P – As Festas da Cidade da Mêda estão de regresso de 19 a 22 de agosto. O que destaca do evento?
R – Trata-se de uma festa pagã, embora tenha o epíteto do Bom Jesus dos Passos. Anteriormente, era quase totalmente religiosa, cultural e também com algumas festividades locais. Há cerca de 15 anos a festa passou a ter duas vertentes: uma religiosa e outra cultural, laica e civil. A partir daí não houve nenhuma comissão que quisesse assumir e, na minha primeira passagem pela Câmara, entendi que devia ser a Câmara a organizar enquanto Festas da Cidade em honra do Bom Jesus dos Passos. Após dois anos de fraca convivência entre as pessoas, entendemos que tínhamos de fazer algo e preparámos um programa que honra a cidade e os medenses. As festas vão decorrer no pátio das escolas, que é um ótimo recinto. Há cinco tasquinhas com comidas e bebidas. Esta sexta-feira temos os Nemanus e depois os DJ’s, no sábado sobe ao palco o cantor Emanuel, que dispensa apresentações. É um artista conceituado que regressa à Mêda e traz com ele o “Domingão”, o programa da SIC, cujo camião vai circular pela cidade na tarde de domingo, enquanto em Lisboa haverá a participação de empresários e produtores locais. É mais um atrativo, uma inovação, para as nossas festas. Teremos ainda uma jovem que irá cantar e atuará o nosso rancho folclórico. O dia termina com o um tributo aos ABBA e a DJ Rita Mendes. Na segunda-feira, o último dia das festas, teremos um artista local, o Márcio Pereira, e a banda SPS. Haverá também a parte religiosa, com uma procissão às 18 horas no domingo. Na segunda-feira cumpre-se também a tradição de um encontro de futebol.
P – Além da música, estas Festas da Cidade serão também uma oportunidade para promover os produtos locais?
R – Cada coisa a seu tempo, esta é uma festa de promoção do concelho, da sua autonomia, e não haverá uma mostra de produtos locais. Isso é para 11 de novembro, dia do feriado municipal e da Expomêda, que é a nossa feira de atividades e de promoção dos produtos locais. As Festas da Cidade não têm fins lucrativos, têm única e exclusivamente a finalidade de juntar as pessoas, porque nestes dias vão estar milhares de pessoas na Mêda, nomeadamente emigrantes e os medenses espalhados pelo país.
P – Portanto, este cartaz destina-se principalmente a animar a cidade da Mêda, numa altura em que há muitos emigrantes?
R – Somos um concelho com muita emigração em França, Suíça, mas também em Lisboa, Porto, Coimbra, que aproveita esta ocasião para conviver com os amigos e familiares. Por isso quisemos fazer uma festa forte para que as pessoas se sintam dignificadas. A intenção é que esses nossos conterrâneos não percam os laços e continuem a vir à Mêda, que é uma cidade cheia de vida e está a tentar ultrapassar as suas dificuldades.
P – Qual é o orçamento destas Festas da Cidade?
R – É da ordem dos 70/80 mil euros, esse sempre foi o nosso limite. Eu sou muito cauteloso economicamente e se visse que não havia possibilidades de fazer não fazia. Mas vejo que é possível, pelo que há que fazer estas festas, independentemente do custo. Mas se calhar o orçamento ainda vai aumentar um bocadinho por causa da inflação.
P – É com eventos como este ou como a feira medieval, a festa do vinho em Marialva e a Expomêda, prevista para novembro, que se divulga e promove o concelho da Mêda?
