P – Como está o concelho da Mêda no final de mais um mandato autárquico?
R – Fazer um balanço do presente mandato implica referir, por motivos infelizmente óbvios, todos os condicionalismos impostos pela pandemia e, acima de tudo, pela concertação de meios e medidas na sua resposta. No entanto, fazendo um balanço na globalidade, julgo estar a ser justo ao afirmar que este foi um mandato produtivo. Mesmo condicionados pela Covid-19, conseguimos implementar projetos que há muito eram reivindicados pela nossa comunidade, seja ao nível das infraestruturas e obras públicas, seja ao nível do fomento económico e da promoção turística. No entanto temos de nos lembrar que fomos confrontados por uma situação que colocou às autarquias os maiores desafios. E se tivermos em linha de conta a realidade dos nossos territórios, com populações envelhecidas e uma maior propensão ao isolamento, maior foi a responsabilidade dos municípios em articular uma resposta a uma crise pandémica como aquela que atravessamos ao longo da segunda metade do mandato. Mesmo assim, repito, conseguimos desenvolver um trabalho profícuo dando andamento aos diversos projetos estruturantes, pelo que estamos melhor, mas estamos também com vontade de fazer mais.
P – Qual é o balanço? O que foi feito e o que ficou por fazer?
R – Como disse anteriormente, o último mandato ficará inevitavelmente marcado pela pandemia. A avaliação da nossa resposta a essa crise terá de ser, necessariamente, um dos principais pontos de ponderação na avaliação que quisermos fazer do último mandato. O balanço que fazemos do mandato é positivo. Mas houve projetos que ficaram por fazer. Dou-lhe diversos exemplos: o nosso calendário de eventos foi completamente alterado devido à pandemia. Grandes eventos, com bastante impacto na economia local, como o Mercado Medieval de Marialva, a prova de BTT Mêda 100, outras festas e romarias tradicionais, pura e simplesmente não tiveram lugar. No ano de 2020 estávamos a planear criar um novo evento “marca” para o nosso território, muito focado na promoção gastronómica e, claro, no nosso riquíssimo património vinícola. Infelizmente ainda não podemos implementar esse projeto. Mas está sinalizado e irá arrancar assim as condições o permitam.
P – Que consequências teve a pandemia na gestão e atuação do município neste último ano?
R – A pandemia foi, sem dúvida, o epicentro da nossa atividade. Pela forma como nos condicionou, mas também pelos desafios aos quais fomos obrigados a dar resposta. Desde a primeira hora que nos mantivemos atentos às necessidades impostas por esta situação nas mais variadas vertentes. A interrupção das aulas obrigou-nos a encetar esforços na aquisição de equipamento informático de forma a possibilitar aos alunos sem recursos o acesso a um ensino de qualidade. Ao nível do apoio às famílias, mantivemos a distribuição de refeições escolares ao domicílio para famílias carenciadas. Colocamos diversos programas em prática com vista ao auxílio a pessoas de mobilidade reduzida ou portadoras de doença crónica, entregando compras e medicamentos ao domicílio. E claro, por termos noção do impacto económico desta pandemia, implementamos um largo programa de apoio ao comércio e à restauração, apoiando financeiramente os pequenos negócios que tinham sido obrigados ao encerramento forçado da sua atividade. Reforçamos o apoio às IPSS do concelho, uma vez que estas instituições são verdadeiros parceiros na prestação de serviços e no acompanhamento de pessoas com dificuldades. Este apoio teve a vertente financeira, com reforço do apoio monetário a estas instituições, de forma a fazerem face às necessidades emergentes, e teve a vertente de apoio logístico num amplo programa de distribuição de equipamentos de proteção individual por todas as instituições. Ao mesmo tempo, isentamos por um largo período todas as IPSS do pagamento de diversas taxas municipais. Tudo com o propósito de facilitar a atividade destes nossos parceiros, cujo papel na mitigação dos efeitos desta pandemia tem sido da mais elevada importância. Durante o período de maior surto tivemos de desenvolver uma ação concertada para apoiar as instituições, principalmente os lares de idosos. A nossa resposta foi concertada e eficaz.
