Entrevista

Entrevista a Sérgio Costa «Quem não tem orgulho no seu passado não pode ajudar a construir o futuro»

Dsc 6160
Escrito por Efigénia Marques

Sérgio Costa, 45 anos, engenheiro mecânico, vereador na Câmara da Guarda e candidato independente do movimento “Pela Guarda”

P – Qual é neste momento a radiografia que faz do concelho no final deste mandato autárquico, ou seja, qual a radiografia que faz não só dos últimos 4 anos, mas desde 2013 e de cujo executivo fez parte até há ano e meio?
R- Nós temos ouvido muitas e muitas pessoas. E a radiografia que nós temos é fruto da auscultação dessas pessoas. Aquilo que nos dizem é que temos uma cidade ao abandono, os espaços verdes por tratar, as estradas não estão a ser mantidas. Continuamos a ter ruas com lixo espalhado e isso não pode acontecer e o mesmo a dizer ao desânimo dos empresários ao não serem tratados com equidade e que querem muitas vezes aumentar os seus investimentos e não têm condições para tal. E esta é a radiografia que fazemos do concelho que nós temos neste momento, fruto da auscultação que tivemos com tantos e tantos guardenses.

P – Acha que a tal qualidade de vida, que sempre se associa à Guarda, pode estar em risco, porque os espaços públicos estão menos bem cuidados, é isso?
R- Sem dúvida alguma. Os espaços públicos têm de ser cuidados. Nós gostamos de sair de nossas casas e por toda a cidade gostamos de ter uma cidade limpa e bonita e não é o que acontece ou aquilo que nós vemos. Basta sair da nossa porta e vemos que está uma cidade destratada. E esse paradigma, que foi bem tratado noutros tempos, tem de voltar a acontecer para elevar a autoestima dos guardenses para que nós andemos sempre com um sorriso na cara porque vemos uma cidade bem tratada.

P- Quando era vereador com pelouros tinha nomeadamente essa área. Houve desde então deterioração?
R- Em conjunto com uma vasta equipa técnica que me acompanhava, havia sempre essa preocupação. Ter uma cidade limpa, cuidada, uma cidade bem mantida. Não só para os nossos olhos, mas muito para os olhos de quem nos visita. E qualidade de vida também é isto. Temos de estar bem connosco próprios. Os olhos também comem, é assim que diz o povo e nós temos de saber mostrar que nós temos a capacidade de ter uma cidade bonita como já foi noutros tempos.

P- Para além dos pontos relacionados com a vida urbana, quais os outros pontos negativos que existem na Guarda?
R- Há tanta e tanta coisa que está mal na Guarda. Mas os guardenses querem olhar para a frente e é para a frente que nós devemos olhar. Águas passadas não movem moinhos. Há tanta e tanta coisa, basta falar com as pessoas na rua, na cidade, nos bairros, nas aldeias, na vila de Gonçalo, basta falar com as pessoas, porque melhor do que nós saberão dizer o que está mal.

P- E o que está bem? De positivo, o que poderá destacar?
R- O aspeto positivo é mesmo a capacidade de resistência e resiliência dos nossos empresários, que continuam a resistir e a ficar nesta faixa raiana do país. E os empresários com essa capacidade de resiliência e resistência têm mostrado que querem aqui ficar e que querem continuar a investir. E eu devo enaltecer muito isso.

P- Isto é um balanço que também tem o seu cunho, que para o bem e para o mal fez parte da gestão da governação da cidade, mas será que podemos dizer que há um antes e um depois de Sérgio Costa enquanto vereador do executivo municipal?
R- Isso é inequívoco. Eu tenho muito orgulho do meu passado e quem não tem orgulho no passado não pode ajudar a construir o futuro. A preocupação que eu tive enquanto vereador durante seis anos e meio foi manter uma cidade limpa, apoiar os empresários no gabinete sem necessidade de andar a fazer fotografias todos os dias. A governação da câmara vai muito mais além das redes sociais. É preciso, muitas vezes, no segredo dos nossos gabinetes com as empresas ajudá-las a resolver os seus problemas. E o mesmo a dizer a toda a população com os problemas que nós nos vamos deparando e as pessoas nos vão dizendo nas soleiras das suas portas e aproveitando muitas vezes as ideias que nos vão dizendo. Tanta e tanta coisa que foi bem feita, mas a Guarda tem de retomar aos tempos em que a autoestima estava bem elevada, em que as empresas eram verdadeiramente apoiadas, em que os nossos bairros eram bem tratados e as associações estavam bem acompanhadas.

