Cultura

«Eugénio de Andrade era capaz de perder a vida à procura de um verso»

Eugénio
Escrito por Efigénia Marques

A afirmação é de António José Dias de Almeida, antigo professor de Português na Secundária Afonso de Albuquerque, na Guarda, a propósito da obra poética de Eugénio de Andrade, cujo centenário do nascimento se está a comemorar.
Nascido em janeiro de 1923, na Póvoa da Atalaia (Fundão), Eugénio de Andrade (pseudónimo de José Fontinha Neto) está a ser homenageado no seu concelho natal e no Porto. Para António José Dias de Almeida, o autor «merece um lugar no pódio da poesia dos poetas portugueses contemporâneos». O professor de Português recorda que «o primeiro livro que escreveu foi o “Adolescente”, sobre Fernando Pessoa, mas deixou essa obra fora da sua bibliografia», pelo que «o primeiro livro de Eugénio de Andrade foi “As mãos e os frutos” e o último “Os Sulcos da Sede”». O antigo professor não deixa de referir a O INTERIOR que «é evidente que Eugénio de Andrade é muito mais conhecido como poeta, mas a sua prosa é cheia de ritmo e bem curiosa». Nota, de resto, que na sua obra tinha uma «grande preocupação de fazer a sua poesia com simplicidade – que por vezes é uma coisa complicada». António José Dias de Almeida recordou que, nas suas aulas, quando lecionava e ensinava Eugénio de Andrade «procurava incutir precisamente a preocupação que o poeta tinha de tentar passar para o leitor um tónus de simplicidade». Tarefa que «é simples para nós, mas é complicada para o autor» ao ponto de afirmar que «Eugénio de Andrade era capaz de perder a vida à procura de um verso», lembrou o antigo docente.
No Fundão, as comemorações incluem exposições, concertos, arte urbana, documentários, colóquios, debates, leituras e projetos de criação artística. A efeméride será também assinalada com a construção de uma sala de leitura projetada pelo arquiteto Siza Vieira, na Póvoa da Atalaia. Eugénio de Andrade faleceu em 2005, no Porto, aos 82 anos. A sua extensa poesia é fortemente marcada pela mãe – pessoa que mais o marcou em toda a sua vida – e pelos momentos passados na sua terra beirã durante a infância. «A minha ligação à infância é, sobretudo, uma ligação à minha mãe e à minha terra, porque, no fundo, vivemos um para o outro», escreveu um dia Eugénio de Andrade, que se mudou em 1932 para Lisboa com a mãe. Foi aí que José Fontinhas escreveu, em 1939, o seu primeiro poema, “Narciso”. Seguem-se “Pureza” (1942) e “Adolescente” (1945), mas é com “As Mãos e os Frutos”, em 1948, que alcança o sucesso e marca profundamente a poesia portuguesa.
Depois disso, seguiu-se uma carreira vasta e rica em poesia, na prosa, ensaios, tradução e na antologia, para além da participação em muitas publicações literárias de renome como “Mundo Literário”, “Seara Nova” e “Vértice”. Um sucesso que soube conciliar ao mesmo tempo que exercia as funções de inspetor administrativo do Ministério da Saúde até 1983. Devido a esse cargo, Eugénio de Andrade mudou-se em 1950 para o Porto, a sua cidade adotiva desde então. Foi galardoado com o Prémio Camões 2001 e é atualmente um dos poetas portugueses mais divulgados no mundo, já que a sua obra poética e de prosa está traduzida e editada na Alemanha, China,

Sobre o autor

Efigénia Marques

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