825 anos da Guarda – Infância ou Velhice?

Dia 27 de Novembro a Guarda comemora mais um aniversário, desta vez, a vetusta idade de 825 anos. Não pertencendo ao lote das 10 cidades mais antigas de Portugal, a sua fundação em 1199 diz muito da sua “jovialidade”, ganhando um estatuto que lhe permite tratar a História por tu.
A idade ou juventude de uma cidade não são condições determinantes para o seu sucesso ou garantia de desenvolvimento. Nova York completou em 2024 os seus 400 anos (menos de metade da Guarda) e é uma das mais importantes metrópoles do planeta. Por seu lado, Milton Keynes, uma cidade inglesa construída de raiz em 1967 tem hoje mais de 250.000 habitantes no seu perímetro urbano, sendo um dos principais polos tecnológicos do país e sede nacional de grandes empresas como a Mercedes-Benz, Grupo Volkswagen ou Red Bull Racing.
Em sentido contrário, temos inúmeros exemplos de civilizações desaparecidas, cujas principais cidades, à data centros mundiais do comércio, economia e cultura, pura e simplesmente desvaneceram-se na poeira dos tempos, criando uma oportunidade de trabalho para os arqueólogos.
Nesta sequência, estará a Guarda a caminhar para o seu declínio ou apenas a despertar para a sua infância? A resposta mais simples, mas que incorpora uma complexidade extrema é: a Guarda encaminhar-se-á para aquilo que os seus habitantes e governantes quiserem e a conjuntura deixar!
A Guarda, tanto poderá ser uma nova capital europeia da inovação (como Braga o foi este ano) ou desunhar-se para garantir o seu lugar como capital regional dos Santos Populares.
A Guarda, tanto pode mobilizar-se para ter um Teatro Municipal/ Regional/ Nacional digno desse nome ou alugar umas tendas para uns bailaricos perfumados a torresmo.
A Guarda, tanto pode ter a ambição de construir um museu de arte moderna, arquitectonicamente icónico, ou apostar num bem alcatroado parque de estacionamento com a maioria dos lugares vagos ao fim-de-semana.
A Guarda, tanto pode ter um requintado e renomado hotel de charme no seu centro urbano, ou optar por umas ruínas assinadas a grafiti num espaço nobre.
A Guarda, tanto pode almejar ser a capital deste vasto território ou baixar os braços e deixar-se sucumbir à pena capital da inércia.
A Guarda tanto pode optar entre ter uma estratégia bem definida e mobilizadora ou andar isoladamente à deriva sem qualquer rumo.
A Guarda, tanto pode contratar, por ajuste directo, uns músicos desafinados que lhe toquem um requiem ou pedir a umas angelicais vozes de criança que lhe cantem os parabéns.
Quando se chega à bonita idade de 825 anos, a Guarda pode ser o que bem entender!

* Deputado do PSD na Assembleia Municipal da Guarda
**O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios ortográficos.

Sobre o autor

Ricardo Neves de Sousa

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