P – Como está o projeto da barragem hidroagrícola da Coriscada?
R – A Barragem de Regadio da Coriscada assume-se como um projeto estruturante para o futuro do nosso território, encontrando-se inserido na Estratégia para o Regadio Público 2014-2020. Porque a agricultura é um sector económico importantíssimo no nosso desenvolvimento, a importância da capacidade de regadio marcará a diferença nos anos vindouros. Nos últimos anos têm havido investimentos privados consideráveis no nosso território e sabemos que, se conseguirmos aumentar a nossa capacidade de regadio, o volume de investimentos nesta área será ainda maior. É um projeto de uma dimensão financeira considerável que compete com outros projetos ao nível nacional. Será, por isso, um processo moroso, mas do qual não desistimos e continuaremos a batalhar pela sua concretização.
P – E a construção da nova Área de Acolhimento Empresarial?
R – A nova Área de Acolhimento Empresarial é uma legítima pretensão do nosso território desde há uns largos anos. Finalmente conseguimos avançar com este projeto, num investimento de quase dois milhões de euros. A obra terá início nas próximas semanas e implicará um aumento de cerca de 90 por cento na oferta de lotes para a implementação de empresas no nosso concelho. Julgo que será um projeto com um impacto extremamente positivo no desenvolvimento do concelho da Mêda nos próximos anos.
P – Há investidores interessados em instalar-se na Mêda? Quais?
R – Temos sido abordados por diversos interessados, principalmente no contexto da nova Área de Acolhimento Empresarial. Desde empresários com interesse em se deslocarem para o nosso concelho, como empresários já implementados aqui com intenções de expandirem a sua área de negócio. Falamos de sectores como a mecânica automóvel, a metalurgia e serralharia, comércio grossista e outros projetos.
P – Qual é o conceito do plano de reabilitação urbana em curso na sede do concelho?
R – A intervenção do Plano de Ação e Reabilitação Urbana (PARU) que estamos a desenvolver aplica-se a todo o centro histórico da nossa sede de concelho. Consiste não só na renovação de pavimentos, mas igualmente na substituição de infraestruturas obsoletas como a rede de distribuição de água e de saneamento. É uma obra importante por várias razões. Desde logo é um primeiro passo na reabilitação do nosso centro histórico. Depois insere-se numa estratégia que, aliada à Estratégia Local de Habitação que estamos a desenvolver, visa criar condições que conduzam à reconstrução e reocupação do diverso edificado que constitui o centro histórico da cidade.
P – Já há projeto para o Centro de Interpretação do castelo de Longroiva?
R – Há projeto e a obra foi já iniciada. É um investimento em que depositamos muita expectativa, na medida em que contribuirá para o enriquecimento da nossa oferta turística, alargando o leque de lugares a visitar no nosso território. Longroiva é um dos pilares sobre os quais queremos desenvolver o nosso potencial turístico.
P – Em termos políticos, governou com uma maioria relativa. Como foi a experiência?
R – Foi o meu segundo mandato em maioria relativa. Governar em maioria relativa nem sempre é mau! Obriga-nos a procurar consensos e a criar parcerias. É certo que um executivo em maioria absoluta tem sempre a vantagem de poder implementar o seu programa sem ser obrigado a fazer grandes ajustes. Mas, no nosso caso, sempre procuramos consenso alargado, principalmente nas decisões mais estruturantes.
P – Na sua opinião, o que contribuiu para levar o mandato até ao fim?
R – Não poderia ser de outra maneira. Ao sermos eleitos assumimos o compromisso com o nosso eleitorado! E deixe-me referir que sempre encontrei no seio da nossa comunidade a força e a energia para continuar.
P – Para além da questão do emprego, quais são atualmente as principais carências da Mêda?
