Cultura

O futuro da região visto pelos alunos

Foto Vencedor
Escrito por Efigénia Marques

CEI e CIMBSE entregaram prémios do concurso “Fronteiras da Esperança” a estudantes e escolas da região

O Centro de Estudos Ibéricos (CEI) e a Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIMBSE) entregaram, na sexta-feira, os prémios da segunda edição do concurso “Fronteiras da Esperança: Minha Terra, Meu Futuro” destinado aos alunos e escolas do primeiro ciclo ao ensino secundário da região.

Micael Marques, aluno do 12º ano da Secundária de Pinhel, foi o vencedor do desafio com o trabalho “Pontos de vista”, cuja memória descritiva refere que «todos os povos e culturas são multiplicidade de “tempos” sendo estes que condicionam a relação com o futuro», uma citação de Eduardo Lourenço, retirada do livro “A Nau de Ícaro Seguido de Imagem e Miragem da Lusofonia”. O premiado adianta que, «como pastor nos tempos livres, tenho percorrido os campos e montes de Gamelas, a minha aldeia no concelho de Pinhel. Todos os dias encontro uma nova forma na rocha granítica. Imagino-as como lebres a preguiçar, como pastores com o seu cajado ao ombro ou como aves».

O vencedor acrescenta que foi na disciplina de Ciências que aprendeu que a erosão provocada pelo vento, água, calor e frio intenso «é responsável» pela “criação” daquelas variadas formas. «Fotografei algumas das pedras que achei mais curiosas, que vieram do passado e que aqui vão continuar por muitos milénios», sublinha Micael Marques. O trabalho vencedor foi coordenado pelo professor Carlos Franco (Artes Visuais) e teve o apoio de Manuel Sabino Perestrelo, professor da Biblioteca Escolar. Quanto às escolas, o primeiro lugar foi também para a Secundária de Pinhel e na segunda posição ficou a Escola Secundária Frei Heitor Pinto (Covilhã).

Segundo os promotores, este concurso pretende «estimular a reflexão dos jovens estudantes sobre os recursos e as dinâmicas territoriais, levando-os a refletir sobre as perspetivas que se abrem para o futuro coletivo da região». A iniciativa integra o Plano de Combate ao Insucesso Escolar e foi financiado pelo programa Centro-2020, tendo tido três temas: “Leituras e (re)interpretações do território: diagnósticos prospetivos”; “Escrita, literatura e território: trabalhos de expressão literária” e “Arte e território: trabalhos de expressão artística”. A lista dos premiados pode ser consultada em https://www.cei.pt/premiados-2021/ . Nesta sessão foi ainda lançado um catálogo e inaugurada uma exposição com os trabalhos premiados, que estará patente até 11 de março no “foyer” do grande auditório do TMG.

Vencedor quer ajudar pais na agricultura

Residente em Gamelas, pequena aldeia do concelho de Pinhel, Micael Marques tem 19 anos e completou o 12º ano no último ano letivo. Em declarações a O INTERIOR, logo após receber a distinção, o jovem falou dos objetivos para futuro, que não passam por continuar os estudos.

«Não estou a pensar em ir estudar para fora, para a faculdade. Os meus pais também não têm meios financeiros para me poderem ajudar e por isso prefiro ficar por cá», revela Micael Marques, cujo dia-a-dia é «ajudar os meus pais na agricultura, costumo andar com o rebanho, principalmente ao fim de semana, de manhã e à tarde. Não é fácil conseguir tempo para estudar, mas tenho conseguido, porque os meus pais dispensam-me um bocadinho e deixam-se sair um pouco mais cedo quando ando com o rebanho». José Vaz, diretor do Agrupamento de Escolas de Pinhel, considera que «se a atividade agrícola é sua paixão temos que respeitar a vontade e perceber que esta profissão é tão válida como qualquer outra». Na sua opinião, «seria melhor que o Micael obtivesse uma formação/qualificação superior para concretizar outras ambições, mas temos que aceitar a sua decisão».

Quanto à iniciativa “Fronteiras da Esperança: Minha Terra, Meu Futuro”, José Vaz considera que este tipo de atividades é «extremamente importante para os alunos adquirirem conhecimento e também para os territórios onde vivem». O diretor do Agrupamento de Pinhel sublinha ainda que «as escolas devem estar comprometidas com o território. Todos nos vamos lamentando, mas é preciso perceber que se elevarmos a nossa autoestima e a transmitirmos aos alunos, tornando-os mais criativos, motivados, empenhados neste desiderato coletivo, o futuro deste território será mais risonho. Estes projetos são uma alavanca. É também por aqui que deve assentar a motivação dos nossos estudantes».

 

Carlos Gomes

Sobre o autor

Efigénia Marques

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