Desporto

«Gostava de atravessar o Polo Sul, de costa a costa, em solitário»

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Ângelo Felgueiras, montanhista e aventureiro, foi o primeiro português a pisar o Polo Sul e um dos poucos a subir as mais altas montanhas do planeta*

P – Escalada, alpinismo… o que são e qual a diferença?
R – O alpinismo é uma técnica em que se vai andando e aproximando-nos do cume ou das subidas, uma técnica de progressão tanto vertical como horizontal. A escalada está mais associada à rocha, em que se sobe com as “quatro patas” e está-se pendurado às cordas…

P – Os “Seven Summits” são os sete cumes das montanhas mais altas dos sete continentes…
R – Sim, é isso. Nós limitamo-nos muito a nós próprios e quando fui saber o que eram os “seven summits” perguntei-me, mas porque não sou capaz de os subir? Não é só por serem altos que vou deixar de ser capaz, ou seja, posso decidir não ir, mas não é só porque não sou capaz. Pode não me apetecer e até posso eventualmente não ser capaz, mas tenho que saber se sou ou não.

P – Lembro-me de ver uma entrevista da RTP em que o Ângelo Felgueiras puxava um trenó na praia de Carcavelos…
R – Estava a treinar para ir aos Polos. Arranjei um trenó, carreguei-o de sacos de areia e andei para trás e para a frente na praia. Ia sempre antes do pôr do sol. Numa dessas manhãs começaram uma daquelas aulas de surf matinais para os miúdos e um dos instrutores virou-se preguntou-me se estava a treinar para ir ao Pólo Norte. Respondi que era exatamente para isso e aquilo foi uma risada.

P – Como classifica os sete cumes de um ponto de vista geral, começando pelo Kilimanjaro?
R – Dou-lhe um sete. Foi o primeiro, não percebia rigorosamente nada do assunto e nem máquina fotográfica levei… e foi uma experiência fantástica.

P – No continente europeu temos o Monte Elbrus, na cordilheira do Cáucaso. Como o classificaria?
R – Talvez tenha sido a que menos gostei de subir e dar-lhe-ia um quatro… A montanha é muito suja.

P – E o Monte Denali, com cerca de 6.200 metros, no Alasca, na América do Norte?
R – Dez. É exatamente o oposto. É uma montanha imaculada, muito bonita. Foi a primeira montanha para a qual me preparei.

P – Na Antártida temos o Maciço de Vinson, com 4.900 metros…
R – De zero a 10 é um 12. O Vinson é um pequeno Denali, é de facto uma montanha muito bonita e praticamente deserta.

P – Então e o Everest, que é a montanha mais mediática de todas?
R – Eu diria que é um 9, mas as montanhas que mais me marcaram foram indiscutivelmente o Denali e o Pico, nos Açores, e esta é um quinze. (risos)

P – Não está a ser tendencioso?
R – Nada tendencioso… É muito bonita e todo o ambiente à volta é incrível. Fica a duas horas daqui e é um privilégio tê-la.

P – Qual a aventura que repetiria sem hesitação?
R – O Polo Sul sem hesitação, mas gostava de o atravessar em solitário de costa a costa! Seria uma introspeção maravilhosa… Também gostei muito de visitar o Lama Guechi, no Tibete. Fui lá receber a bênção. Um monge tibetano que aprecia um personagem do Tintim pôs-me as mãos na cabeça, rezou um mantra e disse: “Podes ir. A Montanha vai-te sorrir!”.

*Pode ouvir na íntegra em https://soundcloud.com/altitudefm2

Sobre o autor

Filipe Conceição Silva

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