Cultura

Um novo modo de «ver» a arte, por Nuno Aparício

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Escrito por Jornal O INTERIOR

Pintor guardense de 24 anos, mais conhecido por Miles, destaca-se pelas suas obras de realidade aumentada

Nuno Aparício, mais conhecido por Miles, tem 24 anos e é já uma promessa no que diz respeito ao mundo das artes. É natural da Guarda e começou a pintar desde criança, motivado pelo pai e pela família, onde o gosto pelo desenho sempre foi uma constante. «Quando dei conta já estava a produzir todos os dias e a não conseguir passar um dia sem pintar», assume o artista.
Na altura de ingressar no ensino secundário, Miles decidiu ir para a área das Artes Visuais, tendo frequentado a Secundária da Sé, mas não foi essa a vertente que decidiu seguir no ensino superior: «Cheguei à conclusão que estar no ensino relacionado com as artes não era de todo o meu caminho porque, no fundo, eu faço arte sem um compromisso», justifica. Nuno Aparício licenciou-se em Design Gráfico pela Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha e obteve o grau de mestre em Design Multimédia pela Universidade da Beira Interior. Atualmente está ainda a tirar o doutoramento em Media Artes, também na UBI, onde aprofunda e investiga a «simbiose» que existe entre a arte e as novas tecnologias.
É nesta área que Miles se distingue. O pintor decidiu unir as suas duas paixões: a arte e o design multimédia num só. A maioria das suas obras podem ser vistas de uma forma animada a partir do telemóvel, bastando para isso descarregar uma aplicação criada pelo próprio. A aposta na realidade aumentada surgiu quase como uma necessidade, pois «não tinha sítios e locais para expor as minhas obras e esta tecnologia veio de alguma forma solucionar o problema», adianta. Nuno Aparício acrescenta ainda que foi também uma forma de captar «um público mais vasto e a exposição das obras virtuais em diversos locais em simultâneo, ou seja, não permitindo a danificação das obras originais».
Só em obras de realidade aumentada, o artista conta já com cerca de 25 trabalhos. A última exposição que fez esteve patente no Museu da Guarda e, para Miles, foi a mais significativa no que diz respeito à realidade aumentada já que permitiu «desdobrar a componente conceptual da obra e de alguma forma também construir uma narrativa a partir da animação, complementada também com o som».
Para além de pinturas em tela, Nuno Aparício destaca-se ainda pela arte urbana, tendo já pintado alguns murais na cidade mais alta e aldeias limítrofes, nomeadamente o que realizou recentemente para a quinta edição do SIAC, que está a decorrer na Guarda. A obra temática será inaugurada esta quinta-feira e tem como principal objetivo estabelecer uma «metáfora visual, de como é possível renascermos sem morrermos, metáfora feita a partir da borboleta, que sai do casulo e não morre, renasce, constrói uma nova etapa da sua vida e acho que é nessa etapa que nós todos estamos agora», disse o artista plástico a O INTERIOR.
Apesar de gostar de ser um artista diversificado, o jovem guardense assume que as pinturas em tela são aquilo que o preenche mais porque surgem «como um processo de meditação», onde consegue «estar num sossego maior, mais concentrado». Apesar da pandemia ter afetado o seu processo criativo, «do ponto de vista conceptual veio alimentar de alguma maneira as temáticas e os motivos pelos quais as obras se prendem, mais na perspetiva de me permitir pensar e refletir, uma vez que a minha obra também tem muito de autobiográfico, faz repensar a nossa condição no mundo, de que nada é certo, de que nada é fechado», argumenta Nuno Aparício.
No futuro, o artista quer continuar a apostar na investigação que liga o mundo das artes ao mundo da tecnologia, nomeadamente perceber «como é que, a partir de uma obra artística, se consegue prender a atenção do espetador por um maior espaço de tempo, seja a partir de tecnologias digitais, seja a partir de outras componentes. Ou seja, como é que a arte pode criar um interesse real no espetador».
Por enquanto, Miles irá continuar a aparecer por aí, seja numa parede, ou num quadro exposto algures pela cidade da Guarda.

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Jornal O INTERIOR

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