No seu livro “La espécie elegida”, Juan Luis Arsuaga e Ignacio Martinez analisam, através de novas provas genéticas, um dos aspetos mais controversos no domínio da paleontologia humana: a origem da humanidade moderna.
A principal causa da existência de hipóteses contraditórias relativamente à origem dos humanos modernos é a natureza do registo fóssil. Os paleontólogos tentam decifrar um processo que teve lugar ao longo de centenas de milhares de anos em três continentes e que envolveu milhares de indivíduos. Para realizar uma tarefa desta envergadura contam exclusivamente com meia dúzia de fósseis, na sua maioria fragmentados, isolados e dispersos no tempo e no espaço. Não há dúvida de que são mais as lacunas do registo do que os aspetos que se conhecem.
A descoberta de novos fósseis, a datação precisa destes e o conhecimento cada vez mais profundo da biologia das espécies são as ferramentas a que recorrem os paleontólogos para ir comprovando as suas hipóteses. Trata-se, porém, de um processo lento e tortuoso, que depende em boa medida do acaso dos achados paleontológicos. O ideal seria poder recorrer a dados procedentes de uma área independente da paleontologia para pôr à prova as hipóteses surgidas do estudo dos fósseis, mas onde procurar esses dados?
Os estudos genéticos dedicados ao esclarecimento da origem da humanidade moderna visam determinar a sua estrutura genética atual, a partir da qual é possível inferir sobre o “como”, o “quando” e o “onde” da nossa origem.
A molécula responsável pelo legado biológico é o ácido desoxirribonucleico (ADN), que tem na sua estrutura química, em código, a informação necessária para assegurar a continuidade das espécies. O ADN das células está organizado em unidades individuais chamadas cromossomas, que no caso das células animais se encontram alojadas no interior do núcleo celular. Cada espécie tem um número determinado de cromossomas; os humanos têm 23 pares distintos de cromossomas homólogos.
O ADN das mitocôndrias de qualquer uma das nossas células pode identificar-se com um único antecessor em cada geração: a mãe, a avó materna, apenas uma das quatro bisavós, e assim sucessivamente. Apesar de não ter sido o primeiro trabalho publicado sobre a variação do ADN mitocondrial em humanos, o artigo publicado no primeiro dia do ano de 1987 na revista “Nature” e assinado por Rebecca Cann, Mark Stoneking e Alan Wilson representou uma verdadeira reviravolta nos estudos sobre a origem da humanidade moderna.
Nesse trabalho foram apresentados os resultados de um extenso estudo realizado a partir do ADN mitocondrial de 147 pessoas procedentes de cinco grandes grupos humanos diferentes: caucasianos, asiáticos, africanos, aborígenes, australianos e aborígenes da Nova Guiné.
A espécie escolhida
“A principal causa da existência de hipóteses contraditórias relativamente à origem dos humanos modernos é a natureza do registo fóssil.”