A Associação de Futebol da Guarda (AFG) escolheu Celorico da Beira para desenvolver o projeto da Academia de Futebol da Guarda (ver pág.12), mas a decisão já foi contestada pela Câmara da Guarda e pelo NDS, clube da cidade mais alta.
O município liderado por Sérgio Costa diz mesmo ter sido «confrontado e surpreendido» com a escolha da AFG submeter à Federação Portuguesa de Futebol a construção de uma academia de futebol em Celorico da Beira. «Foi unicamente pelas declarações prestadas à comunicação social pela AFG que tivemos conhecimento que o anterior executivo da Câmara da Guarda teria apresentado uma candidatura à construção de uma academia de futebol e não houve qualquer passagem de dossier do anterior executivo para o atual», refere a autarquia em comunicado enviado a O INTERIOR. O executivo lamenta que a Associação de Futebol não tenha enviado «nova comunicação» após as autárquicas de setembro para que «as eventuais dúvidas fossem sanadas».
No documento, a Câmara recorda também que o concelho tem «as maiores escolas de formação» do distrito e que «cerca de 70 por cento dos árbitros» são oriundos da Guarda. «Só o NDS possui neste momento perto de 300 atletas, o que a somar aos restantes clubes, mais do que duplica», pelo que «é com tristeza e perplexidade que nos parece assistir a uma tentativa de levar esta situação para caminhos políticos e não caminhos desportivos, sendo do nosso desconhecimento outros quaisquer interesses que estejam por detrás desta decisão», critica o executivo, lembrando que do seu programa eleitoral consta o projeto de criação de uma «cidade desportiva». A autarquia, que reagiu após reunir com os clubes federados do concelho, adianta ainda que vai
informar a FPF da situação.
Também o NDS veio a terreiro contestar a escolha de Celorico da Beira, uma «decisão unilateral que não teve em conta o senso comum», lamenta a direção do clube sediado na Guarda-Gare, para a qual, perante a escassez de espaços desportivos na cidade, a AFG «perde uma oportunidade de contribuir positivamente para o desenvolvimento do concelho da Guarda no que à prática do futebol diz respeito». Isto porque o NDS e a autarquia tinham-se candidatado à construção da academia do futebol distrital. «A pretensão de colocar um piso sintético no campo do Carapito é uma necessidade reconhecida por todos e não um capricho qualquer», sustenta a coletividade em comunicado enviado a O INTERIOR.
Ainda antes destas tomadas de posição, o presidente da AFG, em declarações a O INTERIOR, tinha justificado a escolha de Celorico da Beira para sede da Academia. «A associação enviou atempadamente a todas as Câmaras do distrito uma espécie de caderno de encargos, obtivemos algumas respostas e colocaram-nos questões, mas apenas duas autarquias se mostraram verdadeiramente interessadas, com propostas concretas. Foram Celorico da Beira e Guarda», disse. No caso da sede do distrito, o dirigente revelou que chegou a reunir com o anterior presidente da Câmara, Carlos Chaves Monteiro, mas que as soluções apresentadas eram «inviáveis». «Uma das possibilidades era a compra por parte da AFG de um terreno, que a autarquia pagaria mais tarde. Informei que a Associação não tinha, nem tem, meios para realizar esse negócio porque ficaria temporariamente numa situação financeira difícil», acrescentou.
Ainda de acordo com Amadeu Poço, a outra alternativa era «simplesmente a construção de uma Academia para o NDS e não para a Associação de Futebol da Guarda», uma proposta «completamente inviável» porque a FPF só apoia projetos que contemplem a cedência de teremos às associações distritais para o efeito «por um período de 25 anos, no mínimo». E para haver acordo com a Câmara da Guarda «o NDS teria que ceder à AFG esses mesmos espaços, proposta que foi enviada à autarquia e da qual não obtivemos qualquer resposta», refere o presidente da AFG. Por outro lado, «havia prazos para cumprir e em reuniões com a Câmara de Celorico da Beira foi-nos imediatamente disponibilizado o espaço do atual complexo desportivo municipal, nomeadamente o campo de treinos com todas as infraestruturas anexas para a construção, numa primeira fase, de um campo sintético e ampliação de zonas técnicas e balneários, para além dos terrenos circundantes. Foi-nos logo enviada a Ata da decisão do executivo municipal», acrescenta Amadeu Poço, segundo o qual «perante este cenário, qualquer pessoa se sentiria encaminhado para escolher quem oferecesse melhores condições, ou seja, optar por Celorico da Beira».
Carlos Gomes