A esquerda pragmática e a direita salamaleques

Escrito por Carlos Peixoto

“António Costa perdeu as eleições de 2015 contra Passos Coelho e apesar disso apoderou-se do Governo com a chamada “geringonça”. Sem nenhuma ética republicana, mas com enorme espírito prático, não esteve com meias medidas e “coligou-se” com a esquerda mais radical e conservadora (…)”

Quando é preciso chegar ao poder ou evitar que o bloco oposto lá chegue, a esquerda dá uma abada à direita em Portugal. António Costa perdeu as eleições de 2015 contra Passos Coelho e apesar disso apoderou-se do Governo com a chamada “geringonça”. Sem nenhuma ética republicana, mas com enorme espírito prático, não esteve com meias medidas e “coligou-se” com a esquerda mais radical e conservadora, o BE e o PCP, marimbando-se para as agendas e bandeiras desses partidos e para a fobia que exibiam contra a União Europeia, a NATO, as empresas e empresários, e a criação de riqueza. O que importava era conquistar São Bento sem pudor nem vergonha e, principalmente, desapossar de lá a direita que o povo tinha escolhido.
Vender a alma ao diabo, ou fingir que se vendia, ceder nos princípios, ou fingir que se cedia, e sacrificar as reformas que o país precisava por causa de acordos parlamentares e de bastidores que assegurassem a governabilidade a qualquer preço, tudo isto foi feito com uma perna às costas pelo PS e pelos seus concubinos da esquerda. Tirando a estagnação do país e alguns buracos negros que mais tarde ou mais cedo todos vamos pagar, nenhum outro mal veio ao mundo. Portugal não saiu da União Europeia nem da NATO e, afinal, o papão da esquerda radical acabou mansinho, começando logo por si próprio, que ficou quase reduzido a cinzas nas eleições legislativas de 2022.
O que agora se recolocou na ordem do dia, ainda que muito longe desse dia, é se nas próximas eleições a direita se deve “juntar” para destronar o PS do poder caso o maior partido da oposição não as vença com maioria absoluta. E aqui, ao invés do que sucedeu em situação similar com a esquerda, a vozearia da direita conservadora contra essa eventualidade é estridente. A esquerda, então, diaboliza e demoniza uma solução que é o espelho do que ela própria escolheu para si quando foi ao contrário, numa hipocrisia e numa indecência sem limites.
Quando se fala de uma suposta coligação do PSD com os partidos à sua direita, com um em especial, “cai logo o Carmo e a Trindade”. Cheia de pruridos, mesuras e alguns preconceitos, essa direita acha que Portugal se transformará num reino onde os pedófilos serão castrados quimicamente, onde os criminosos ficarão presos perpetuamente, onde os imigrantes serão escorraçados e expatriados e onde a raça cigana será extinta. Nada disto acontecerá. Desde logo porque o PSD pode não precisar de “parceiros” para governar. Isso depende do resultado das eleições e, se este não chegar, dos acordos parlamentares que puderem desenhar-se. Depois porque há pelo menos um partido à direita do PSD (para não dizer dois) que podem viabilizar um Governo sem exigências radicalistas. Por último, porque a agenda mais ou menos extremista, panfletária e de protesto de qualquer partido, termina no minuto em que chega ao Governo de um país democrático.
Muita gritaria na oposição, pouca ou nenhuma voz no poder, entradas de leão saídas de sendeiro. Foi assim com o BE e PCP, e será assim com o Chega. Seja como for, mais vale prevenir que remediar. Tal como a esquerda se uniu em torno do PS para impedir a vitória da direita nas últimas eleições, ainda que esvaziando a expressão eleitoral dos dois partidos mais à esquerda, apostando no chamado voto útil, também a direita terá de parar para pensar e perceber se não deve unir-se em torno do PSD para dar a vitória a uma alternativa de Governo moderada (mas também moderna e reformista) que traga ao país o fulgor que tem perdido. É verdade que este não é o tempo para Luís Montenegro falar sobre cenários de namoros, casamentos ou divórcios, e muito menos sobre partilhas de lugares de Governo que só depois das eleições, e com os resultados em cima da mesa, se deverão ou não equacionar. Mas isto não significa que os “tiffosi” da esquerda e os puritanos da direita imponham a este lado linhas vermelhas que não impuseram ao outro, já que mais não seja porque o sol quando nasceu foi para todos.

* Advogado, ex-deputado do PSD na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda e actual presidente da Assembleia Distrital do PSD

Sobre o autor

Carlos Peixoto

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1 comentário

  • Se não tivesse lido o seu curriculum vitaie logo que comecei a leitura do seu artigo pensaria de certeza que estava na presença de um qualquer activista do Help que o^perou nos anos setenta contra a instalação da democracia em Portugal
    De facto não sei se a sua idade o permite mas o anti comunismo primario da época ia pondo a pais a saque
    Agora e quanto ao seu artigo quer parecer-me que senhor esquece que este pais foi quase sempre governado com o dito bloco central no qual o seu partido teve grande influencia alinado-se aos fachos da extrema direita portuguesa (cds) quem não se lembra do ultimo governp psd cds com o Portinhas como vice primeiro ministro ?? Quando falo no escarro que a direita portuguesa pariu e com o qual o sr pensa que uma aliança é possivel para governar Portugal é mesmo uma pirraça de menino mimado para ocupar o lugar
    Agora digo e a reparo de amigos meus que vivem aqui tão longe desse cantinho não foi o senhor que disse que a peste grisalha devia cessar de pensar ,de reclamar e eventualmente desaparecer para o pais progredir ?
    Pobre pais que tem pessoas que so vêm com um olho
    Espero de facto que se o senhor quer um pais desenvolvido onde cada português tenha lugar para ser feliz ,mude de discurso e politica e deixe-se de extremismo
    Cordialmente
    Antonio da Fonseca