R – O cenário é preocupante, não só para a Mêda, como para todos os territórios de baixa densidade do país. A fixação de pessoas é, pois, uma prioridade. Mas, pessoalmente, recuso-me a baixar os braços. Temos de criar condições de fixação de pessoas, que os jovens aqui constituam as suas famílias. Para isso, precisam de emprego. E para existir emprego tem de existir investimento, público e privado. Neste momento ainda não estamos a viver os efeitos económicos desta pandemia, mas os próximos anos serão difíceis. Falo da questão do emprego. Repare que nem é a nossa taxa de desemprego que nos preocupa, antes pelo contrário, temos alguns sectores da economia que já sentem alguma dificuldade em encontrar mão de obra disponível. Para darmos resposta a estas necessidades compete-nos a nós, municípios, acima de tudo, criar as condições que permitam proporcionar uma qualidade de vida ímpar àqueles que optem por viver nos nossos territórios. Para isso precisamos de empregos sim, mas também de bons serviços públicos, saúde, justiça, educação, oferta cultural diversificada… Enfim, todas as variáveis que se juntam numa equação complexa. Este tem sido, e continuará a ser, o nosso foco.
P – Como está a situação financeira da Câmara da Mêda?
R – A situação financeira do município de Mêda é muito saudável. Temos a nossa dívida reduzida e uma capacidade de endividamento bastante larga. Contamos com um prazo de pagamento a fornecedores bastante curto.
P – O concelho está situado entre o Douro e a Serra da Estrela, as duas grandes marcas turísticas da região, isso é uma vantagem ou uma desvantagem em termos da atratividade?
R – O nosso slogan é a nossa imagem de marca: Onde o Douro encontra a Serra. Esta pequena frase congrega muito da nossa identidade. Somos um concelho orgulhoso no seu passado, mas de olhos postos no futuro. Somos um território convidativo para viver, visitar ou investir. A nossa riqueza reflete-se na qualidade dos nossos produtos, com destaque para o vinho, mas não só, fruto da conjugação do trabalho do Homem e da Natureza. Temos Património e Cultura. Temos Gastronomia e Lazer. Mas a nossa principal riqueza é a nossa gente. Gente de afetos, amiga e hospitaleira, herdeira de uma solidariedade ancestral, que se expressa diariamente na arte de bem receber quem nos visita. De facto, durante muito tempo considerámos esta nossa localização entre o Douro e a Serra como uma desvantagem. Tornava-se difícil assumirmo-nos parte de uma região ou de outra. Mas somos de ambas! E isso é, definitivamente, uma vantagem porque, enquanto destino turístico, oferecemos o melhor destes dois mundos.
P – De que forma o concelho tem aproveitado o IP2?
R – O IP2 é o eixo viário primordial do nosso concelho. São inegáveis as melhorias que nos trouxe, encurtando distâncias, principalmente para a capital de distrito, a Guarda. É também por esta via que recebemos o maior número de visitantes, porque se torna numa das principais portas de entrada, para quem vem do sul, no Douro e no Parque Arqueológico do Vale do Côa, dois destinos turísticos de eleição, ambos classificados como Património da Humanidade pela UNESCO, nos quais nos orgulhamos de estar inseridos. A par desta ligação viária, continuamos a bater-nos pela concretização da ligação Mêda-Pinhel, uma estrada que já vem sendo reclamada pelas populações dos dois concelhos e que seria de extrema importância para os nossos territórios.
P – Como está a valorização das ruínas romanas do Vale do Mouro, na Coriscada? Há alguma coisa pensada para o sítio?
R – O Sítio Arqueológico do Vale do Mouro é um dos grandes projetos que temos em carteira. Visa a consolidação de todo o espaço para procedermos à sua musealização. Tratando-se de um projeto muito focado na preservação e valorização do nosso património cultural, torna-se bastante moroso na sua concretização. Mas queremos, acima de tudo, criar mais um eixo da nossa oferta turística, assente naquele sítio arqueológico da Coriscada.