Entrevista

Entrevista a Carlos Chaves Monteiro «Tenho a certeza que os guardenses nos vão dar as condições de governabilidade necessárias»

Dsc 6091
Escrito por Efigénia Marques

Carlos Chaves Monteiro, 52 anos, advogado, presidente da Câmara da Guarda e candidato do PSD à presidência da autarquia

P – Qual é a radiografia que faz do concelho no final deste mandato?
R – É positiva, basta olhar para os dados da Pordata, onde o concelho da Guarda tem o maior rendimento per capita da Comunidade Intermunicipal, foi aquele que registou o maior crescimento do país dos salários médios dos trabalhadores por conta de outrem em 2019 ex-aequo com Oliveira de Azeméis. Entre 2011 e 2021 não houve perda de população na Guarda, tendo em conta os dados intermédios. Em 2011 tínhamos cerca de 42 mil habitantes e neste momento temos quase 41 mil, mas em 2019 a nossa população era quase de 39 mil habitantes, o que quer dizer que entre esse ano e 2021 houve um aumento de quase mil pessoas. É esse número que registo, ao contrário do que resulta de uma análise macro sem avaliar os dados intermédios.

P – O concelho perdeu mais de 2.000 pessoas, que não ficaram na cidade?
R – A cidade propriamente dita perdeu 94 pessoas e não é verdade que o concelho tenha perdido 2.200 habitantes, segundo os dados intermédios. A maior perda ocorreu de 2011 para 2019. É certo que em dez anos perdemos população, mas na fase final dessa década houve uma subida.

P – Quais são os seus principais projetos para o próximo mandato caso seja eleito? E qual é a grande marca do que está a terminar?
R – A consolidação financeira das contas do município foi a primeira grande marca, a partir daí tudo está em crescendo. Sou um dos principais responsáveis pela recuperação financeira da Câmara porque tinha o pelouro, sempre em articulação com o presidente, mas toda a organização e o pensamento que levaram à consolidação nos primeiros três anos foram definidos por mim.

P – Quanto deve a Câmara da Guarda neste momento? Como está a dívida à Águas de Portugal?
R – São 14 milhões de euros. No caso das Águas de Portugal não é bem uma dívida porque o montante está em discussão litigiosa no tribunal arbitral, por isso enquanto não houver decisão não há dívida. Há um pedido de 30 milhões de euros, mas, feitas as contas, consideramos que essa dívida não ultrapassará os 20 milhões.

P – E a Câmara tem 20 milhões caso seja necessário para liquidar essa dívida?
R – Não. No entanto, a dívida não aumentou porque temos vindo a pagar desde 2018 e, além do mais, temos um pecúlio de 6 milhões de euros que resulta da cobrança da água e que usaremos quando houver entendimento com a empresa sobre o valor em dívida. No passado, o PS nunca conseguiu amealhar nada e deixou somar a dívida, os juros e um dia teremos que contrair um empréstimo para pagar as dívidas que os socialistas deixaram na água.

P – Em termos de projetos, qual é a sua prioridade?
R – Um eixo estratégico é mais investimento e mais emprego. No primeiro caso, estamos articulados a administração pública central e o comando nacional da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro (UEPS) da GNR é um bom exemplo para incentivarmos a deslocalização de serviços. Assinámos o contrato recentemente, houve várias vicissitudes, como o local, a necessidade de encontrar alternativas para os serviços ali instalados, assuntos que não dependiam exclusivamente da autarquia. Mas estivemos sempre disponíveis para fazer o investimento necessário, que vai avançar porque a secretaria de Estado da Ação Social está há meia dúzia de dias no edifício da Segurança Social e o IMT aguarda que seja elaborado o projeto de reabilitação do espaço da antiga JAE. Na vertente empresarial temos criado condições para as empresas ampliarem os seus negócios. Ainda no passado dia 6 assinámos a escritura do contrato de direito de superfície com a Sodecia, que permite ceder 30 mil metros para a empresa aumentar as suas instalações e criar cerca de 200 novos postos de trabalho quando estiver em velocidade de cruzeiro. Na mobilidade elétrica temos dois projetos para iniciar na plataforma logística, onde necessitamos já da terceira fase para albergar todos os projetos em curso. Queremos agora defender este novo “cluster” da mobilidade elétrica. Um destes dois contratos era para ter sido assinado em junho, mas o promotor holandês não se deslocou à Guarda devido à situação pandémica. Visitei recentemente uma empresa, a Isobar, que, quando era vice-presidente, nos tinha pedido um espaço para fixar seis funcionários na área da programação. Atualmente já são 50 e estão há ano e meio a trabalhar numa das salas do estádio municipal. Na semana passada o responsável ligou-me a dizer que querem aumentar o número de trabalhadores e a Câmara cá estará para encontrarmos um novo espaço. Já na área da regeneração urbana vamos requalificar várias áreas da cidade, desde logo a antiga Casa da Legião e algumas casas na Praça Velha para instalar o Solar dos Sabores. Mas queremos ir mais longe, com a requalificação do Largo Frei Pedro ou a construção da Alameda dos F’s…

