P – O que nos reserva a edição deste ano da ExpoMêda, que é o ponto alto das atividades da autarquia até porque integra as comemorações do feriado municipal?
R – Este ano é uma inovação, vamos ter a ExpoMêda com quatro dias, a partir desta quinta-feira e até domingo. Serão dias de muita festa, muita animação, mas também de muito comércio. Contamos com a participação de mais de uma centena de stands de produtores, empresas, associações e instituições do concelho e da região. A ExpoMêda é só uma das melhores feiras e com mais pujança do interior, vai na 12ª edição, houve uma interrupção no mandato anterior, mas eu retomei a organização do certame no ano passado e penso que com algum sucesso porque acaba por mostrar e promover as virtualidades do concelho da Mêda. Vão participar principalmente pessoas do concelho, mas também outras pessoas de fora que vêm divulgar os seus produtos e que gostam de vir à Mêda. Há muita gente que capricha, não vai para outros eventos, mas vem para a Mêda porque aqui sentem-se bem, são bem tratados, e é isso que queremos. Este ano temos um cartaz de animação musical com Toy esta quinta-feira (22h30), que é uma referência nacional e já atuou várias vezes no nosso concelho. Na sexta-feira, à mesma hora, será a vez de Elena Ferreira, uma jovem emigrante da nossa região que está em França e fez questão de vir à Mêda e nós aceitamos o seu desafio. No sábado, dia do feriado municipal, vamos ter o concerto de Diogo Piçarra, a partir das 22h30. Em termos comemorativos, o Dia do Concelho conta com a sessão solene, na qual o presidente da Câmara irá enunciar aquilo que fez e apresentar o que tem para fazer. É um dia muito importante e as cerimónias serão presididas por João Costa, secretário de Estado Adjunto e da Justiça, que é natural de Longroiva, freguesia do nosso concelho. Nessa tarde haverá também o magusto tradicional junto ao mercado. Esperamos muita gente na edição deste ano da ExpoMêda, cuja entrada é gratuita. Entendemos que não valeria a pena “castigar” as pessoas com um bilhete de entrada, acho que se torna ridículo fazer isso nesta altura em que as famílias passam por algumas dificuldades. No domingo, último dia do certame, haverá um festival de folclore e o almoço do empresário. Para sexta-feira, dia 10, agendámos ainda várias atividades. Vamos homenagear a ministra da Coesão Territorial Ana Abrunhosa, cujo nome vai ser dado a uma praça da sua terra, o Poço do Canto. Também no Poço do Canto e nesse mesmo dia será entregue a Jorge Lourenço, presidente da Junta e grande empresário dos vinhos com a Vinilourenço, uma menção honrosa com louvor em reconhecimento daquilo que tem feito. É um jovem que, em poucos anos, conseguiu ter uma empresa de gabarito nacional e internacional muito importante e é quase um mestre dos vinhos.
P – Com a ExpoMêda, o município quer mostrar e promover um concelho que se quer afirmar na região?
R – Exatamente. O protagonismo é aquele que vai sendo dado, eu não sou vaidoso para aparecer, eu gosto de apresentar e fazer coisas. Por exemplo, na sexta-feira, vamos ter na Casa da Cultura uma apresentação de três coisas importantes. A primeira é a MedaConnect, uma plataforma de conhecimento e de contactos entre empresários e pessoas que tenham interesse em investir no nosso concelho. Vamos também divulgar o MedaEmpreende e a nova área de acolhimento empresarial, que vai ter 23 lotes. O município tem igualmente aprovada uma incubadora de empresas, com cerca de um milhão de euros, e que está direcionada para os negócios na área das novas tecnologias e que é um projeto importante para ajudar a catapultar o concelho. Mas há mais. Neste momento estamos a trabalhar para criar a “Casa da Cidadania”, que vai acolher um espaço de “cowork”, um centro de migrações, o serviço de Ação Social da Câmara e, se calhar, a proteção civil municipal em três imóveis próximos dos Paços do Concelho. No programa do “1ºDireito”, de rendas acessíveis, temos aprovado um conjunto muito interessante de casas, só num protocolo com o IHRU vamos construir 12 habitações a custos controlados.
