sem número de imponderáveis que podem ditar o veredicto do povo. O facto do maior partido da oposição estar em disputa interna pela liderança, podendo à partida parecer uma fragilidade, tem potencial para se transformar numa receita de sucesso com a mobilização do eleitorado, desde que campanha não se perca em “fait divers” e ataques escusados e se centre no debate sobre as ideias e as propostas concretas que os dois candidatos têm para Portugal, numa espécie de primárias das legislativas. Aliás, não é fácil contrariar a tese de que a única via para que tudo não fique na mesma, isto é, ingovernável e pantanoso, é mesmo a aposta no voto útil no PSD. Com a fragmentação parlamentar e partidária que prolifera no país, só mesmo um milagre das rosas daria a maioria absoluta a um PS estafado e responsável pelos mais miseráveis avanços da economia nacional, com os mais pobres países de Leste de há uns anos a ultrapassarem-nos na maioria dos indicadores de crescimento e bem estar, por não tributarem tudo o que mexe com taxas de “grão capitão”, não elegerem o Estado como o grande arquiteto de todas as oportunidades, não castigarem os seu povo com preços obscenos dos combustíveis e da energia, nem permitirem que os seus sistemas públicos de saúde estejam na agonia em que está o português.
Daí que, mesmo a admitir-se uma eventual vitória do PS, ela será sempre por maioria relativa, como aliás se prevê que aconteça se a vitória caber ao PSD, que dificilmente elegerá mais de 115 deputados para a AR. Assim sendo, na falta de maiorias que viabilizem governos de partido único, de duas uma, ou haverá governo à esquerda ou haverá governo à direita, pois o denominado bloco central (PS/PSD) já foi rejeitado quer pelos dois candidatos a líder do PSD, quer pelo PS. Sucede que a geringonça 2, agora que morreu a 1, não tem nenhuma hipótese de ressuscitar e ninguém compreenderia que assim fosse, pois para desgraça já basta uma e o custo para o país da crise provocada por estes três concubinos é demasiado elevado para não ter ditado mesmo o seu fim. Isto é, o PS deixou de ter parceiros para se coligar e governar se ganhar eleições, pelo que a única certeza que oferece é a provisoriedade, a instabilidade e o lamaçal, algo que o país não pode nem deve suportar. O PSD surge, assim, como a alternativa viável para conferir estabilidade e esperança ao Governo de Portugal, podendo sempre somar à sua força os contributos dos partidos moderados do centro direita no relançamento da economia, no aumento da população ativa, na criação de capital, na melhoria da produtividade, na aposta na iniciativa privada e no investimento público avesso às rendas e ao compadrio.
O futuro está, pois, nas nossas mãos. Mas para que ele seja diferente, temos mesmo de querer diferente.
* Deputado do PSD na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda