P – Como vai ser a 751ª edição da Feria de São Bartolomeu, em Trancoso, que este ano vai bater o recorde de expositores? A que se deve essa procura?
R – Deve-se naturalmente a tudo quanto se tem feito e ao que tem acontecido de bom em Trancoso. A comemoração dos 750 anos da feira, em 2023, a divulgação, a promoção e o sucesso que foi essa edição também ajudaram a que a procura fosse ainda maior este ano. Além disso, há toda uma tradição, porque a Feira de São Bartolomeu é a feira franca mais antiga do país, foi criada em 1273, enquanto a de Viseu surgiu 119 anos mais tarde, em 1392. Não temos nada contra a Feira de São Mateus, mas contra factos não há argumentos. Depois, também porque se realiza num espaço com todas as condições, num excelente pavilhão e muito próximo do centro histórico. As pessoas vêm para ir à feira, mas também para visitar o nosso património, as muralhas, o castelo, os nossos equipamentos culturais, como a Casa do Bandarra ou o Centro Isaac Cardoso. Vai ser mais um ano muito importante porque é, sem dúvida, o maior evento comercial do distrito da Guarda e da região. São dez dias com muito movimento, muita animação e que trazem muita gente a Trancoso. Outra característica importante é que a Feira de São Bartolomeu se realiza numa altura em que temos por cá muitos dos nossos emigrantes, que são os verdadeiros embaixadores de Trancoso pelo mundo fora, pelo que também tem esta parte sentimental, de afetos, de confraternização.
P – Concretamente, quantos expositores vão marcar presença no certame de 9 a 18 de agosto?
R – Este ano devemos chegar aos 215/ 220, ou seja, mais dez ou quinze que na edição anterior. São expositores de artesanato, bazares, maquinaria agrícola – temos cerca de 15 concessionários neste ramo –, as diversões – tivemos que recusar algumas por falta de espaço, apesar da feira se realizar em mais três hectares. Este ano também houve uma grande procura na área dos concessionários automóveis, novos e usados, e há ainda a restauração, as tasquinhas e o Pavilhão Multiusos, que acolhe expositores institucionais e uma mostra de atividades económicas. Por isso, não tenho dúvidas que vão ser dez dias com um retorno muito grande para a economia local. Sabemos que os pagamentos e levantamentos nas caixas multibanco no mês de agosto, durante a feira, são muito superiores aos efetuados nos restantes meses do ano, e não tenho dúvidas que isso se deve à Feira de São Bartolomeu.
P – A Câmara tem outros indicadores que confirmam o impacto económico do certame no concelho?
R – Temos o controlo das entradas no recinto da feira, mas há também que ter em conta que nas manhãs das sextas-feiras são 10 a 15 mil pessoas que vêm ao mercado semanal. Não temos outros indicadores, a não ser aquilo que as pessoas nos transmitem. O número de visitantes é fácil de calcular graças à bilheteira. No ano passado tivemos um total de 115 mil pessoas que entraram no recinto.
P – Este ano há algumas novidades?
R – O espaço foi ampliado fruto da requalificação provisória de um arruamento contíguo ao Campo da Feira. Esta área está em fase de ser propriedade do município porque a PACETEG já é, agora sim, uma empresa municipal. Vamos colocar um relvado sintético sobre esse pavimento, que era um transtorno para quem por ali anda e até provocava alguns acidentes. A feira vai ter três entradas, sendo que a que estava perto do parque municipal foi deslocada para junto da capela de São Bartolomeu para que os visitantes passem pela feira entes de irem ver os espetáculos. As outras entradas mantêm-se em frente às Portas d’El Rei e junto à entrada do Pavilhão Multiusos, do lado da CGD. Também alterámos a disposição de alguns setores, nomeadamente dos automóveis, que ficam mais à entrada do recinto em troca com as diversões, que este ano estarão mais no interior. Isto porque as diversões tiravam grande visibilidade aos restantes setores. Já o artesanato voltou para um espaço muito mais próximo do Pavilhão Multiusos, do lado da CGD, para que se consiga também encaminhar muito mais pessoas para a mostra das atividades económicas. Outra novidade é a existência de ecrãs LED no pavilhão para ver os espetáculos. Já a área da restauração conta com mais quatro participantes, num total que ultrapassa a dezena. Creio que a feira estará melhor e será uma surpresa para muitos visitantes.
