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Os profissionais que não param nem na noite de Natal

Prof
Escrito por Carina Fernandes

Farmacêuticos, polícias, bombeiros e médicos são algumas dessas pessoas que vão passar a noite de Consoada para garantir a segurança e saúde da comunidade

Para muitos, os dias 24 e 25 de dezembro são dias de festa e de reunião familiar, mas há profissionais que têm mesmo de abdicar desses momentos para poderem assegurar alguns serviços, nomeadamente de saúde e segurança às populações.

Carlos Jacinto, farmacêutico

Carlos Jacinto, farmacêutico de 26 anos, vai estrear-se esta sexta-feira naquilo que é trabalhar em datas natalícias. Apesar de ser a primeira vez que passará a Consoada de serviço, o jovem não mostra nenhuma tristeza, pois considera que mais cedo ou mais tarde lhe iria calhar estar de serviço.

Farmacêutico

«É mais uma noite, mas vai ser uma noite diferente, em que era suposto estarmos com a família e estamos atrás do balcão», refere o funcionário da Farmácia Tavares, que será a única de serviço na Guarda. Mas nem por isso Carlos Jacinto espera uma noite agitada. «Tenho ideia que vai ser tranquila, só mesmo em casos urgentes é que as pessoas nos procurarão», adianta. Quanto à reação da família por estar ausente numa noite tão especial, o jovem revela que todos «compreenderam», pois acima de tudo «sabem que é trabalho» e por isso terá mesmo de estar ausente.

 

Paulo Teixeira, agente da PSP
Ao contrário de Carlos Jacinto, Paulo Teixeira já é um veterano nestas andanças. Há 22 anos a fazer serviço na Polícia de Segurança Pública (PSP), «já foram muitas as vezes que trabalhei neste dia. É uma questão de hábito, a gente tem de contar sempre que isto possa acontecer tanto nessa data, como noutros dias festivos do ano», afirma a O INTERIOR.
No entanto, o agente da esquadra da Guarda confessa que «o Natal custa sempre mais um bocado porque toda gente tem família e gosta de estar com ela, o que nem sempre é possível nesta profissão».

Psp

Quanto aos filhos, ambos menores, «é óbvio que eles gostam de ter o pai presente, principalmente nesta altura, mas também já estão habituados a que eu não possa estar. O hábito conforma as pessoas e com o passar dos anos já compreendem bem que nem sempre dá para estar presente», acrescenta. «São a mãe, os tios e avós que tentam colmatar a falta quando não posso estar. É sempre triste e quando telefono para eles noto que estão mais em baixo, mas é uma questão de horas», garante Carlos Jacinto.
Horas essas que no serviço se tentam passar da «melhor forma possível». Por ser uma noite mais tranquila que o habitual, também é possível «organizar qualquer coisa, nem que seja pelo convívio», durante a ceia na esquadra.

 

João Nascimento, bombeiro

No corpo de bombeiros de Vila Franca das Naves, no concelho de Trancoso, João Nascimento é quem estará a coordenar os três profissionais escalados para a noite de sexta-feira.
«Perante o histórico que temos serão os suficientes, mas se houver necessidade de reforço de elementos há gente que está disponível, em regime de chamada», revela o bombeiro. Ao contrário da PSP, em que a escala é corrida, ou seja, já está mais ao menos definida desde janeiro, na corporação de Vila Franca «vai rodando por toda a gente, os que fizeram há mais tempo vão fazendo agora. E depois temos alguns critérios, nomeadamente um condutor de pesados, e pessoas que consigam garantir a primeira intervenção em todo o tipo de ocorrência que tivermos», explica o também segundo comandante dos bombeiros vilafranquenses.

Bombeiro

Os familiares de João Nascimento sentem a sua falta, principalmente os filhos, mas «já estão habituados à ausência, não só neste dia, mas também noutros em que temos que estar no terreno», acrescenta. Apesar de ser habitualmente uma noite sem muito trabalho, «há uns anos estava a sentar-me à mesa para comer a ceia de Natal e tivemos que sair por doença súbita. A comida ficou na mesa e viemos jantar mais tarde», recorda o bombeiro de 48 anos, para quem «se as pessoas pedem é porque realmente precisam e nós vamos de boa vontade, independentemente de ser esse dia». No quartel há também a preocupação de «manter a tradição no jantar da Consoada com o bacalhau, as couves e as batatas, porque isso é já do espírito português». No resto da noite o tempo é passado a conviver, a ver televisão e, «normalmente, damos uma “fugidinha” à fogueira de Natal. Se as coisas forem organizadas consegue-se fazer tudo normal, também para minimizar o facto das pessoas não poderem estar com as famílias na noite de Natal», garante.

Adelaide Campos, médica

«Poucas terão sido as noite de Consoada ou de passagem de ano que eu não tenha estado de serviço», começa por dizer Adelaide Campos, médica cirugiã no Hospital Sousa Martins, na Guarda. «Por escolha própria não é seguramente, é por necessidade. É uma altura em que as pessoas não gostam de ser escaladas, preferem estar em casa, como eu também, mas alguém tem de trabalhar e de fazer aquilo que é preciso porque esta noite é igual a todas as outras», declara.
Para a médica, «todos sabemos que isto faz parte da nossa vida, sabemos disso desde o primeiro dia que entramos para as faculdades e as escolas que nos formaram», e por isso mesmo a equipa que está de serviço acaba por criar «um espírito muito engraçado, muito solidário, muito amigo… Normalmente contamos histórias daquilo que se passou nos outros anos. Apesar de não estarmos com as nossas famílias estamos com as pessoas com quem trabalhamos o ano inteiro e acaba por ser um ambiente agradável e simpático», revela Adelaide Campos.

Médica

Das muitas histórias que se vão partilhando ao longo da noite a médica de 62 anos destacou uma que se passou na noite de passagem do ano: «Há dias, estava na consulta externa e um senhor de 40 anos chegou e, às tantas, perguntou-me o meu nome. Respondi-lhe e ele disse-me “não sei se se lembra na noite de passagem de ano de 1985 esteve a operar-me a uma peritonite”. E eu lembrava-me, porque era exatamente meia noite quando nós fomos para o bloco, nem deu para beber um champanhe, porque ele estava de facto mal e a essa hora estávamos a operá-lo. Ele lembra-se perfeitamente de mim e eu lembro-me perfeitamente dele», recorda.
Apesar de não conseguirem cozinhar e comer a tradicional ceia do dia 24 de dezembro, a data não é passada em branco, já que quem está de serviço nas Urgências «leva um bolo rei, bolos, filhoses e outras coisas que consigamos comer à mão».

 

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