A azinheira, a troca do soldado Milhões pelo sargento Moedas, o retorno de um palco ou a (re)aparição do demónio

Escrito por Albino Bárbara

As contas, os negócios, as negociatas, as adjudicações diretas, as parcerias com a igreja católica, esta última a colocar-se como dona, senhora e rainha, onde apenas é notório o investimento do Estado e da Câmara Municipal de Lisboa, porque quanto ao resto, quanto aos costumes, apenas se percebe o acompanhamento de todas as obras numa supra sobranceria católica ao rejeitar vários projetos.

Por norma, a azinheira é uma árvore frondosa e alta. Chega a medir dez metros. O saudoso Zeca dizia que nem sequer lhe sabia a idade e, Laborinho Lúcio, descreve o estrondoso das suas sombras, sendo que até o milagre aconteceu na cúpula de uma destas fagáceas e, como tudo na vida, e, ao que parece, orienta-se pela fé e ultimamente por números.
Afinal o acontecimento do momento é entre Lisboa e Loures.
Como já não estamos em 1918, onde Milhais se trocava por Milhões, onde a ideologia, o patriotismo, a valentia, a ética e a coerência prevaleciam e os trocados cêntimos agora se convertem em Moedas, o agnosticismo dá lugar à conversão, onde o projeto político é pura propaganda política, onde na impreparação e incapacidade se vislumbra na ambição pessoal, numa falta de ideia de cidade e para a cidade, onde os transportes para maiores de 65 não é coisa sua, onde a urbe se encontra lixarada e mais porca que nunca, onde a retirada dos cartazes dos outros é uma constante, onde as trapalhadas são coisas comuns e a vitimização apenas atribuiu todas as culpas à oposição, onde se prescinde dos recursos do IRS e se devolvem 40 milhões dos quais mais de 70% vão diretamente para 20% mais ricos da capital, etc., etc. etc. e se explica o negócio papal, sem qualquer concurso público e, dos milhões gastos, fazem-se contas de merceeiro, que, de lápis atrás da orelha, verifica apenas as colunas, do deve e haver, no mercantilismo do retomo, seguindo o principio económico: sem investimento não pode haver lucro. C’os diabos. Afinal o diabo existe. Trocou Bruxelas por Lisboa.
A outra face…. Que rico jeito deu ao poder rosa toda a polémica do pedestal papal. As contas, os negócios, as negociatas, as adjudicações diretas, as parcerias com a igreja católica, esta última a colocar-se como dona, senhora e rainha, onde apenas é notório o investimento do Estado e da Câmara Municipal de Lisboa, porque quanto ao resto, quanto aos costumes, apenas se percebe o acompanhamento de todas as obras numa supra sobranceria católica ao rejeitar vários projetos.
Não nos bastava já o fundamentalismo de púlpito em que são desbobinados argumentos pseudo convincentes de manipulação de sentimentos, tentando agarrar os espíritos livres e até todos os outros que procuram a liberdade, opinando em processos que, à partida, não são seus, esquecendo-se, ou talvez não lhe interessando falar nos tribunais da inquisição, nos autos de fé, na conspiração contra o Estado em 1759, na pedofilia e na lamúria do pedido de desculpas, na cereja-salazarenta concordata de 1940, revista por Durão Barroso em 2004, o que dá para não entrarem nos cofres de todos nós milhões e milhões de euros, bastando para tanto o não pagamento do IMI, servindo-se gratuitamente de múltiplos espaços públicos e monumentos nacionais.
Longe vai o dia 20 de abril de 1911, quando Afonso Costa separou o Estado da tal igreja e Alberto Xavier afirmava «uma república laica como a nossa jamais será esvaziada de valores, assentando em princípios de igualdade e liberdade, não podendo condicionar nada nem ninguém assumindo o Estado a neutralidade necessária». E o anticlericalismo definido como «a ausência de perseguição a qualquer confissão religiosa pretendendo-se proclamar o poder civil pelo espírito de todas as religiões e garantir a liberdade de desenvolvimento de todos os cultos».
Reconhecendo o papel que a Igreja Católica tem em Portugal, onde a maioria da população é sua seguidora, vai também longe o tempo em que Jesus Cristo expulsou do templo de Herodes os vendilhões acusando-os de utilizarem o local sagrado, transformando-o numa cova de ladrões e agiotas. Mas esses eram apenas uns ladrãozecos, porque hoje em dia a venda de indulgências é uma coisa muito, mas mesmo muito, sofisticada, a que agora estamos a assistir.
Ferreira Gomes, bispo católico, afirmou em 1958: a Concordata é clerical e o regime uma ditadura católica. 65 anos depois o que mudou?
A Concordata continua clerical e o regime (trocou ditadura por democracia) continua a ser cada vez mais católico, num Estado que se diz laico, em detrimento de todos os outros credos e religiões. Portanto. Em face de tudo isto só podemos afirmar: Viva o altar…

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Albino Bárbara

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