P – Em termos de cartaz musical, o município volta a apostar forte para trazer pessoas à feira. O que destaca?
R – Já nos habituámos a ter cartazes de referência ao longo ano, procurando ir ao encontro das mais diversas faixas etárias e dos gostos musicais. Tivemos há dias o Festival de Música no Castelo com três grandes concertos na Praça D. Dinis e vamos ter agora mais dez noites com um cartaz que vai trazer muita gente a Trancoso. Começamos no dia 9 com os Calema e esperamos uma enchente, tal como no dia 10 com os GNR, enquanto no dia 11 teremos o 35º Festival de Folclore da Associação Cultural e Recreativa de Trancoso com cinco ranchos e à noite sobe ao palco a dupla de humoristas Quim Roscas e Zeca Estacionâncio. No dia 12 temos os Karetus e na noite seguinte será a vez de Emanuel. Sara Correia (dia 14), Zé Amaro (dia 15), Nininho Vaz Maia (dia 16) e The Gift (dia 17) são outras propostas para a Feira de São Bartolomeu, que termina na tarde de 18 de agosto com o grupo Sons do Minho. Do programa constam ainda vários DJ’s para animar as noites até às 4 da manhã.
P – Quanto vai custar o bilhete?
R – O preço geral para os dez dias é de 20 euros, que é um valor muito acessível. O bilhete diário vai custar 3 euros à exceção do concerto dos Calema, que será de 5 euros. Aos domingos a entrada é livre.
P – E qual é o investimento nesta edição da Feira de São Bartolomeu?
R – Ultrapassa os 400 mil euros, cartaz e logística incluída, temos ainda o aluguer dos stands que fica na ordem dos 60 mil euros e a vigilância… Mas, com este cartaz, se vendermos entre 60 a 70 mil bilhetes temos os artistas pagos. Além disso, todos os espaços e stands são pagos, o que é também uma receita significativa. O importante é que são dez dias com muito retorno para a economia local, da restauração ao alojamento, passando pelo nosso comércio tradicional e o turismo. Toda a gente beneficia com esta feira. Aliás, no último dia vamos ter uma feira/ mostra de gado no pavilhão do gado. A marca feira de gado de Trancoso já passou para o município – pertencia à sociedade Feiras e Mercados de Trancoso, que tinha como sócios a Câmara, a AENEBEIRA e a cooperativa – e pretendemos retomar os mercados de gado mensais na última sexta-feira de cada mês. Vamos ver se já será possível realizá-la em setembro, pelo menos nos pequenos ruminantes. A pecuária e a agricultura são setores extremamente importantes para o concelho, onde ainda temos cerca de 16 mil ovinos e caprinos. Há também a fileira da castanha, que temos trabalhado muito, como os setores do azeite, do vinho e do fumeiro.
P – Quantos criadores vão participar?
R – Temos capacidade para 35 a 40 parques e não tenho dúvida que vai ficar completamente cheio. Há criadores de outros concelhos que quem participar, mas só o poderão fazer se houver espaço porque a prioridade são os produtores do concelho.
«Gostaríamos que a nova direção da AENEBEIRA surgisse até final de setembro»
P – O parceiro da Câmara de Trancoso na organização da feira é a AENEBEIRA, que está a passar por dificuldades. Como está a acompanhar a situação?
R – Com alguma preocupação porque desde setembro que a direção da associação empresarial está em gestão. Mesmo assim os quatro ou cinco funcionários que se mantêm têm sido de uma dedicação muito grande e têm colaborado com a Câmara na organização desta e de outras iniciativas. É certo que tivemos que assumir todo o investimento na Feira de São Bartolomeu, mas a parceria mantém-se. Gostaríamos que surgisse uma nova direção até ao final de setembro deste ano, é mais ou menos isso que estamos a aguardar. A AENEBEIRA é uma instituição necessária, importante, não só para Trancoso, como para um conjunto de concelhos aqui à volta, para fazer um trabalho muito válido junto dos nossos comerciantes e empresários. Só desejo que daqui até setembro se consiga resolver a situação e estabilizar a associação.
P – E qual tem sido o contributo da autarquia para solucionar o problema?
R – A Câmara já participou nalgumas reuniões com vários associados e o que lhes dissemos é que poderiam contar sempre connosco, venha quem vier. Anualmente, atribuímos um apoio financeiro à AENEBEIRA – não é muito – e iremos continuar a fazê-lo. O associativismo e as instituições do concelho são muito importantes, aliás, sempre foram muito apoiadas nestes últimos dez anos. Poderíamos não ter dinheiro para fazer muitas obras, mas nunca deixámos de as apoiar, tal como as Juntas de Freguesia. Foi uma estratégia que deu frutos porque, hoje, o associativismo está no auge no concelho. As coletividades, as IPSS, os bombeiros, os grupos desportivos, a AENEBEIRA, a Raia Histórica, fazem coisas extraordinárias e sem o seu contributo a Câmara não conseguiria fazer o que faz. Procurámos uma estratégia de cooperação e deu resultado, esta foi uma marca que deixamos destes mandatos. Outra marca importante foram os eventos, pois, apesar das dificuldades financeiras que atravessámos, nunca deixámos de realizar feiras e festivais que divulgassem Trancoso, que é um autêntico museu a céu aberto. São milhares de pessoas que nos visitam, por exemplo, no castelo temos uma média de 100 entradas diárias. E isso é fruto desta marca de Trancoso que procuramos divulgar o mais longe possível…
«2023 foi o melhor ano em termos turísticos»
P – Como está Trancoso em termos turísticos?
R – 2023 foi o melhor ano de sempre em termos de turistas, fruto do nosso património, do centro histórico, que é um dos mais expressivos do país, com as Portas d’El Rei, as muralhas medievais, as igrejas e os pelourinhos, o castelo, a judiaria, a Casa Bandarra, o Centro de Interpretação Isaac Cardoso. Depois, também pelas boas acessibilidades, porque hoje em dia é muito fácil vir a Trancoso. Há ainda as figuras históricas, como Gonçalo Vasques Coutinho, o Bandarra, Isaac Cardoso, os factos históricos como as bodas reais de D. Dinis e da Rainha Santa, em 1282, que todos os anos evocamos e trazem milhares de pessoas. A própria Batalha de Trancoso, travada a 29 de maio de 1385, que antecedeu a Batalha de Aljubarrota e teve um contributo muito grande para a manutenção da independência de Portugal, além disso temos uma longa tradição de feiras e mercados fortes. A nós cabe-nos manter este património, cuidar do centro histórico e do espaço público. Vamos requalificar a rotunda da zona industrial, na ligação para Fiães, com uma alusão aos bombeiros e também em Vila Franca das Naves iremos avançar com a requalificação da rotunda dos Vilares, já assinámos o acordo de gestão com a Infraestruturas de Portugal para podermos intervir e colocar um elemento alusivo à CP e aos caminhos de ferro.
P – Essa tendência de crescimento turístico continua a verificar-se este ano?
R – Sim, em 2024 tem até havido meses em que melhorámos. No entanto, estamos a notar que há uma quebra no turismo judaico devido, obviamente, à situação no Médio Oriente.
P – Há um ano foi inaugurada a incubadora de empresas Trancoso Invest, foi uma aposta que valeu a pena? Como está em termos de ocupação?
R – Foi uma aposta certa, aliás, a melhor que podíamos ter feito. Nestes primeiros seis meses do ano já celebrámos contratos de comodato com nove empresas. Três ou quatro daqui, mas muitas de fora, nomeadamente empresários da África do Sul e do Canadá. Não são muitos postos de trabalho criados, mas é muito importante terem vindo para Trancoso. As candidaturas continuam abertas, estamos a divulgar o Trancoso Invest, que é um espaço com todas as condições para trabalhar e desenvolver projetos de empreendedorismo. Teria sido muito fácil a Câmara mudar-se para este espaço por causa das obras nos Paços do Concelho, mas se assim fosse estaríamos a colocar em causa a finalidade deste edifício e adiar a instalação de empresas.
P – Que negócios já se fazem aqui?