P – Por estes dias, o município vai promover-se junto dos empresários. Podemos falar numa mudança de paradigma, que chegou o momento da Mêda se mostrar lá fora para cativar investimento. Há também um acordo com a Câmara de Comércio e Indústria Fanco-Portuguesa, quer adiantar-nos o que se pretende?
R – É essa a nossa intenção. Ninguém faz nada sozinho, é preciso ir à procura de empreendedores, de lhes mostrar as nossas potencialidades e recursos. A Mêda entendeu que chegou o momento de fazer coisas para além daquilo que era feito anteriormente, numa altura em que estamos a concluir a área empresarial e o regulamento para aquisição dos lotes. O concelho está servido de infraestruturas, de estradas e de equipamentos, o que precisa neste momento é de manutenção do que temos e que já não é pouco – é quase metade do ITI [Investimentos Territoriais Integrados] que temos na CIMBSE. Mas chegou o momento de dar este passo em frente de tomar conta daquilo que está na ordem do dia: usar as novas tecnologias para consolidar plataformas e fazer com que as pessoas conheçam o concelho da Mêda, que venham cá. São recursos que facilitam essa divulgação e afirmação das nossas potencialidades.
P – Mas do que se trata em concreto a ligação com a Câmara de Comércio e Indústria Fanco-Portuguesa?
R – O objetivo é estabelecer um elo de ligação com os muitos medenses e outros naturais da região que estão radicados em França. A Casa Luso-Francesa vai assinar um protocolo com a Câmara para ter essa incumbência de contactar pessoas, empresários, potenciais investidores, e de os encaminhar para a Mêda, trazendo o seu “know-how”, para poderem trabalhar, fazer coisas interessantes e trazerem mais riqueza para o concelho. Poderão dizer que isto é muito futurista, mas o caminho tem que ser esse, de abrir as portas ao mundo e de proporcionar as possibilidades das pessoas virem para cá ou regressarem. Há tanta gente que, sendo da Mêda, está a dar cartas noutras terras, noutros países.
P – E quanto à incubadora de empresas?
R – Vai servir para acolher jovens empreendedores, dando-lhes todas as condições para lançarem os seus negócios com o apoio da Câmara. É um projeto, que a par do espaço de “cowork”, proporcionará todas as possibilidades para trabalhar a partir daqui seja no que for. Estamos a recuperar uma antiga casa no centro da cidade para o efeito e iremos elaborar o respetivo regulamento, sendo certo que os interessados vão beneficiar de condições na Mêda para evoluir na sua profissão e concretizarem os seus negócios.
P – É com estes projetos que espera cumprir a promessa que fez quando tomou posse, da Mêda ter 5.000 habitantes no final deste mandato?
R – É um objetivo difícil e não é, até porque penso que neste momento está a aumentar o número de habitantes, mas também não tenho grades ilusões sobre isso, se vou conseguir ou não. O que me interessa é fazer as coisas, o caminho faz-se caminhando, há-de haver um dia em que a Mêda chegará a esse número. Isso é uma ambição que nunca é perdida, seja por que autarca for. Acho que pus no mapa algumas coisas que eram importantes, a Mêda está neste momento no caminho certo, as pessoas até dizem que há muitos empregos na Mêda, seja na agricultura ou noutras áreas. Não há desemprego, portanto isso vai-se refletir, mais dia menos dia. Atualmente, há no concelho muita gente da Argentina, do Uruguai, do Brasil e dos PALOP. Já pensei em fazer programas para atrair profissões liberais, professores ou médicos e a Câmara ajudar, essa é uma função das autarquias. Temos tantas carências que temos muito que fazer, o que é preciso é saber em que circunstâncias e qual é o melhor momento.
P – Neste momento qual é a principal carência do concelho e como pode ser resolvida?
R – A grande carência do concelho é alguma população que tira os seus cursos e que se vai embora, que não quer saber da Mêda. Acho que muito gente formada – e, felizmente, há muita gente nessas condições – poderia ponderar essa hipótese porque a fixação de jovens é importante. Por várias vezes contactei jovens engenheiros e arquitetos a quem perguntei se queriam vir para cá e eles responderam que a Mêda ficava muito longe e que não valia a pena porque estavam muito bem onde estavam, em Coimbra, Lisboa ou no Porto. É a vida, habituaram-se!
