Especial 822 Anos Cidade da Guarda Sociedade

«Infelizmente, há muitas marcas que vamos ter que deixar porque muito já devia ter sido feito na Guarda»

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Escrito por Efigénia Marques

Há pouco mais de um mês na presidência da Câmara da Guarda, Sérgio Costa diz que ainda é cedo para falar em projetos. A sua prioridade é fazer um levantamento financeiro e dos dossiers herdados no município. Em entrevista a O INTERIOR a propósito do Dia da Cidade, o autarca lamenta os atrasos dos Passadiços do Mondego e do plano de urbanização do Cabroeiro. Quanto à transformação da antiga Casa da Legião num museu de arte contemporânea com a coleção Piné, Sérgio Costa diz que tudo não passou de um embuste.

P – Que prenda gostaria de receber o presidente da Câmara nos 822 anos da Guarda?
R – As que gostaríamos de receber são do Estado central, como o financiamento dos Passadiços do Mondego – são 3,6 milhões de euros sem qualquer apoio neste momento, mas também o início do projeto do porto seco e das variantes dos Galegos e da Sequeira, da responsabilidade do Estado. Aqui tem quatro belas prendas que gostaríamos de receber, de ver cumpridas as promessas feitas.

P – Disse que encontrou uma Câmara administrativamente abandonada, um mês depois de tomar posse “já arrumou” a casa?
R – Continuamos a arrumar. Nomeámos a chefia em falta para começarmos a trabalhar e continuamos paulatinamente com toda a calma e serenidade a reorganizar o novo modus operandi que queremos incutir, sempre em estreita articulação e com a ajuda dos nossos funcionários.

P – Já escolheu os elementos do seu gabinete? Quem são?
R – As escolhas estão feitas e a seu tempo falaremos sobre essa matéria.

P – Foi eleito com maioria relativa, mas tem repetido que quem ganha governa. Que cedências está disposto a fazer para governar com tranquilidade?
R – A Guarda foi muito clara nas eleições e cabe a cada uma das forças políticas ajudar a governar este executivo. Tivemos o caso da delegação de competências, que acabou por ser aprovada por unanimidade e é com este espírito de franca abertura que se deve trabalhar neste mandato. Quem assim não entender, quem quiser estar sempre a olhar apenas para o umbigo, com ressabiamento dos resultados eleitorais e a ambição de que, amanhã, vai ser candidato novamente, desengane-se porque nada disto acontece. A água não passa duas vezes sob a mesma ponte.

P – Como encontrou a Câmara em termos financeiros?
R – Está a ser feito o levantamento e o relatório intercalar será apresentado numa das próximas reuniões de Câmara…

P – Espera que não haja grandes surpresas?
R – Espero que não. Em 2017, com a extinção dos SMAS – com a qual nunca concordei e nunca votei –, foram entregues 8,5 milhões de euros ao município. Queremos saber quanto está nas contas atualmente e o que se passou em quatro anos, o que entrou de receita, o que saiu de despesa. E nos últimos dois anos, em tempo de pandemia, quando, infelizmente, muitas das realizações ficaram por fazer, queremos saber o que se passou financeiramente.

P – Supostamente esse montante terá sido utilizado para reduzir a dívida do município. Foi o que aconteceu, ou espera que esse dinheiro esteja em caixa?
R – Espero que não tenha sido utilizado dessa forma e que esteja em caixa. Aliás, de 2017 a 2021 muito mais dinheiro pode entrar em caixa. Não esperamos encontrar surpresas e ter dinheiro disponível, até para alavancar investimentos futuros dos fundos comunitários, como o 2030 e o PRR – Programa de Recuperação e Resiliência, e muitas vezes temos que andar à frente com dinheiro…

P – Concretamente, o que pensa conseguir de financiamentos comunitários e do PRR e quais são as grandes opções neste momento?
R – Na campanha eleitoral foi tudo devidamente discutido e agora, no executivo, temos que concretizar o nosso programa eleitoral na área da economia e da inovação…

P – Comprometeu-se nomeadamente a baixar IMI para as empresas, os cidadãos também beneficiarão dessa medida?
R – É uma análise que estamos a fazer para o orçamento. Neste momento não vale a pena falar de percentagens porque é esse impacto financeiro nas contas do município que estamos a verificar em função dos saldos orçamentais que havia e dos que há agora. Só depois iremos propor medidas.

P – Como está o projeto da cidade desportiva junto ao parque urbano do Rio Diz?
R – Tomámos posse há um mês, estamos a reorganizar a casa, a “beber” muita informação de muitos dossiers que não foram passados – e há muitos. Há assuntos importantes e muito complicados que deveriam ter sido passados condignamente. Mas, paulatinamente, estamos a recolher essa informação para tomarmos decisões e a seu tempo começaremos a trabalhar no planeamento, no projeto, dessa cidade desportiva e de outros projetos com os quais nos comprometemos no nosso programa eleitoral.

P – Outra das suas propostas eleitorais é mudar o local da feira quinzenal para o vale de São Francisco. Qual é a sua posição sobre o futuro da feira?
R – No espaço da atual feira vai ser plantada a nova mata municipal da Guarda e no vale de São Francisco será projetado o novo espaço da feira, entre outras coisas que ali cabem. Há figuras jurídicas e do ordenamento do território que podem e devem ser implementados, e a seu tempo falaremos sobre isso. O processo ainda não iniciou e vai demorar alguns meses a arrancar, pelo que não vale a pena fazermos como a cigarra. Nós gostamos muito de ser formiguinhas, o “canto da cigarra” é feito com um simples clique num botão. Há uma expressão que o povo usa, que é “cadelas apressadas têm filhos cegos”.

P – A ideia de criar áreas empresariais e de incubação de empresas nalgumas aldeias é viável?
R – A nossa ambição na área da economia é a duplicação da plataforma logística, do parque industrial, da zona empresarial da Arrifana, no Outeiro de São Miguel, de Vale de Estrela e a criação de dez/ doze áreas empresariais noutras freguesias. Neste mandato, no todo ou em parte, é possível iniciar este projeto, mas temos de estar atentos aos fundos comunitários. Trata-se de áreas de localização empresarial para dinamizar freguesias onde já existe alguma economia, há espaço disponível e articulação com as vias de comunicação.

P– Como está o processo do Hotel Turismo?
R – Dia 23 [esta terça-feira] fecha o concurso, esperemos que haja concorrentes, mas que sejam empresas e empresários com experiência na área turística e hoteleira. Que não sejam investidores imobiliários, como já aconteceu no passado. Mas se nada acontecer e, por hipótese, o concurso ficar deserto, teremos que falar com o Estado para que, se este não for capaz de resolver o problema, o negócio voltar atrás e entregarem o hotel à Câmara, que fará rapidamente um caderno de encargos e um concurso público, limpo e transparente. Não estamos interessados nem saberemos gerir o hotel, porque nenhum município tem essa vocação, têm que ser os hoteleiros a fazê-lo.

P – A sua promessa durante a campanha é que o assunto será resolvido, prometeu inclusivamente que, até ao final do mandato, o hotel estará aberto.
R – É esse o nosso compromisso, mas não depende apenas de nós. Depende sobretudo do Estado. Vamos esperar pelo dia 23 e pelo que irá acontecer.

P – Um dos problemas da Guarda é fixar médicos. Prometeu criar incentivos para o efeito? Quais e como vai fazê-lo?
R – O Conselho Municipal de Saúde será criado nos próximos meses e será ali que todas as forças vivas da cidade poderão falar sobre as infraestruturas, os equipamentos, a ampliação da segunda fase do Hospital Sousa Martins – que percebemos que tenha que ser feita de forma faseada, tal como esperamos que rapidamente seja adjudicada e se inicie a construção do Centro Materno-Infantil. Também a requalificação do vulgarmente conhecido “edifício do comboio” deve ter seguimento. Ao nível dos recursos humanos é preciso perceber o porquê de eles não ficarem na Guarda e o que nos dizem muitos profissionais de saúde, médicos e não só, é que às vezes não é só a questão financeira que os preocupa. A habitação resolve-se de uma ou outra forma, o que é preciso é perceber qual a qualidade de vida que estes profissionais querem ter e que a Guarda lhes pode dar. Terá também que se lhes criar as condições para que possam aqui fazer investigação e proporcionar progressão nas suas carreiras, daí falarmos também no Centro de Investigação Nacional do Envelhecimento, em estreita parceria com o Estado, a ULS e o IPG. É importante puxarmos por este bom investimento no hospital porque é à sua volta que andam todas as valências, uma vez que com o envelhecimento todas as doenças aparecem.

P – Como estão os projetos das variantes da Sequeira e dos Galegos, da responsabilidade da Infraestruturas de Portugal?
R – Já pedi uma reunião com a tutela para perceber como está o assunto porque é um processo que não ficará para trás. No último ano e meio não ouvi falar nada sobre ele, nem sei o que foi feito, mas a população da Guarda já julgou isso. Da minha parte, irei pugnar pela sua construção.

P – E sobre o porto seco, o que defende concretamente? Vai-se avançar com a localização para lá do bairro de Nª Sra. de Fátima para a zona onde está o canil?
R – Não há uma pessoa na Guarda que não queira o porto seco. Em primeiro lugar, o porto seco não pode ser um estaleiro de contentores, como vemos noutros pontos do país. Deve ser um depósito de matérias-primas para fazer “impor/export”, a agregação e desagregação de cargas para que se possam fixar empresas e serviços na Guarda para fazer as transações comerciais para o país e estrangeiro. Um porto seco deve criar mais-valias no território. Mas também é verdade que tem que surgir no local certo e é isso que vamos estudar com o agendamento de uma reunião com a tutela governamental, com os serviços desconcentrados e as empresas públicas para resolvermos rapidamente este imbróglio.

P – Mais importante do que a identificação dos atrasos dos Passadiços do Mondego, que este executivo já fez, é agora importante percebermos se em março de 2022 estarão concluídos. Que garantias tem quanto ao cumprimento desse prazo?
R – Havia um compromisso público de que no dia 27 de novembro estariam prontos e não vão estar. Essa é a informação técnica que temos, aliás, nas reuniões técnicas que iniciámos nas mais diversas empreitadas para perceber o que se passa em cada uma, aquilo que nos é dito é que em março poderão estar concluídos, mas o que mais nos preocupa são as infraestruturas para as quais não foi lançado o concurso, que não estão licenciadas, tais como os caminhos de acesso, uma casa de banho, uma zona de estar ou um simples parque de estacionamento, sem os quais os passadiços não podem abrir ao público. Nunca há uma segunda oportunidade para criar uma primeira boa impressão. Se o turista que vai aos passadiços e não tiver as condições mínimas de segurança, de higiene, de comunicação com rede “wi-fi” ao longo do percurso, rapidamente vai falar mal dos passadiços. O que queremos é que falem bem. Teremos que lançar uma boa campanha turística, não quando estiverem prontos, é atempadamente, mas nada tem sido feito até agora nem sobre a sua gestão, a segurança e a bilhética. Nós vamos ter agora que pensar rapidamente em tanta coisa e em tão pouco tempo.

P – Num tempo em que há tantos passadiços – já arrancaram as obras dos passadiços do Côa –, que ideia tem sobre as dinâmicas a criar para afirmar os passadiços do Mondego pela sua dimensão, pela relação com a Serra da Estrela e o rio Mondego? Acha que será um projeto de grande sucesso e uma âncora em termos turísticos?
R – Vemos o exemplo de alguns passadiços no país que são diferenciadores seja por uma ponte ou pelo “rafting”. Temos que criar outras âncoras, outras atrações, à volta deste projeto porque os passadiços sozinhos não conseguem ser âncora.

P – A Guarda foi, durante muitos anos, uma cidade que, em termos turísticos, viveu essencialmente do seu centro histórico, abandonado e moribundo, e da Sé Catedral. Ambiciona que a Guarda seja mais do que isso? O que vai fazer, nomeadamente no centro histórico, onde continua a haver um ar de abandono?
R – É verdade, e no nosso programa eleitoral lá temos também uma medida para o centro histórico, que é o apoio à reabilitação das casas através de formas de financiamento aos proprietários para a recuperação das fachadas e dos telhados, de forma a consolidar aquele casco histórico tão antigo e tão bonito. Mas tem tanto de bonito como de abandonado e de devoluto, infelizmente. É este combate que devemos fazer: reabilitar para depois lhe dar vida, porque temos que colocar pessoas e economia no centro histórico, além do turismo.

P – O seu antecessor anunciou que havia condições para serem criados mil postos de trabalho este ano na Guarda, sendo certo que a pandemia terá atrasado alguns projetos. Já se inteirou desses investimentos e está otimista em relação a alguns deles? Ou não passa tudo de conversa?
R – Pois não sei, foi mais um dossier – e logo tão importante – que não foi passado a este executivo. Paulatinamente, estamos a perceber onde estão os dossiers de várias empresas, mas o dos mil postos de trabalho não o encontramos. Não sabemos onde estão… Vamos falando com as empresas e com outras que já vieram ao nosso encontro, mas é com calma que isso deve ser tratado, nada de muito concreto, de muito definido, ainda é cedo. Temos que trabalhar como a formiga, agora esse dossier dos mil postos de trabalho não o conhecemos.

P – Entrou para os órgãos sociais da Associação Nacional dos Autarcas Independentes, significa isto que gostaria de manter o movimento “Pela Guarda” – tem futuro ou foi um movimento de circunstância? Poderá regressar ao PSD quando não houver nenhum empecilho para tal?
R – O que seja dito sobre a minha pessoa que não seja ouvido da minha boca é mentira, não corresponde à verdade. Durante 25/ 26 anos fui orgulhosamente militante do PSD, quem não se orgulha do seu passado jamais convive no presente para almejar viver ou governar no futuro. A Guarda escolheu a via independente e devemos saber respeitar isso, e sentimo-nos bem como independentes.

P – Mas não pretende, não se vê, regressar ao PSD?
R – Não fazemos futurologia, mas neste momento não vemos nada no horizonte. Nos próximos quatro anos só vemos uma coisa: governar a Guarda. É isso que a Guarda quer, governar com pessoas, muito para além das quezílias políticas e daqueles quistos partidários que andam à volta das cúpulas para se servirem dos partidos. Os eleitores quiseram eleger alguém que servisse a Guarda, foi para isso que fomos eleitos e é esse o nosso grande lema, trabalhando com todos e para todos.

P – Acha que num mandato poderá deixar a sua marca na cidade? Quatro anos é tempo suficiente para promover, desenvolver, implementar, o seu projeto para a Guarda?
R – Em quatro anos é possível iniciar algumas marcas, nós sempre falámos num plano a 20 anos. Temos uma pirâmide demográfica difícil na Guarda e anda tudo à volta disto. Em 20 anos temos que ter a ambição, muito para além da minha pessoa, da minha equipa, do movimento “Pela Guarda”, de pôr em prática o tal pacto pelo desenvolvimento do concelho.

P – Mas qual é a marca que gostava de deixar?
R – Há tantas marcas que a Guarda precisa, basta olhar para o nosso programa eleitoral, ele fala por si. Infelizmente, há muitas marcas que vamos ter que deixar porque muito já devia ter sido feito, a começar pela autoestima da cidade e dos guardenses – e a comunicação social também tem esse papel, falemos todos bem da Guarda. Não há ninguém nas outras cidades que fale mal da própria terra para fora, é o que a Guarda deve fazer também, independentemente das discussões políticas que devem ser feitas sempre.

«Todo o investimento feito em terrenos públicos ou é da Câmara ou tem que ser alvo de um concurso público limpo e transparente»

P – Como está o plano de urbanização da Quinta do Cabroeiro, que foi retirado da última Assembleia Municipal do mandato anterior, que esteve na ordem de trabalhos da última reunião de Câmara e também foi retirado. O que se passou e o que vai ser feito pelo novo presidente da Câmara?
R – Essa é mais uma discussão estéril, mas alguns gostam disso. Nós não. O assunto foi retirado porque, depois de analisada a informação, achámos que a substância técnica não era acompanhada da devida justificação e pedimos aos técnicos para que fosse complementada. O assunto veio à reunião de Câmara da passada segunda-feira e vamos reabrir o processo.

P – É um projeto pelo qual irá continuar a lutar?
R – O plano de urbanização do Cabroeiro começou com a minha assinatura, já lá vão três anos. Infelizmente não chegou ao fim, mas devemos saber respeitar as decisões da Assembleia Municipal.

P – O executivo anterior apresentou, com alguma pompa e circunstância, a instalação de um hospital privado e de uma residência sénior nos terrenos do antigo matadouro. Esse compromisso vai manter-se?
R – Estamos a analisar os compromissos que foram firmados…

P – Mas acha que faz sentido, ou não?
R – Todo o investimento que seja feito em terrenos públicos, ou é feito pela Câmara ou tem que ser alvo de um concurso público limpo e transparente. É com isso que os guardenses devem contar da nossa parte. A Câmara deve ajudar sempre ao licenciamento de qualquer investimento privado, porque está a gerar economia e postos de trabalho, mas não tem que ser necessariamente nos terrenos do município, ainda para mais sem qualquer concurso público. Isso é entregar de mão beijada, como diz o povo, um terreno a uma qualquer entidade, não é assim que as coisas se devem fazer. Estamos a analisar os compromissos escritos, mas há uma coisa que é certa: nos terrenos do matadouro não se vai construir nenhuma habitação, conforme estava previsto. Isso garantimos nós, até porque é uma zona de equipamentos. Deve-se saber discutir com a sociedade o que ali deve ser feito. Se um investidor quiser fazer uma ERPI, como era o caso, mais uma clínica de exames de diagnóstico, pode fazê-lo em qualquer lugar da cidade. Compra o terreno e faz, e o município estará ao seu lado a promover o licenciamento.

«Não há qualquer protocolo com a Associação Nacional de Farmácias para a cedência da coleção Piné»

P – Em concreto, há duas casas na Praça Velha adquiridas pelo anterior executivo para o Solar dos Sabores, é um projeto que pretende manter?
R – Em primeiro lugar devemos falar com a Comunidade Intermunicipal, ali instalada, que precisará de crescer e de mais espaço. Ainda bem que assim é porque terá mais postos de trabalho, mais capitalidade – a capital das Beiras e Serra da Estrela é e será a Guarda – e temos que saber das necessidades da CIMBSE. Essa é a primeira das prioridades, mas queremos também que a Praça Velha tenha mais vida e, para isso, temos que conseguir os fundos comunitários necessários para dar vida e levar as pessoas ao centro histórico e à Praça Luís de Camões.

P – Nessa zona, outro projeto de que se tem falado ultimamente é a recuperação da antiga Casa da Legião para acolher o Museu Piné. Há alguma ideia em concreto ou é um projeto que neste momento não está em cima da mesa?
R – Isso leva-nos novamente à dicotomia entre a formiga e a cigarra. Não há qualquer protocolo da Câmara da Guarda com a Associação Nacional de Farmácias para a cedência, a que título seja, da coleção Piné. Não há nada, sei do que falo porque ainda ontem estive em Lisboa a falar sobre essa matéria. Não há qualquer compromisso…


P – E agora?
R – Em primeiro lugar, porque a cidade o pede, independentemente no futuro de se falar da coleção Piné – não quero falar sobre isso pelo respeito que o senhor Piné, a população e a Associação Nacional de Farmácias me merecem, a mim e à Câmara. Mas no que diz respeito àquele espaço, completamente devoluto, recuperar o edifício poderá custar qualquer coisa como cerca de 2 milhões de euros. Mas a cidade pede uma discussão pública sobre o que fazer naquele espaço, se é a sua recuperação independentemente do uso, ou se é simplesmente fazer um parque de estacionamento subterrâneo e criar uma grande praça na entrada principal da Sé Catedral. É isso que a Guarda precisa, nós vamos ouvindo dúvidas aqui e ali, então temos que abrir a discussão à cidade. Por isso, é um projeto que fica em suspenso. Não está em causa a coleção Piné, que a Guarda não sabe o que é, a sua dimensão… Aquele edifício é demasiado grande para isso, eu sei o que é a belíssima coleção Piné, e as coisas devem ser bem pensadas, bem fundamentadas, com o trabalho de formiga, e só depois fazer o canto da cigarra. Por isso não queremos, por hora, falar da coleção Piné.

P – Qual a sua expetativa relativamente à candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura em 2027?
R – Espero que corra bem. Foi apresentada por estes dias e vamos esperar. A ordem que demos foi que continuem a fazer o que estava previsto, era impensável darmos qualquer outra indicação.

P – Portanto, continua a achar que é uma grande aposta para a Guarda…
R – Claro que é. Não sei o que foi feito, o conteúdo do último ano e meio, o que conhecemos é que a sociedade guardense deveria ter sido mais envolvida do que foi, seja ao nível das associações culturais, das Juntas de Freguesia, das escolas. Mas espero que a candidatura da Guarda corra bem. O resultado sairá em finais de fevereiro, início de março, estamos expectantes, esperemos mesmo que corra bem.

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Efigénia Marques

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