P- Quais são os projetos de Sérgio Costa para o concelho da Guarda?
R- Permita-me fazer uma correção: não são os projetos de Sérgio Costa, são os projetos do movimento Pela Guarda, porque o movimento tem 360 pessoas nas suas candidaturas e todas elas são tratadas de forma exatamente igual. Desde o cabeça de lista à câmara até ao último da Assembleia Municipal ou da freguesia mais pequena do concelho. Somos todos iguais no movimento Pela Guarda. E o nosso programa foi construído com todos e para todos. É assim que se deve trabalhar.
Nós estamos todos convocados para um problema que nos assola a todos: a desertificação, a falta de população. É inequívoco aquilo que aconteceu nos últimos 10 anos, e nós não podemos simplesmente considerar que somos os melhores entre os piores. Isso é errado. Nós devemos ajudar num espírito de entreajuda regional. E a Guarda tem de se afirmar como uma capital de distrito, obrigando o Estado central a propor medidas necessárias para nos próximos 10, 20 anos invertermos esta pirâmide, que é a desgraça demográfica.
E nós temos de saber atrair as empresas. As empresas que estão na Plataforma Logística tenho o grato prazer de dizer que, juntamente com a equipa técnica que me acompanhava, essas empresas fixaram-se na Plataforma Logística, honra seja feita a quem me ajudou à fixação de algumas, foi com grande prazer que ajudei a fixar algumas delas. Mas temos de continuar esse trabalho, duplicar a Plataforma Logística nos próximos 10 anos, o tal parque para a Economia2040, onde todos os candidatos têm de dar a mão. Não vale a pena andarmos a falar mal uns dos outros, a cidade quer muito mais do que isso. Quer desenvolvimento, quer postos de trabalho. É isso que a nossa cidade precisa. Mas nós temos de saber atrair a nossa juventude, temos de criar postos de trabalho e muitas vezes de forma diversificada, sendo diferente da oferta habitual que temos. A juventude quer qualidade de vida e nós temos qualidade de vida na Guarda. Precisamos de mais equipamentos desportivos, e por isso ambicionamos criar a nova Cidade Desportiva, no rio Diz, paredes meias com o Parque Urbano, com o nosso Parque Polis que está tão maltratado. Tudo isso é muito importante para a qualidade de vida e conseguirmos atrair pessoas, nós temos de ser diferentes do habitual, só desta forma é que nós podemos atrair pessoas.

P- A Guarda é candidata a Capital Europeia da Cultura. É uma aposta a manter, a reforçar?
R- A Capital Europeia da Cultura não sabemos muito bem onde é que ela anda. Sabemos que já foi gasto cerca de um milhão de euros, mas na última sessão da Assembleia Municipal não foi apresentado sequer um relatório do estado da arte. Mas naturalmente que nós estamos esperançados que possa sair um resultado positivo para a Guarda, mas como não sabemos do estado da arte nada mais podemos dizer sobre essa matéria.

P- Defende a continuação desse projeto?
R- Mal feito fora se assim não fosse. Algum candidato não apoia essa iniciativa? Apesar de já ter sido gasto um milhão de euros e ninguém sabe bem em quê?

P- Há algum outro aspeto da cultura que queira renovar? Defende uma reorientação da utilização dos espaços públicos da área cultural?
R- Nós temos que ajudar as nossas coletividades e fazermos mais cultura com os de cá. Nós temos tantas potencialidades, tanta gente de cá ligada à arte e à cultura da Guarda e que não está a ser aproveitada. Sejam os residentes ou os que estão fora, mas ambicionam um dia voltar. E essas pessoas têm de ser ajudadas. É mais uma forma de atrair pessoas para a Guarda.

P- Falou na economia, do apoio à atividade empresarial, não falou do Porto Seco que é também um dos projetos que temos muito discutido na cidade. Qual é a sua aposta, a sua visão sobre aquilo que pode ser o projeto Porto Seco?
R- Atualmente, parece que há por aí uns príncipes herdeiros do Porto Seco. O Porto Seco é de todos nós! Eu também poderia dizer que quem colocou o projeto na agenda política fui eu enquanto vereador da câmara da Guarda. Todos temos de dar as mãos para criar o Porto Seco na Guarda, mas o Porto Seco tem que surgir com uma ampla discussão. A localização, com os empresários, com os representantes dos empresários, com a população local, não se pode instalar o Porto Seco contra as populações, pois será um projeto condenado à partida.

P- Na última Assembleia Municipal foi retirado o plano de pormenor da Quinta do Cabroeiro (que inclui a construção da ligação da rotunda dos F’s à Viceg). Se for eleito o que poderá fazer? Irá recuperar este projeto, tem outro tipo de ideia para aquela zona da Guarda?
R- Os tais príncipes herdeiros deviam dizer às pessoas da Guarda que o plano de pormenor estava pronto em março de 2020. E é bom perguntar porque é que ele não avançou na altura.

P- E porque é que não avançou?
R- Não sei, devem perguntar aos príncipes herdeiros. Há um ano e meio que o plano de pormenor estava feito, porque é que não avançou? Mas não há problema, porque a partir de outubro, quando tomarmos posse vamos de imediato reunir os proprietários. Conforme se referiu na AM muitos proprietários não foram contactados! E porquê? Mas algum dia nós podemos pensar em fazer obras contra a vontade das pessoas? A política serve para resolver os problemas às pessoas. O plano será retomado, mas em contacto com as pessoas e será pensado com o futuro da Guarda.

P- O que falhou para a ligação (variante) à Sequeira não ter sido feita?
R- Têm de perguntar a quem está no governo da câmara. No verão de 2018, o documento foi a reunião de câmara e depois mais tarde a variante dos Galegos foi também anunciada na Guarda. Aquilo vai ser tudo financiado pelo programa Ferrovia2020, e a Câmara tem de saber pressionar, mas tem de ter a força política para que isso aconteça. Temos de sair das poltronas dos nossos gabinetes, fazer essa negociação, pressionar as Infraestruturas de Portugal.

P- Vai participar às entidades competentes o projeto do hospital privado?
R- Eu não disse nada disso. Isso é um assunto público. A comunicação social já há várias semanas que vem a anunciar isso, e vem falando do assunto. Quem quiser que investigue, nós não somos investigadores.

P- Se tivesse sido o candidato indicado pelo PSD, como pretendia, hoje estaria a dizer coisas diferentes das que tem vindo a dizer?
R- Tal como já referi estou muito orgulhoso do meu passado. E o passado já lá vai, e neste momento nós somos candidatos “Pela Guarda”, orgulhosamente independentes. E as pessoas estão muito mais preocupadas com o que queremos para o futuro do que andarmos a falar de questiúnculas do passado. É para o futuro que se deve olhar, honrando sempre o dia de ontem.

Sobre o autor

Efigénia Marques

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