R – A minha vinda é um sinal disso, de fortalecer e desenvolver o concelho. Não é uma consideração política, mas saí há 12 anos e voltei porque alguma coisa não estaria bem. Não me ofereci, fui presidente da Câmara durante 24 anos, não é brincadeira, é um recorde que mais ninguém vai bater por causa da limitação dos mandatos. Fui presidente da Assembleia Municipal de Miranda do Corvo, pelo que já tenho quase 40 anos de autarca. Estudei Direito para ser presidente de Câmara e ser autarca, foi uma contradição porque neste momento podia ser juiz do Supremo, já estava reformado. Mas vim para a Mêda, gostei da terra, das suas gentes e por cá fiquei, não é qualquer um que se afeiçoa por uma terra que não é a sua e cria raízes, amizades. Mas cheguei à conclusão que houve um erro no meu percurso, pelo que aceitei o convite para ser de novo candidato à Câmara desta vez por uma coligação e ganhei. Estou a cumprir o meu mandato e não posso já dizer se vou ou não continuar, isso se verá. Trabalhar numa autarquia não é fácil e mais ainda numa Câmara pequena, que não tem meios. Por exemplo, tive de reativar as piscinas municipais – um dos equipamentos que fiz nos mandatos anteriores, tal como a Casa da Cultura, o parque, as termas, pelo quais tenho um carinho especial e sinto-me muito constrangido por ver tudo isto fechado, parado, e sem ninguém querer saber de nada. Hoje, são frequentadas por muitas pessoas todos os dias e já podem fazer uma refeição no restaurante das piscinas. Houve quem criticasse, mas eu considero que se trata de “desconcorrência” porque se não disponibilizarmos este serviço, com uma ementa única, estamos a perder uma receita. A Câmara já ganhou milhares de euros com este restaurante. Ninguém se lembra da sustentabilidade económica das autarquias, que têm também que trabalhar para gerar receitas e ir buscar dinheiro onde o há. São os nossos equipamentos, como o parque de campismo e as piscinas, que podem ajudar a gestão municipal e o autarca em funções a ter algum dinheiro para gastar e não estar só à espera do FEF porque um dia isto acaba e então quais são as autarquias com possibilidades de subsistirem por si só. Criticam-me por ninguém pagar nas Festas da Cidade, mas é uma tradição, só que com o tempo vão terão de pagar porque quem quer festas tem de pagar. A Câmara apoia também as Juntas de Freguesia, que são os parentes pobres da democracia e só não fazem mais porque não podem. Após tomar posse cheguei à conclusão que tinha pouco pessoal. Era preciso limpar ruas e jardins e não havia pessoal, logo contratei uma empresa local para fazer esse serviço e o problema está resolvido. Atualmente teremos mais de 200 funcionários, é muita gente e não temos dinheiro para pagar a tantos trabalhadores, que estão mal distribuídos em termos das necessidades da autarquia.
P – O que sentiu quando regressou à Mêda 12 anos depois de sair da Câmara a que presidiu durante 24 anos?
R – Quem esteve antes de mim fez o melhor possível, mas tenho que realçar duas ou três coisas. Não houve grande ambição, as pessoas acomodaram-se, não houve realizações e queixavam-se que pouco ou nada se fez nesses 12 anos – também era difícil alguém fazer melhor depois dos meus mandatos, mas quero acreditar que alguma coisa se fez. Simplesmente foi descurada a manutenção de equipamentos como as piscinas municipais e a Casa da Cultura. No entanto, o problema mais grave são as termas, que estão fechadas há uns anos e estamos a tentar reativar. A Câmara, que tem a concessão, assinou um contrato de gestão com uma empresa que acabou por não ter condições para tal. Nós rescindimos esse contrato e estamos a estudar a viabilidade das termas junto da Direção-Geral da Energia e da ERSAR para podermos ter o alvará ou a licença de utilização e reabrirmos. Acho que vão reabrir no espaço de um mês.
P – Falou na falta de ambição, quais são as suas prioridades para este mandato?
