A relatividade dos discursos e das vivências. Na minha mocidade existiu a guerra da Indochina, onde perto de 58 mil jovens americanos morreram, 300 mil ficaram feridos e com eles perto de três milhões de pessoas na Indochina, entre soldados dos exércitos do Laos, Vietnam e Camboja. A guerra termina com a queda de Saigão a 30 de abril de 1975. Já vivíamos o começo do Verão quente em Portugal. Distribuíam-se armas para a guerra civil. Os combatentes dos dois lados eram jovens. Confrontos de rua aconteciam em manifestações de qualquer partido que ousasse questionar Vasco Gonçalves e a Junta de Salvação Nacional. Portugal vivia de forma ardente o fim do conflito da grande potência americana, com discursos de punho fechado. Havia um diplomata americano a enlouquecer a esquerda. Chegado em janeiro, Frank Carlucci ficará até fevereiro de 1978. Confesso que aos meus 15 anos recebi também armas na sede do partido em que militava e que o meu pai descobriria com grande desapontamento uns dias mais tarde. A política caminhava para o confronto direto. De julho a setembro incendiam-se sedes do PCP e os mortos começam a acontecer (https://arquivos.rtp.pt/conteudos/ataque-a-sede-do-pcp-em-aveiro/). O Alto Minho queima as sedes do PCP em Valença, Ponte de Lima, Viana do Castelo. A guerra civil está por um fio e os jovens estão na linha da frente.
Os soldados americanos do Vietnam tinham na maioria 19 anos (https://www.youtube.com/watch?v=0sajngb0W6I) e por essa razão havia músicas que o acentuavam de modo claro. Hoje, a maioria da juventude daquela idade parece estar noutra dimensão da realidade. Ribeiro Santos, morto em 1972 pela PIDE, e Alexandrino de Sousa, morto em outubro de 1975 (https://bloguedominho.blogs.sapo.pt/59380.html) por membros da ORPC/UDP, eram jovens convictos das suas ideias e vítimas da máxima das intolerâncias. A intolerância está a crescer e a fanatização das redes sociais e da exposição delinquente ganha adeptos e líderes destemidos, empurrando cada vez mais gente para uma realidade complexa e já vivida.
Os 19 anos de hoje são superprotegidos e saíram de doentes pediátricos há uns meses. Estes são os meninos europeus que podem ter de se confrontar com homens de 19 anos instrumentalizados, instruídos na arte da guerra que povoam as convicções religiosas e extremadas de muitos mundos.
Just thinking!