R – Temos empresas ligadas à área do turismo, ao turismo arqueológico, aos produtos locais, à tecnologia, à agricultura de precisão, à engenharia civil, à arquitetura e à psicologia/ saúde. Mantém-se a possibilidade de disponibilizarmos a cozinha experimental, o auditório e outros espaços comuns sempre que solicitados. O objetivo era atrair empresas e criar mais alguns postos de trabalho, o que é muito importante para Trancoso. Veja-se que a vinda do Pingo Doce criou mais 51 postos de trabalho e não houve nenhuma loja tradicional que tivesse fechado. Aliás, a dificuldade é agora as empresas arranjarem mão de obra e também a nível do alojamento.
P – Outra obra iniciada há pouco mais de um ano foi a reabilitação dos Paços do Concelho. Como está a empreitada?
R – Era um edifício que tinha muitas patologias, desde a cobertura, a caixilharia, as madeiras, a eficiência energética, que não tínhamos, a estrutura. Colocava mesmo em risco quem ali trabalhava porque o próprio aquecimento era feito através de 40 a 50 aquecedores a gaz. Trata-se de um edifício de 1917 e não tinha tido qualquer intervenção profunda. Todo o interior foi demolido e agora a obra está a decorrer a bom ritmo, a empresa está a cumprir e é expectável que no final deste ano a empreitada esteja mesmo concluída. Em 2025 já estaremos a trabalhar nos novos Paços do Concelho. É um esforço financeiro ainda significativo que rondará os 1,4 milhões de euros, sem equipamento – estamos a tratar do procedimento para o mobiliário –, temos dois contratos-programa de 600 mil euros com a Direção-Geral das Autarquias Locais, mas a Câmara ainda tem que investir cerca de 800 mil euros.
P – E para quando está prevista a inauguração da necrópole de Moreira de Rei, que é outro “ex-libris” do concelho?
R – Está também numa fase final. Foram feitas todas as escavações arqueológicas, todos os levantamentos e estudos, e já começámos a aterrar as sepulturas que não reuniam condições para ficarem expostas. A Igreja de Santa Marinha também está reabilitada, falta apenas instalar o equipamento, os conteúdos digitais e alguns dos achados… São mais de 670 sepulturas, das quais cerca de 300 tinham ossadas. Entretanto, rescindimos com a empresa, porque isto levou quatro a cinco anos, e estamos agora a fazer alguns trabalhos com os nossos meios. Acredito que até ao final deste Verão, princípio do Outono, a obra ficará concluída, pois falta apenas colocar as plataformas metálicas e efetuar pequenos arranjos. A necrópole de Moreira de Rei vai ser de grande importância cultural, histórica e patrimonial, até porque é a maior da Península Ibérica. Será importante para o concelho, para a região, para o país e para o mundo. Todas aquelas sepulturas causam algum impacto e o espaço tem atraído muitos visitantes, mas serão muitos mais quando o projeto estiver terminado.
«Aguardamos o visto do Tribunal de Contas sobre acordo para resolver parceria público-privada»
P – Estamos em 2024, falta um ano para o final deste mandato, que será o último de Amílcar Salvador. Como está a autarquia em termos financeiros?
R – Já falámos disso diversas vezes, tivemos mesmo muitas dificuldades porque estávamos no limite em termos de dívida em 2013, com cerca de 11,5 milhões de euros de dívida registada. Apareceram depois 22 ações judiciais, que fomos resolvendo, mas que implicaram o pagamento de cerca de 5 milhões de euros. Tínhamos ainda uma situação decorrente da parceria público-privada relativamente à central de camionagem, ao Campo da Feira e ao Centro Cultural Miguel Madeira, em Vila Franca das Naves, que resolvemos após um trabalho muito difícil, persistente, junto da CGD, da MRG e da liquidatária da empresa municipal TEGEC – Trancoso Eventos. Chegámos a um consenso, submetemos todo o processo para visto do Tribunal de Contas no dia 17 de julho e aguardamos o parecer final. Se o visto for favorável, como esperamos, também há uma redução muito significativa dos custos inicialmente previstos, que seriam de 23 milhões de euros, mais IVA, ou seja, 29 milhões durante 20 anos, mas com este novo acordo o máximo a pagar será da ordem dos 13 milhões. Isto é, teremos uma poupança de cerca de 15 milhões de euros. Se tivermos este visto, a situação financeira da Câmara de Trancoso ficará estabilizada, com apenas 3 milhões na dívida registada, mais os 7,5 milhões resultantes deste acordo, que fará com que esses equipamentos fiquem definitivamente na posse do município e se acabem todos os litígios judiciais.
