Entrevista Política

Entrevista de Francisco Dias: «Só faço promessas que dependam diretamente das competências do presidente»

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Escrito por Efigénia Marques

Francisco Dias, 61 anos, técnico superior da Câmara Municipal da Guarda, é o candidato do CHEGA nas próximas autárquicas

P – Caso seja eleito, quais são os principais projetos/ideias chave que pretende concretizar ao longo do mandato?
R – Antes das soluções, preferiria apontar alguns aspetos negativos para depois apontar as soluções. A Câmara da Guarda tem uma governação de 40 anos socialista e de oito anos social-democrata e, como tal, deu origem a uma cidade que não está bem, que perdeu as centralidades que tinha. Temos uma zona desertificada e envelhecida, bem como zonas históricas na cidade e nas aldeias ao abandono. Em contrapartida temos um património do “renascimento” que são as rotundas como marrachos que vieram dar algumas melhorias na acessibilidade, mas que custaram milhares de euros. Temos um hospital que está a definhar e que pode desaparecer de um momento para o outro se não for tomada decisão rápida e drástica. Portanto, o hospital não é só culpa do Governo, que tem adotado medidas desajustadas, porque só investe no litoral, onde há mais votos. No entanto, verificamos que aqui no interior existem hospitais, na Covilhã, Castelo Branco e Viseu, que estão bem e o da Guarda está mal. Portanto, alguma coisa também se passa no interior da organização do nosso hospital. Antes de mais, proponho que os candidatos à Câmara façam uma greve de fome nas escadas da Assembleia da República para que os médicos venham em igual número para a Guarda como para Castelo Branco. Depois é preciso fazer uma análise interna ao que se passa de errado no nosso hospital. Quanto ao resto, não posso fazer grandes promessas, aliás, eu só faço promessas que dependam diretamente das competências do presidente e depois de ouvir os guardenses, o que é fundamental. No entanto, há uma coisa que tenho e não posso prometer – e admira-me como os outros candidatos prometem – que é uma dívida de 32 milhões de euros para pagar à empresa Águas Zêzere e Côa por um negócio ruinoso que o PS fez no tempo da presidente Maria do Carmo Borges, e que foi continuado pelo PSD. Na altura, entregámos parte da exploração da água e do saneamento à empresa das Águas Zêzere e Côa e ficámos com a parte ruim, das redes de distribuição velhas e com a parte da recolha dos esgotos e chuva, pagando um balúrdio à empresa para compra e tratamento desses bens. É por esse motivo que temos água cara na Guarda, com a agravante que começámos a receber o dinheiro dos clientes e deixámos de pagar ao fornecedor. Se a empresa não fosse idónea poderia ter cortado o abastecimento de água à cidade. Perante esta situação, não posso prometer 900 postos de trabalho até ao final do ano, a duplicação do parque industrial, a vinda de um hospital privado que não se sabe o que é. O que posso prometer aos guardenses é a baixa do IMI para os mínimos e reorganizar aquela casa.

P – Quando diz «reorganizar aquela casa», a que se refere em concreto?
R – Trabalho há 28 anos na Câmara Municipal da Guarda, sempre na área da Água e Saneamento. E o que eu tenho verificado é que as políticas são sempre de curto prazo, de obras feitas a pensar na forma de conquistar o mandato seguinte. Ou seja, temos de ter políticas estruturantes e a médio e longo prazo para que a Guarda se desenvolva. Sou funcionário da Câmara e sinto isto na pele com alguma tristeza, porque os guardenses têm uma má imagem do funcionamento da autarquia. Os processos demoram dois anos até serem resolvidos, por vezes o cliente não é bem atendido, as coisas não são feitas da forma mais clara e transparente e a burocracia é muita. Então proponho criar três gabinetes que me parecem fundamentais: um de contratação pública que cumpra escrupulosamente as leis de transparência da contratação, com funcionários que tenham formação constante e sejam isentos e devidamente controlados. Haverá outro para fiscalizar se os privados estão a cumprir aquilo que está definido no caderno de encargos. Por último, e penso que será o “coração” da Câmara, quero um gabinete de auditoria interna e consultoria externa com um conjunto de peritos em determinadas áreas, nomeadamente gestão, economia, psicologia, engenharia, veterinária.

P – Como técnico superior da Câmara da Guarda tem sentido ou algum dia sentiu algum tipo de pressão por parte do executivo, desde que assumiu a candidatura?
R – Não, não senti qualquer pressão do executivo.

P – Integra um partido que tem sido associado à extrema-direita, mas até agora a sua campanha não tem sido de radicalismos, pretende continuar assim?
R – Não renego o partido a que pertenço e que foi vítima de ataques violentos, principalmente nas presidenciais, inclusivamente por parte da comunicação social e na campanha, o que me pareceu descabido. Mas nas autárquicas mais importante que o partido é a pessoa e é a Guarda, a nossa cidade. Portanto, tenho um discurso nada radical e continuarei sempre assim: sempre a pensar nos guardenses e a tentar ouvir o que eles pretendem. Eu quero ouvir o que querem para a cidade e concelho e que o orçamento seja o mais participativo possível. O que garanto é que não vou prometer coisas que não possa fazer.

P – Ou seja, ao longo da campanha, o discurso que vai adotar é o que as pessoas querem ouvir, as suas necessidades e queixas ou aquilo que realmente pretende fazer ao longo do mandato?
R – Não estou aqui para dizer o que as pessoas querem ouvir, estou cá para dizer aquilo que acho que é melhor para os guardenses. Mas para isso tenho que auscultar as opiniões dos guardenses. Por exemplo, a mudança da estátua de D. Sancho devia ser referendada para que o povo da Guarda se pronunciasse sobre o melhor local e, em função da maioria, tomar-se-ia uma decisão conjunta. A mim interessa-me dizer que sou honesto, sincero, que vou trabalhar, vou ser rigoroso e que vou fazer políticas de médio e longo prazo, mesmo que isso me custe a perda do mandato seguinte.

P – Os candidatos do CHEGA no concelho da Guarda têm sido os únicos a meter as mãos à obra. Estas ações são para continuar, mesmo que não vençam as autárquicas ou foi “só para inglês ver” na campanha?
R – São as duas coisas. Sejamos claros, logicamente que o candidato à Assembleia de Freguesia da Guarda não vai passar a vida a limpar ruas no futuro quando for presidente da Junta, mas é a demonstração evidente de que estamos dispostos a dar o corpo ao manifesto. Ele achou que o exemplo tem que partir de cima e limpou determinadas zonas da cidade – e há muitas mais pela cidade fora que estão em um estado calamitoso e vergonhoso. Foi uma demonstração de que estamos preparados para isso e para lhe dar continuidade caso sejamos eleitos vereadores. Mas se não formos teremos uma palavra ativa na limpeza da cidade.

P – Esta entrevista foi mais direcionada para a cidade, mas qual é a radiografia que faz do concelho no fim deste mandato?
R – O concelho da Guarda está mal, como a Guarda. Temos um conjunto de aldeias completamente desertificadas. Eu vou fazer campanha a um conjunto de aldeias e falo com 30 ou 40 pessoas. A agricultura desapareceu e, portanto, há que recuperar a agricultura, o que é fácil. Só temos que olhar para o concelho não aldeia a aldeia, mas de uma forma mais abrangente, de zonas maiores que permitam um planeamento mais adequado.

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Efigénia Marques

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