P – Mas é possível contrariar essa tendência?
R – É sempre, mas tem de haver políticas do Estado, que tem de ajudar, porque as Câmaras só por si não conseguem fazer isso. Tem de haver programas para trazer jovens para estes territórios, não é dizer que os há e depois é um trinta e um para aceder a esses programas, eles nunca conseguem. Terá de haver políticas consistentes para a coesão territorial. Vamos cá ter a ministra, se calhar até lhe vou lançar um desafio para ver se conseguimos mais gente, mais trabalhadores. Quando saí da Câmara, em 2008, tínhamos quatro ou cinco engenheiros, agora temos um, ninguém quer vir. Aqueles que estavam aproveitaram a mobilidade e foram-se embora, ficou apenas um que se reformou. Agora está só um, se também decidir sair não sei como vou fazer. Tenho suprido algumas lacunas com alguma habilidade, através da contratação de equipas externas, só assim é que consigo colmatar esse problema, mas fica mais caro.
P – Estamos a meio do mandato, qual é o seu balanço? Já conseguiu recuperar financeiramente a autarquia, a Câmara reassumiu a gestão das termas de Longroiva…
R – O meu programa incidia principalmente nalgumas dessas vertentes. Conseguimos pôr a parte económica ao serviço da população, alocando as verbas de fundos comunitários que estavam paradas. Queremos arrumar a casa através da criação de uma nova estrutura orgânica, com nova dinâmica, e trazer mais gente se for possível porque não há quadros – quase que não concorre ninguém aos muitos concursos que abrimos. Por exemplo, a Câmara da Mêda só tem um engenheiro, o que é ridículo para o volume de obras que tem e ele não dá conta do recado. Excetuando esse problema da falta de recursos humanos, posso dizer que me sinto muito feliz por aquilo que já fiz nestes dois anos. Não vou enfatizar, mas colocar a Mêda no mapa foi sempre um dos meus objetivos e partia do pressuposto de resolvermos alguns problemas, caso das Termas de Longroiva. A solução foi encontrada e as termas estão a funcionar na sua plenitude sob a gestão do município e com muita procura. Também desbloqueámos o projeto da nova zona industrial, que estava parada e as obras já estão em fase adiantada. Estamos a apoiar as pessoas em termos de saúde custeando as operações às cataratas, também, não era muito aliciante pôr as piscinas a funcionar, mas neste Verão tivemos ali mais de 600 pessoas por dia. Estamos também empenhados em dar um rumo novo ao concelho. Neste momento estamos com projetos para reabilitar o património municipal, como era o caso das piscinas, da Casa da Cultura e do Museu Municipal, que não tinham condições nenhumas, nalguns casos até lá chovia. Todos estes equipamentos vão ser reabilitados. Tivemos também algumas vicissitudes, nomeadamente com as intempéries em maio/ junho, que a Câmara está a resolver com um apoio de mais de um milhão de euros e neste momento estamos a por projetos no terreno para ir buscar esse financiamento. Tivemos a seca e conseguimos por o tarifário da água em condições de não sermos penalizados. Já se fez muita coisa e há muita vontade de fazer, também com alguma impaciência por as coisas não serem feitas, mas isso é natural.
P – Como está o projeto do novo parque empresarial, que esteve parado no mandato do seu antecessor?
R – Estava parado e agora está a evoluir, penso que até ao final do ano conseguiremos concluí-lo com a execução de uma nova rotunda para facilitar a entrada de pesados e viaturas.
P – No caso das Termas de Longroiva, conseguiu reabrir e pôr o equipamento a funcionar….