P – Foi difícil chegar a esse acordo?
R – Foi muito difícil porque a burocracia é muito grande, havia muitas entidades envolvidas e muito dinheiro em jogo. Todos fomos cedendo, mas conseguirmos convencer os nossos parceiros que era a melhor solução para todos. A Câmara já utilizava aqueles edifícios, havia rendas por pagar, mas que eram exorbitantes e que a autarquia jamais poderia pagar. Se tudo correr bem, poderemos chegar ao final do ano com os tais 10 milhões de euros e não com os 25 milhões que nos eram exigidos há dez anos. Foi uma década de contas certas, de muito trabalho e de fazer obra que era essencial. Na rede viária falta-nos requalificar duas ou três estradas, cujos concursos iremos lançar por estes dias. Trata-se da estrada Castaíde-Sintrão-Rio de Moinhos-Sameiro até Rio de Mel, o ramal de Carapito e uma ligação aos Montes. De resto, repavimentámos praticamente todas as estradas municipais. No património, temos um conjunto de equipamentos e obras na sede e por todo o concelho. Neste momento estamos a requalificar cinco antigas escolas primárias: a de Moimentinha já foi entregue a uma IPSS local; na Venda do Cepo, próximo da Serra do Pisco, vai dar lugar a um centro de BTT que será inaugurado em novembro; temos um albergue com oito beliches, um quarto de casal, cozinha e casa de banho em Vale do Seixo; a escola primária de Vila Franca das Naves vai acolher associações locais, tal como a escola de Maçal da Ribeira. Temos ainda um projeto para transformar a escola de Falachos em habitação. Ainda em Vila Franca das Naves terá início no dia 12 de agosto a requalificação da Rua das Naves, que liga a adega cooperativa à EN226 e estava em muito mau estado, num investimento que ultrapassa os 100 mil euros. Estamos a preparar a requalificação do Largo do Mercado de Vila Franca das Naves, cuja elaboração do projeto já foi adjudicada por 30 mil euros. É uma intervenção que poderá ser da ordem dos 500 a 600 mil euros e vai dignificar todo aquele espaço. Temos, no âmbito no Centro 2020, a requalificação da zona industrial de Vila Franca das Naves e no 2030 temos um grande projeto que é o Museu da Cidade, cuja obra queremos lançar em breve. Em síntese, ao longo destes mandatos tivemos o controlo das contas, honrámos os compromissos que vinham do passado, fizemos obra, apoiámos muito as associações e Juntas de Freguesia, criamos um ciclo de eventos e, acima de tudo, fizemos um trabalho de proximidade muito grande com os trancosenses, o que nos orgulha muito. Criamos um Serviço Integrado de Mobilidade (SIM), que transporta mensalmente cerca de 600 pessoas das freguesias rurais para a sede do concelho durante a semana. temos também uma ligação rápida, de autocarro, para a Guarda no âmbito de uma carreira implementada pela CIMBSE e CIM Douro. No Gabinete de Apoio ao Emigrante temos atendido mais de 1.100 pessoas por ano, já o Espaço do Cidadão em Vila Franca das Naves foi uma mais-valia para aquela zona do concelho. Trancoso tem tudo, tem qualidade de vida, ar puro, segurança, tempo, aquilo que as grandes cidades não têm.
P – Que obras gostaria de concretizar ou, pelo menos, iniciar até ao final deste último mandato?
