A força de Rio

“O distanciamento efetivo entre quem lidera as estruturas partidárias e os militantes de base é notória. E é assim também na região.”

Rui Rio venceu as eleições do PSD com 52% dos votos entre os militantes do partido. Uma vitória tangencial, mas que vem confirmar a enorme distância entre as elites, a máquina partidária, e os militantes de base – Paulo Rangel tinha com ele os nomes ilustres do PSD mas as bases confiaram em Rio. E com este resultado, e a forma como decorreu todo o processo eleitoral, o presidente do PSD ganhou um balão de oxigénio para a disputa das próximas legislativas. Pode não dar para vencer, mas dará seguramente para uma disputa mais intensa com António Costa – as eleições ganham-se ao centro, Rui Rio vai concentrar mais votos nessa área, poderá perder alguns à direita, para o Chega, vai salvar o CDS com uma aliança para ter nas listas os melhores quadros da direita tradicional, e vai roubar alguns votos ao PS que vai ser encostado à esquerda. O PS vai ganhar ainda mais votos ao Bloco e ao PCP, mas não conseguirá a maioria. As eleições de 30 de janeiro, afinal, servirão para alguma coisa: permitirão que o PS governe com o apoio pontual do PSD como alternativa à geringonça ou António Costa governará sem ter de fazer grandes cedências à extrema esquerda – bloquistas e comunistas perderam muito ao não aprovarem o Orçamento que Costa lhes propôs.
O distanciamento efetivo entre quem lidera as estruturas partidárias e os militantes de base é notória. E é assim também na região.
Na Guarda, a distrital manifestou o seu apoio a Rangel e os principais dirigentes do PSD na região apostaram tudo no eurodeputado, e perderam. Álvaro Amaro liderou a mudança de armas e bagagens de vários dirigentes locais para a ala mais conservadora do PSD, com Carlos Peixoto a passar da vice-presidência da bancada parlamentar de Rui Rio para a última fila na Assembleia da República – uma aposta que poderá pôr fim à carreira política do deputado pela Guarda Carlos Peixoto; Álvaro Amaro continuará em Bruxelas, mas deixa de ter influência junto da direção nacional do PSD (diz-se que se Rangel ganhasse, Álvaro Amaro imporia Cidália Valbom para deputada, depois de esta ter contribuído para a derrota do PSD na Guarda); a Comissão Politica distrital foi secundarizada. Mas esta escolha terá outras consequências no distrito. Rio já disse que não era ingrato, pelo que, o apoio massivo conseguido em Foz Côa poderá levar Gustavo Duarte a regressar ao parlamento. E o bom resultado na concelhia da Guarda, depois da expulsão dos militantes que escolheram Sérgio Costa, deixa uma porta aberta a Carlos Chaves Monteiro ou a João Prata – mais, com a vitória de Rui Rio será improvável o regresso de alguns militantes da Guarda ao PSD ou a haver uma “ponte” para o regresso Sérgio Costa que Álvaro Amaro poderia promover. Pode não parecer, mas a divisão nacional do PSD vem alterar o xadrez político da direita, no país e no distrito.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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