R – É a sustentabilidade, que tem a ver com a autonomia financeira do município; o desenvolvimento do concelho, ligado aos projectos e ao seu financiamento. Vamos aderir a uma associação do património romano por causa do Vale do Mouro, na Coriscada, já aderimos à associação das termas. Também aderimos à contratação da “Municipia” que nos vai facilitar o lançamento de concursos e de candidaturas ao PRR. Por exemplo, a Câmara quer comprar duas ou três carrinhas ou autocarros para assegurar as ligações para a Guarda, Trancoso, ou das freguesias para a sede do concelho, que não existem atualmente. Já estamos a trabalhar na possibilidade da Câmara ser a entidade rodoviária municipal. Tem de haver uma rutura com a CIMBSE porque, como está, a Mêda não é beneficiada em termos de transportes intermunicipais, que passam ao lado ou não há. O autocarro para Foz Côa nem sequer passa na cidade fica-se pela EN102. Com este projeto haverá carreiras regulares para Trancoso e talvez para Penedono.
«Candidatámos a construção de 12 habitações sociais ao PRR»
P – Que outros projetos prevê a Câmara candidatar ao PRR?
R – Sinalizámos a construção de doze habitações sociais através do IHRU. A Câmara não tem dinheiro para essa obra e tem que aproveitar esta oportunidade.
P – Como está a construção do novo parque empresarial?
R – É uma obra que herdámos, estava parada e começamos a fazê-la. O parque está a ser construído e vai disponibilizar 23 lotes dentro de um ano. Há muita expetativa para as pessoas e eu não quero cair no mesmo erro da zona industrial 1. Vai haver um regulamento, ao qual os empresários vão ter que se cingir, e um compromisso que terá que ser assinado pelas duas partes que poderá ser revogado caso o investidor não cumpra. É que há sempre muitos malabarismos no meio disto tudo.
P – E tem alguma obra que gostaria de iniciar, concretizar, neste mandato?
R – Há várias. Temos o solar do Abreu, que está próximo dos Paços do Concelho e foi cedido ao município por José Abreu Morais, um grande medense e meu amigo. Vai acolher a área social da Câmara, sendo que o projeto está a ser elaborado. Temos também o problema dos bombeiros. Deve-se construir um novo quartel, pelo que se houver dinheiro vamos tentar fazer essa obra, sempre com a ajuda da autarquia. O dinheiro que já se gastou depois da construção do edifício atual dava para um quartel em condições e fora da cidade, num sítio mais desafogado. Pôr as termas a funcionar é outro objetivo exequível, bem como a parte turística. Marialva é o ex-libris do concelho, onde as pessoas gostam de ir e visitar, e temos de ver isso com muita atenção. Tal como a participação na Expofacic, em Cantanhede. Mêda e Cantanhede estão geminadas desde meados da década de 90 do século passado porque o conde de Cantanhede, D. António Luís de Meneses, era o marquês de Marialva. Ninguém sabe disso, mas foi uma geminação feliz interrompida pelos meus antecessores, que não vislumbraram bem a importância disto. A Expofacic teve 600 mil visitantes, a Mêda teve lá um stand, reiterámos a geminação, promovemos o concelho e alguns dos nossos produtos, como o vinho e umas amêndoas muito originais elaboradas por uma jovem medense. Agora, esperamos que alguns desses milhares de visitantes possam vir conhecer a Mêda. É preciso mostrar, dizer que existimos, se não ninguém cá vem, ainda para mais é uma publicidade barata. Com os meus antecessores não íamos.
P – Na tomada de posse assumiu como objetivo que o concelho atinja os 5.000 habitantes no final do mandato. O que vai fazer para isso?
R – Todas estas medidas de que falei fazem parte disso: a visibilidade, trazer para cá pessoas, arranjar arrendamento acessível e económico, a própria empregabilidade na zona industrial porque há interessados, e essas pessoas vêm para cá. Aumentámos para 25 as bolsas para os estudantes. É pouco dinheiro, mas é uma motivação extra. Assumimos as responsabilidades do RSI, vamos recuperar um edifício para a Segurança Social trabalhar em condições e neste momento acolhemos 25 ucranianos devidamente enquadrados pelo Alto Comissariado para as Migrações. A Mêda é muito hospitaleira e já cá há romenos, ucranianos, e isso tudo vai ajudar. Além disso, todos os anos regressam ao concelho um número grande de pessoas que se reformam na França e na Suíça, onde temos uma geminação com a cidade de Saint Aubin.