R – Ainda falta muito tempo para terminar este mandato e até lá muitas coisas vamos fazer. Iremos inaugurar um conjunto de obras que estão na sua fase final, como a necrópole de Moreira de Rei, a ETAR de Vila Franca das Naves, o centro BTT, as estradas que iremos repavimentar, o edifício dos Paços do Concelho, que é a maior obra deste mandato em conjunto com a Trancoso Invest. Do que falta fazer destaco a requalificação do Largo do Mercado e a zona industrial de Vila Franca das Naves, a repavimentação de algumas estradas e o lançamento de um projeto que considero âncora para Trancoso, que é o Museu da Cidade no antigo Palácio Ducal. O projeto está elaborado e em fase de revisão, foram apontadas algumas alterações e já voltou ao gabinete que está a fazer essa revisão. Elaborado pela Universidade da Beira Interior, é um projeto de 3,4 milhões de euros e que queremos lançar no próximo ano, aliás, tem financiamento assegurando no âmbito da CIMBSE. Como queremos também avançar, logo que tenhamos condições, com o parque de lazer na barragem da Teja e intervir no Campo da Batalha de Trancoso – temos alertado a Direção Regional de Cultura e a Direção-Geral do Património Cultural, que nada têm decidido ou permitido. No entanto, ainda não perdemos a esperança de requalificar aquele espaço onde todos os anos celebramos o nosso feriado municipal. De resto, queremos continuar com o ciclo de eventos, as feiras, apoiar os nossos agricultores e o comércio…
P – Qual é o valor do financiamento do PRR que o município de Trancoso tem assegurado?
R – No PRR temos cerca de 900 mil euros para a requalificação da muralha e das Portas do Carvalho, 1,2 milhões de euros para a construção das nove habitações a custos controlados e submetemos a candidatura de 6,9 milhões de euros para reabilitação do parque escolar, pois as nossas escolas estão na lista das prioritárias. São investimentos significativos que já estão comprometidos, mas ainda podemos ir mais além a nível da habitação. No Centro 2030 temos outros projetos, que já referi anteriormente.
P – Em termos de saúde, Trancoso é um concelho que tem passado “entre os pingos da chuva” dos problemas que afetam o setor…
R – Tem havido algumas dificuldades pontuais, mas mesmo assim o Centro de Saúde tem dado resposta. Ainda há um número significativo de utentes sem médico de família – eu sou um deles desde que o doutor Rui Teixeira se aposentou, felizmente tenho tido saúde… Nos demais serviços públicos não houve encerramentos, temos um Julgado de Paz em Vila Franca das Naves, a mais recente área de localização empresarial está praticamente cheia… Portanto, temos todas as condições para podermos viver aqui e é isso que tentamos incutir aos nossos jovens e empresários.
P – Está preocupado com o facto da Linha da Beira Alta demorar a reabrir? Quais são as consequências do fecho desta via?
R – Estamos preocupados. E o que mais estranhamos é a falta de informação. O encerramento da estação de Vila Franca das Naves devido às obras aconteceu a 19 de abril de 2022, há dois anos e quatro meses. Claro que se, naquela altura, não nos tivessem sido criadas aquelas expetativas que seriam apenas nove meses, provavelmente até nem teríamos achado muito que a linha estivesse encerrada dois anos. Era para reabrir até final de 2023, mas já estamos em 2024 e a obra tem-se arrastado, sem grandes explicações aos autarcas, à CIMBSE e às populações. A estação de Vila Franca das Naves é uma mais-valia muito grande porque recebia pessoas não só do concelho, como de Foz Côa, Mêda, Pinhel e Figueira de Castelo Rodrigo. A Câmara de Trancoso até teve um diálogo muito produtivo e profícuo com a Infraestruturas de Portugal a propósito de uma travessia pedonal que inicialmente não estava prevista e que conseguimos que ficasse na estação de Vila Franca das Naves, isso foi muito positivo para ligar a população de um e do outro lado da linha. Contudo, estranhamos que não tenham sido comunicados às autarquias os motivos destes atrasos, continuamos a questionar a Infraestruturas de Portugal sobre a previsão de reabertura da linha, que é uma ligação importante e rápida a Coimbra, Lisboa e ao Porto, mas nada.
P – Acha que a abolição das portagens na A25 e A23 vai ser benéfica para Trancoso?
R – Ficamos muito satisfeitos com essa decisão, até sob o aspeto psicológico porque andamos muitos anos a ouvir muitas pessoas a dizer – e era verdade! – que gastavam quase tanto em portagens como em combustível. Muitas delas deixaram de vir aos nossos territórios e creio que a partir do momento em que as portagens sejam abolidas essas e outras pessoas virão conhecer as muitas coisas boas que temos por cá.