O Jornal O INTERIOR nasceu em 2000, na mudança de século e de milénio, num tempo de ansiedade e transformações, e foi o primeiro jornal em Portugal a nascer em simultâneo em papel e digital – a Internet era utilizada por uma minoria (Berners-Lee criou o protocolo da World Wide Web em 1992), o correio eletrónico era utilizado quase em exclusivo pelas empresas e os telemóveis (da TMN e da Telecel) já não eram uns tijolos, mas quase. A inspiração de Steve Jobs ainda não levara Internet a todos os smartphones e Zuckerberg tinha 16 anos e talvez já pensasse em arranjar fotografias de raparigas, mas ainda não tinha inventado o Facebook. «Dar vida ao interior» era uma das nossas aspirações, um “claim” que era um desígnio e um anseio, num tempo em que não se falava do “interior” e quando se pronunciava esse anátema era para discutir as assimetrias e disparidades, a pobreza e o atraso ancestral em que vivíamos – e ainda havia ignorantes que afirmavam que «antigamente é que era bom», sem ninguém se rir! O atraso mantem-se e as desigualdades acentuaram-se… E os imbecis continuam a dizer que antigamente é que era bom!
Escrevemos sobre as taxas vergonhosas do analfabetismo (havia concelhos com mais de 25% da população analfabeta; hoje 50% do jovens frequenta o ensino superior); sobre a pobreza que grassava escondida por detrás da vergonha (hoje, já não nos envergonhamos, mas ainda há muita pobreza escondida); sobre os emigrantes que corajosamente partiam e queriam regressar mas não sabiam ao que vinham, quando vinham (hoje, a taxa de natalidade é tão baixa que esperamos imigrantes da Ucrânia ou do Brasil para termos pessoas no território); sobre as aldeias que envelheciam e sobre os jovens que fugiam (e fogem depois de tirar um curso); sobre as escolas com três ou quatro alunos que podiam fechar (e fecharam, primeiro as de três ou quatro alunos e depois as de 10 e de 20 alunos); sobre as propostas de Guterres (que 22 anos depois lidera a ONU, mas que na altura não sabia quanto era o PIB do país que governava) que promoveu a fiscalidade amiga do interior (que alguns anos depois seria eliminada) e, contrariando o preconceito lisboeta, instalou uma Faculdade de Medicina na Covilhã; sobre as mortes no IP5 e sobre os projetos de autoestradas, da A25 e da A23, sem custos para o utilizador, que prometeram desencravar o interior e aproximaram a Guarda da Covilhã (mas que poucos anos depois passaram a ser as autoestradas mais caras do país e agora esperam a anulação de portagem); sobre a falta de médicos (há 22 anos como hoje, uma profissão protegida e bem paga), sobre o fechos de centro de saúde, sobre novos hospitais que não saíram do papel ou tardam em chegar; sobre empresas que encerraram e sobre os jovens que desistiram de voltar às suas terras…
O INTERIOR afirmou-se como o maior jornal do distrito da Guarda, o de maior circulação e o que tem uma maior marca identitária na região. Organizámos debates sobre assuntos de interesse público (como a criação de comunidades urbanas), realizámos feiras do livro na Guarda (com milhares de livros e dezenas de ações culturais em paralelo – espetáculos musicais, teatro, escultura, xadrez, poesia…), promovemos conferências e debates (com Ricardo Araújo Pereira, Pedro Mexia, Fernando Dacosta, J.M. Barata-Feyo, Fernando Alvim…), escrevemos, opinámos, entrevistámos, questionámos e contribuímos para uma comunidade mais informada, mais culta e mais desenvolvida. Ganhámos o Prémio Gazeta, fundámos a Rede Expresso com o maior semanário português, crescemos no digital e passámos a partilhar conteúdos e sinergias com a Rádio Altitude (em 2021), a maior rádio da Guarda e a rádio local mais antiga de Portugal. E sobrevivemos! Mesmo quando os sequazes do obscurantismo nos agridem ou perseguem, nos olham de soslaio e cercam, enquanto usufruímos do nosso direito à liberdade e à liberdade de expressão, do escrutínio aos poderes e aos poderosos, e nos expressamos e opinamos livremente. Uma liberdade que 22 anos depois continua a sair-nos muito cara, uns perseguindo-nos nas redes socias, outros escondidos detrás do anonimato em denúncias carregadas de fel, outros cortando-nos a publicidade (de que vivemos) – esquecendo que não há sociedade moderna e democracia sem uma imprensa livre e forte.
22 Anos depois, ainda mal saídos de uma pandemia que marcou as nossas vidas, assustados pela guerra e à porta de uma crise mundial de consequências incomensuráveis, assumimos corajosamente a nossa luta pela verdade, pelo jornalismo sério, honesto e plural. Ao longo de 22 anos, sem estigmas, sem preconceitos, sem medos nem euforias, procurámos honrar o nosso compromisso com os leitores, com todos os que, 22 anos depois, continuam a confiar n’O INTERIOR: Obrigado!
22 Anos
“Ao longo de 22 anos, sem estigmas, sem preconceitos, sem medos nem euforias, procurámos honrar o nosso compromisso com os leitores, com todos os que, 22 anos depois, continuam a confiar n’O INTERIOR: Obrigado!”