R – Isso foi sempre uma das nossas bandeiras, de pôr as termas ao serviço do povo. Outra coisa que é importante são os transportes. Os medenses não têm transportes para ir à Guarda e voltar e neste momento isso está resolvido através de uma parceria intermunicipal com as Câmaras de Vila Nova de Foz Côa, Mêda, Trancoso Celorico da Beira e Guarda, no âmbito da CIM. Estes municípios juntaram-se e conseguiram uma coisa importante que era simples e óbvia: criar um circuito de transporte público de passageiros de Foz Côa até à Guarda, e vice-versa. É um projeto que facilita a vida das pessoas, que podem ir apanhar o comboio a Celorico da Beira, quando reabrir a Linha da Beira Alta, ir a consultas à Guarda ou a repartições públicas.
P – Como vai funcionar esse serviço?
R – Vai haver um autocarro de manhã para a Guarda, que regressará ao final do dia. Vai arrancar numa fase experimental com saída de Foz Côa e paragens na Mêda, Trancoso, Vila Franca das Naves, Celorico da Beira e Guarda, fazendo o percurso inverso à tarde. Será uma espécie de “expresso” a nível regional que não poderá parar em todas as estações por uma questão de gestão do tempo. Por exemplo, um habitante do concelho da Mêda terá que vir à cidade apanhar o autocarro. Este é um projeto que vai fazer a diferença e que vai custar pouco à Câmara, cerca de 2.000 euros por mês, sendo que cada município pagará um valor correspondente ao seu território. De resto, vão ser cobrados bilhetes, mas será pouco.
P – Falou do protocolo que a Câmara tem com a Fundação Álvaro de Carvalho para operações às cataratas. Foi uma aposta deste executivo com que resultados?
R – Tem tido bons resultados, já vamos em cerca de 40 operações. Estamos a suprir algo que devia ser da responsabilidade do Estado, mas se estivéssemos à espera do Estado as pessoas ficavam cegas. Houve uma ou duas Câmaras do distrito que se adiantaram nesta matéria e nós também fizemos esse protocolo com a Fundação Álvaro de Carvalho. As pessoas saem daqui de manhã num autocarro da Câmara, que paga metade da operação, o resto é suportado pela Fundação, são operadas em Castelo Branco e no dia seguinte estão bem. Tem sido um sucesso e as pessoas estão muito contentes.
P – E em termos de saúde, também há carência de médicos no concelho?
R – Há sempre essa dificuldade porque o Estado ainda não entendeu que é preciso atender aos médicos e fazer com que também venham para o interior. Só há uma maneira de o fazer, é pagar-lhes, nem vale a pena regatear porque se há médicos a mais eles têm de vir para o interior. E fazer como faziam antigamente aos funcionários públicos com concursos, quem quiser vir vem quem não quiser fica onde está, e não obrigá-los, mas pagar-lhes. Hoje em dia, as pessoas já têm outras prioridades, querem outras coisas e não uma vida como a que tiveram aqueles primeiros médicos que vieram para a Mêda. Aliás, nós até temos um bloco habitacional que serve para acolher os clínicos que venham para cá.
P – Nestes primeiros dois anos de mandato quais foram as principais dificuldades que encontrou?
R – As pessoas não estavam habituadas a governar em coligação. São coisas que, embora sendo positivas, dão um formato diferente à governação, são duas sensibilidades, dois partidos e acho que tem corrido bem. Quanto a mim, como já tenho alguma idade e passei por muito sítios, consigo conciliar as coisas, saber o que é bom e o que é mau e nunca me oponho a que, seja quem for, queira fazer coisas boas. Somos poucos a trabalhar na coligação que governa a Câmara da Mêda, somos três contra dois do PS. Os socialistas têm fases que se comportam como deve ser e outras nem tanto, mas tenho de aceitar a política como ela é e a política local, por vezes, é muito mesquinha… Às vezes, as pessoas pensam que terem perdido as eleições foi um descalabro, não, acontece e o povo lá tem a sua razão. Se me perguntar se vou recandidatar-me respondo-lhe que não sei o que vai ser da minha vida, mas ainda é cedo para dizer. Eu fui convidado para concorrer de novo à Câmara da Mêda e o projeto era fazer aquilo que fiz e estou a fazer. A política andava ainda pior do que anda agora, eu vim tentar resolver alguns problemas, resolvemos e estamos convencidos que estamos a fazer bem. Ressuscitei a ExpoMêda, que era algo muito importante para o concelho.