P – E o diferendo com os proprietários?
R – Independentemente da negociação, o Plano de Urbanização da Quinta do Cabroeiro tem que ser aprovado porque quando o concurso público for lançado a Câmara tem que ter a posse dos terrenos e só aí é que se coloca a questão da negociação. Este plano não colidiu em nada com a negociação dos terrenos, verdadeiramente a primeira coisa a fazer é aprovar um plano de urbanização para aquela área. Depois dessa formalidade, a Câmara vai por a concurso esta obra que ainda será submetida ao visto prévio do Tribunal de Contas. Será neste lapso de tempo que teremos de fazer um acordo com os proprietários, sendo que a perequação continua a ser uma opção.

P – Há algum outro projeto a destacar?
R – No âmbito da mobilidade elétrica não só queremos instalar indústria nesta área, como também criar e melhorar as condições de mobilidade urbana com o centro intermodal que vamos construir na zona baixa da cidade e será servido por transporte rápido e confortável para o centro. Temos também projetada a construção de elevadores ou escadas rolantes para vencer declives muito acentuados na cidade e que poderão ser instalados entre a zona dos Castelos Velhos até à Santa Zita e Largo de São João. Vamos estudar qual a solução que melhor se adequa ao espaço que estamos a tratar.

P – O que está mal na Guarda e será a sua prioridade se for eleito?
R – A regeneração urbana é fundamental. Na judiaria queremos recuperar as fachadas e dotar aquela zona de novas sinaléticas que identifiquem o local e expliquem a história local. Na Praça Velha, o futuro Solar dos Sabores e o museu de arte contemporânea António Piné, na antiga casa da Legião, serão muito alavancadores desse desenvolvimento. Já temos projeto do Solar dos Sabores e estamos a elaborar o projeto do museu. Queremos também melhorar a mobilidade no Largo Frei Pedro e na Misericórdia, dando mais espaço às pessoas. A nossa política também vai entroncar no PRR e vamos apostar na regeneração dos parques industriais, na produção de energia baixa em carbono, no apoio às unidades de produção de hidrogénio verde – uma das empresas vai localizar-se junto à plataforma logística – e a criação de comunidades de energia renováveis. Pretendemos ainda tornar a nossa agricultura mais empresarial com o regadio e a criação de retenções de água pelo território, que já estão identificadas.

P – Como está o processo do Hotel Turismo?
R – Tenho a garantia que há um grupo empresarial interessado no hotel no âmbito do procedimento em curso e tenho a convicção plena que não vai repetir-se o que sucedeu no passado e que este equipamento vai ser devolvido à Guarda, porque nos faz muita falta.

P – E o projeto do Porto Seco?
R – O Porto Seco é fundamental para a criação da zona económica especial especializada em empresas da economia circular, em que os desperdícios de uma são a matéria-prima de outra. Os nossos opositores, que se afirmam os “pais” da ideia do Porto Seco, limitam-se e esgotam-se no conceito tradicional de uma plataforma de receção e distribuição de mercadorias. Ora, nós queremos que neste centro logístico se trate do produto final e não do componente.

P – Das promessas que fez, disse nomeadamente que neste último ano seriam criados cerca de mil postos de trabalho. Ainda será possível?
R – São 200 postos de trabalho que virão para a Guarda com o comando nacional da UEPS da GNR, cujo investimento nas instalações é feito pela Câmara. É um projeto que tem que arrancar este ano…

P – Onde estão os outros 800?
R – A Sodecia vai criar mais 200 quando o seu novo projeto estiver na plenitude e a Coficab mais 80 a 100 postos de trabalho, embora haja algum atraso devido à crise dos semicondutores. Temos o investimento holandês na mobilidade elétrica e a empresa de pellets, que é a maior da península ibérica e entrará em laboração ainda este ano com 80 a 100 trabalhadores. Estes são alguns dos projetos lançados há dois anos e envolvem 67 milhões de euros por parte de 15 empresas na PLIE. Quando estiverem todas a trabalhar serão criados 400 postos de trabalho. E há mais 210 postos de trabalho em perspetiva com o hospital privado e a residência sénior…

