Especial "O INTERIOR - 20 Anos, 20 Autores"

A missão de O INTERIOR

Escrito por Jornal O INTERIOR

“O INTERIOR – 20 Anos, 20 Autores” é uma obra de memória, de jornalismo e de história contemporânea, a história dos últimos 20 anos da nossa região. E é também uma obra de amizade, porque foi escrita por vinte amigos, vinte colaboradores, que sempre estiveram presentes e disponíveis para colaborar com o jornal O INTERIOR e que sempre estiveram empenhados e preocupados com o presente e o futuro da nossa terra, das nossas terras. Parabéns pelo vosso trabalho e pela vossa participação neste retrato dos primeiros vinte anos deste século e deste milénio na Beira Interior.

Vinte anos depois, O INTERIOR apresenta hoje um retrato de mais de mil jornais, de mais de mil semanas de trabalho, de informação e de notícias…
Como há vinte anos, sem pedir licença, e muito para além das dificuldades de contexto, atrevemo-nos a fazer um livro com a pretensão de legar às gerações vindouras a memória jornalística e histórica deste tempo. Essa é uma das missões da imprensa: Informar, mas também contar a história dos povos, as tradições das gentes, os contos e lendas e contribuir para um maior conhecimento, para o debate, para a pluralidade de opinião e o desenvolvimento da sociedade. Nem sempre é fácil, nem sempre conseguimos cumprir com a nossa missão.

O jornal O INTERIOR nasceu há 20 anos, num projeto liderado por mim e por José Luís Carrilho de Almeida, que foi e é o verdadeiro mentor e o porto de abrigo de toda a ousadia e vitalidade deste jornal. Por isso, este livro também é dele, da sua gratidão à região e do seu sentido cívico e responsabilidade social. Sem a amizade e companheirismo de José Luís Carrilho de Almeida este projeto não teria andado e O INTERIOR não existiria. Como a ele, o meu obrigado a todos os que fizeram este semanário: os seus trabalhadores e colaboradores que foram e são parte desta história.

Este livro será colocado à venda nas livrarias e quiosques da região a partir de quinta-feira. E será oferecido a todas as bibliotecas municipais dos concelhos do distrito da Guarda e da Cova da Beira. E também às escolas preparatórias e secundárias desta região. É o nosso contributo, precisamente, para que os mais jovens possam ter acesso à história contemporânea da nossa região.

Como há 20 anos, também hoje os jornais são lidos essencialmente pela elite. A diferença é que há 20 anos o analfabetismo era uma chaga social. Em Penamacor 28 por cento da população não sabia ler e no concelho da Mêda uma em cada quatro pessoas não sabia ler ou escrever. O distrito da Guarda tinha então mais de 14 por cento de analfabetos. Os jornais faziam-se para quem sabia ler e pensar de forma critica. Dedicámos muitas páginas à alfabetização e ao atraso que implicava o analfabetismo.

Hoje, falamos de infoexclusão, de ficar para trás na sociedade do conhecimento. Os jornais estão na primeira linha desse mundo digital, mas, naturalmente, não conquistámos os novos leitores cujo contacto com as letras se faz quase exclusivamente através das redes sociais. Os jornais continuam a ser essencialmente para as elites, para os que não se limitam aos “soundbytes” ou se informam com uma frase rápida no Facebook ou uma fotografia no Instagram.

Ler jornais é saber mais. E se é verdade que os jornais perderam muitos leitores, perderam para o online, porque quem quer estar informado pode ler em papel ou digital, mas continua a ler jornais.

O jornal “O Combate”, editou o seu primeiro número a 8 de outubro de 1910 na Guarda, após a proclamação da República. “O Combate” foi homenageado há dez anos nesta biblioteca. Imprimia 100 exemplares em 1910, mas continua a ser celebrado pela influência que exercia na sociedade mais culta da cidade onde teria umas dezenas de leitores, mas uma enorme influência sobre o coletivo, eram as elites que o liam e comentavam.

Há 20 anos não havia A23 e íamos da Guarda à Covilhã pela Nacional 18, mas, com este jornal, quisemos aproximar a Guarda da Covilhã, e não temos dúvidas que contribuímos decisivamente para fazer a ponte entre estas duas cidades antes muito mais distantes.

