P – Quais são os seus principais projetos/ideias-chave, que pretende implementar caso seja eleito nas próximas eleições autárquicas?
R – O nosso desiderato de “trabalho, honestidade e competência” e o pressuposto de dizer que estamos sempre presentes implica valorizar o papel dos trabalhadores do município como condição indispensável para servir os munícipes. Este é um aspeto fundamental, tendo em conta vários equipamentos municipais que existem no concelho, quer na malha urbana, quer no mundo rural, é importante que se agilize todo este conjunto de trabalhadores para servir o desidrato fundamental que é a proximidade do município junto dos seus munícipes. Um dos nossos grandes objetivos passa por captar investimentos com condições objetivas para se fixarem empresas respeitadoras do meio ambiente e fomentar emprego com direitos e políticas sociais. Essas políticas sociais são fundamentais, pois isso é uma parte negativa do município da Guarda, na medida em que é preciso melhorar a componente de apoio à família, as refeições em toda a comunidade escolar e uma rede pública de creches. O nosso foco principal é direcionar os dinheiros públicos da autarquia para uma área que consideramos miserável em termos de resposta aos cidadãos. Outro aspeto é oferecer o serviço público a todos os filhos dos trabalhadores, porque verificamos que a política fiscal não é equitativa. Criar um corredor de transporte urbano com ligação aos polos mais aglutinadores de emprego massificado como Vale de Estrela, Plataforma Logística e parque industrial, é outra medida. A nossa luta para a extinção das portagens é outro aspeto fundamental, pois são custos de contexto penalizadores e, dada a posição da cidade, não se compreende a falta de fixação de empresas no município. Há também uma exigência, que é a ligação da Linha da Beira Alta e linha da Beira Baixa à Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial para implementar um verdadeiro centro logístico.
P – Qual a radiografia que faz do concelho no final deste mandato?
R – Temos verificado que as políticas de gestão autárquica não contrariaram o desinvestimento nas pessoas, o que levou à emigração e à sangria de jovens qualificados em áreas fundamentais, como a saúde, por falta de uma política de habitação transparente e condigna. Há muitas queixas da falta de correlação entre habitação e preço, que é díspar, mas na próxima Assembleia Municipal será aprovado mais um plano de empreendimento urbanístico. Outro aspeto importante é que é incompreensível que na gestão autárquica haja um desinvestimento, uma vez que assumiram a municipalização da cultura. Em polos fundamentais, como é a Casa da Cultura de Famalicão da Serra, de Gonçalo e o TMG, não tem havido uma interligação com os agentes culturais, o que era fundamental para aglutinar a criação artística. Aqui interligamos com o “mamarracho” do Hotel Turismo, da responsabilidade do PS e PSD, que continua ao abandono e em que nós pretendemos uma intervenção para o domínio da área da cultura para servir as populações. Esta é também uma meta, uma vez que a cultura pode ser uma marca identitária da região.
P – O que destaca de negativo?
R – Fizeram-se arranjos com os médicos, como verificamos à entrada do Parque da Saúde, assim como quando infraestruturas básicas de água e saneamento têm custos elevadíssimos. A dívida que foi contraída às Águas do Zêzere e Côa, do grupo Águas de Portugal, se por ventura não se tomarem medidas concretas, a situação vai piorar. A água deve estar disponível a todos os cidadãos e outro aspeto importante era distribuição dos serviços municipalizados de água e saneamento, pois a entrega à Águas de Portugal comprometeu um ativo que tínhamos de produzir água para exportar e estamos agora reféns desse grupo. Isto é um plano engendrado para a privatização do setor da água, situação que a CDU já denunciou e vai denunciar em campanha porque, por interesse privado e pressão sobre o órgão regulador, assim como pela ineficiência politica central, do município e da CIM Beiras e Serra da Estrela, vai resultar no aumento do custo da água após as autárquicas. Este é um vetor bastante negativo, que onera os cidadãos tendo em conta o valor avolumado da dívida e compromete a dinâmica das respostas socias do município. Essa é a nossa senda fundamental porque sem pessoas vamos definhando lentamente.
P – O que destaca de positivo neste mandato?
R – Destaco a tentativa de criação de sinergias com outras comunidades na área da educação, com as requalificações de parques escolares. Foram criados os centros escolares de Gonçalo e do Porto da Carne, mas ainda existem condições que não são as melhores. Temos de repensar a dispersão da comunidade escolar tendo em conta a pandemia, era importante acabar com agrupamentos verticais na cidade e criar agrupamentos horizontais. O despedimento coletivo na DURA, a emigração e a centralização na cidade confirmaram-se quando nós tínhamos uma expetativa positiva na gestão do município, mas foi ilusória no que toca às acessibilidades e à educação, tendo em conta a requalificação da escola da Sé, que é um ponto positivo. O que verificamos é o manietar de dificuldades financeiras do executivo PSD.
P – Nesta campanha a CDU tem condições para crescer em termos de votação?
R – O alcance da melhor votação é importante não apenas para nós. Quando dizemos que estamos para servir as populações é para garantir que os trabalhadores têm uma “arma” que foi conquistada com o 25 de Abril, que é o poder local democrático. Enalteço ainda que nós, PCP e PEV, que constituem a CDU, fomos sempre contra os executivos monocolores, pelo que seria importante haver uma voz ativa que defenda os trabalhadores no executivo da Guarda. Sem hipocrisia, precisamos do voto dos trabalhadores para estarmos mais próximos. Lanço ainda um desafio aos munícipes para que não esqueçam as guerrilhas político-partidárias no seio do PSD e os desavindos, assim como no seio do PS. Apesar das dificuldades que vivemos desde o 25 de Abril no nosso concelho, esta é a oportunidade definitiva para depositar o voto de confiança na CDU, que está ao serviço dos interesses da população e não de interesses ocultos. É uma oportunidade de reforçar a votação e era importante termos acesso ao executivo municipal.
P – O facto de haver uma lista independente vai prejudicar a CDU?
R – Não vamos pensar que o aparecimento de uma lista independente seja um entrave ao crescimento da CDU. Nós consideramos que a diversidade é que pode expor as fragilidades das propostas de quem integra esse projeto, dito independente, pois tiveram responsabilidades na gestão autárquica do PSD. Queiramos ou não, não podemos esconder o nosso passado. Como candidato da CDU, não sacudo a responsabilidade da decisão coletiva em termos de intervenção na Assembleia de Freguesia e na Assembleia Municipal. Eu transporto um espólio coletivo de reflexão que vem desde a participação na vida democrática, através das eleições autárquicas. Defendemos o poder local democrático com um aspeto ainda não realizado, que é a implementação da regionalização.
P – Já não é a primeira vez que concorre à câmara municipal, isto é um sinal que a CDU está com falta de quadros?
R – Não. É um sinal que foi uma decisão coletiva e que teve em conta a minha intervenção na vida pública, que não se resume ao momento autárquico. Acho um paradoxo ver agora muita gente preocupada com a saúde e, enquanto dirigente sindical da CGTP e do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, verifico que muitos dos envolvidos na política nunca apoiaram os trabalhadores da saúde, nem se preocuparam com o SNS. Cabia-me a mim, como militante, assumir esta tarefa, decidida e proposta pelo coletivo.