P – Este foi o momento certo para apresentar esse projeto para os terrenos do antigo matadouro?
R – Claro que é, a Guarda não pode esperar. Sou presidente de Câmara até ao dia das eleições e praticarei todos os atos, não estou inibido de nenhum. Se no dia 24 aparecer um investidor para assinar um contrato que vá ao encontro dos nossos objetivos de criação de mil postos de trabalho com certeza que assinarei. O que quero é mais economia e mais emprego.

P – Um dos seus argumentos é que a Câmara quer evitar que as pessoas recorram a serviços de saúde privados fora da Guarda. É uma forma de estancar essa “hemorragia”?
R – É uma resposta complementar e compatível com o Serviço Nacional de Saúde, pois percebemos as carências que o SNS tem no nosso território. Se pudermos aportar mais qualidade e mais serviço, com certeza que estamos a ajudar o SNS a ser melhor e a qualidade de vida dos utentes, que têm que fazer exames complementares de diagnóstico, pagos pelo Estado, em clínicas e hospitais privados em Viseu ou Castelo Branco. Portanto, com isto acabamos com uma vicissitude que é altamente prejudicial para o Estado e para os cidadãos e a Guarda ganha qualidade nos serviços de saúde prestados.

P – O que pode fazer o candidato do PSD para conseguir que, no futuro, haja mais médicos e técnicos de saúde para a ULS, considerando, nomeadamente, que foi lançado o concurso para o Pavilhão 5 e a Guarda continua à espera da “segunda fase” de modernização do hospital?
R – O município, como já fez no passado recente, disponibiliza habitações para os médicos interessados. Um deles foi ver uma das casas, mas, entretanto, mudou de planos e saiu da Guarda. Quanto à “segunda fase”, claro que vamos reivindicar que seja feita porque é isso que se impõe. Temos números muito maus em termos de oferta do SNS à nossa população e não aceito esta diferença de tratamento em relação aos cidadãos da Comunidade Intermunicipal, dos centros hospitalares e ULS do interior. Essa desclassificação que afronta os guardenses eu não vou aceitar.

P – A Guarda é candidata a Capital Europeia da Cultura e tem um dos melhores equipamentos culturais do interior, o que pode fazer para alavancar mais esta área?
R – É um sinal positivo que os nossos opositores não tenham falado da cultura porque, afinal, estamos a fazer bem e não é motivo de crítica. Queremos continuar o bom trabalho que tem sido feito, além de apostar na candidatura a Capital Europeia da Cultura em 2027. Será esse o nosso trabalho entre 2022 e 2027, em que se inclui o desenvolvimento do Quarteirão das Artes, a construção do museu António Piné e o eixo assente na cultura popular como fator de desenvolvimento.

P – Ainda existe a possibilidade de abrir a alameda junto ao quartel da GNR?
R – Sim, nunca desistirei dela, mas este é um processo muito difícil, desde logo pelo número de entidades que tutelam aquele espaço. Temos que falar com a Direção-Geral do Património, a Direção-Geral da Cultura, o Ministério da Administração Interna, a Direção-Geral dos Arquivos para demolir parte do muro do quartel e edifícios. Não vamos desistir, mas vai levar alguns anos a resolver isto.

P – Está preparado para governar a Câmara com maioria relativa?
R – Estou preparado para governar como governei até aqui. Tenho a confiança dos guardenses, sei do trabalho que foi realizado até aqui e com esta nova equipa vamos continuar a manter esse nível de qualidade nas opções e projetos. Penso que as ideias influenciam os homens e os guardenses estarão cientes que no dia 26, para continuar este bom trabalho, têm que – e vão dar, tenho a certeza – as condições de governabilidade, estabilidade para mantermos este ciclo de desenvolvimento e de maior crescimento do rendimento dos guardenses.

P – Essa é a sua convicção de que irá ganhar em maioria, mas se isso não acontecer?
R – Não há plano B. Há plano A e é dessa forma que me apresento aos guardenses. É para ganhar com maioria que trabalhamos e que tenho uma equipa motivada. Num período difícil de governação como o que assumi, a meio do mandato, com uma pandemia, não baixámos a guarda e temos a certeza absoluta que a Guarda nos reconhecerá pelo trabalho feito.

Sobre o autor

Efigénia Marques

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