Há 20 anos, não havia A25 e viajávamos para Viseu ou Vilar Formoso pelo velho IP5, a “estrada da morte” que tanto criticámos quando chegámos.

Há 20 anos não havia as autoestradas digitais, da Internet, que então emergia e este jornal nascia com os dois suportes em papel e online. Porque ao mudarmos de século e de milénio queríamos estar na vanguarda de um mundo em grande mutação.

Há 20 anos a UBI ainda não se tinha afirmado como uma universidade de referência a nível nacional, hoje é cientificamente reconhecida e tem ambições de afirmação internacional.

Há 20 anos o IPG era um foco de conflitos e polémicas definhando para o precipício, hoje volta a ser uma instituição de referência.

Há 20 anos não existia a Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço – que leva o nome do maior ensaísta português e que durante os primeiros anos de O INTERIOR foi um destacado colaborador do jornal –, que é hoje um dos equipamentos de referência de uma cidade que tem outros que há 20 anos não existiam.

Nestes 20 anos O INTERIOR esteve presente no acompanhamento informativo dos acontecimentos mais relevantes que ocorreram na região. Foi por isso que recebemos da mão do então Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, o Prémio Gazeta de Imprensa Regional; foi por isso que estivemos com Francisco Pinto Balsemão, José António Saraiva, Henrique Monteiro ou Afonso Camões na criação da “Rede Expresso” com o maior semanário português, num tempo em que a partilha de informação e conhecimento ainda era distante; foi assim que organizámos e realizámos entre 2002 e 2008 as feiras do livro da Guarda que levaram livros, cultura e pessoas ao centro histórico da cidade; foi assim que, em 2011, fui à Assembleia da República, apoiado por quatro mil subscritores de uma petição contra a implementação das portagens nas nossas autoestradas, enquanto outros ficaram em casa à espera que os pórticos fossem instalados e as portagens não acontecessem por milagre e nem se deram ao trabalho de protestar contra mais um atentado ao desenvolvimento do interior. E foi assim que fomos parceiros e promotores do lançamento do Concurso de Vinhos da Beira Interior, para contrariar o habitual imobilismo e contribuir para o desenvolvimento de um sector económico essencial numa região atrasada e pobre. E foi assim que apoiámos tantas outras iniciativas em prol do coletivo. Porque um jornal também tem essa missão, a de contribuir para o desenvolvimento da sua comunidade. Como nos ensinou Ortega Y Gasset, «o homem é ele e a sua circunstância». A nossa é esta, defender o interior.

Hoje celebramos 20 anos, com atraso, porque esta pandemia que nos aflige não nos permitiu apesentar este livro em maio. Ainda ponderámos voltar a adiar o seu lançamento… Por culpa do Covid-19 estamos aqui apenas 40 pessoas. Porque, infelizmente, não podemos partilhar este grande momento com todas as pessoas que gostaríamos de poder receber e que mostraram interesse e entusiasmo em acompanhar-nos, numa sessão transmitida em direto por “streaming” nas diferentes plataformas online de O INTERIOR.

Hoje celebramos os 20 anos de O INTERIOR com um livro que é uma súmula de 20 anos de edições, que fizemos com os últimos moicanos do INTERIOR, que são 20, mas que são mais, são todos os que diariamente lutam abnegadamente pela região, os que acreditam no futuro das nossas aldeias, vilas e cidades. Os resilientes que, perante as dificuldades, não fogem e ficam acreditando que é possível viver aqui, no nosso sítio, no sítio que escolhemos para viver, numa região cada vez mais despovoada e pobre.

Parabéns para todos.

Obrigado a todos vós pela coragem de continuar.

E obrigado pela Vossa ajuda e amizade nestes 20 ANOS de O INTERIOR.

Guarda, 24 de outubro de 2020
Luis Baptista-Martins

PS: Uma palavra de agradecimento à Câmara da Guarda e ao Instituto Politécnico da Guarda pelo apoio na edição deste livro, bem como à Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço por nos ter recebido. Agradeço também ao Conservatório de Música de S. José da Guarda, e sobretudo à professora Olena e às suas alunas Leonor e Ivana, pela colaboração na abertura da sessão com um momento musical sublime.
Grato.

Sobre o autor

Jornal O INTERIOR

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